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Powell na Europa: divergências permanecem

lk3 de abril de 2003

Na primeira visita do secretário de Estado norte-americano à Europa desde o início da campanha militar no Iraque, a aproximação não desfez as divergências quanto ao papel das Nações Unidas.

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Secretário de Estado norte-americano no quartel-general da Otan em BruxelasFoto: AP

Diplomatas constataram uma melhora da atmosfera entre os EUA e a Europa, na primeira conferência transatlântica desde o início da guerra no Iraque há duas semanas. O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), George Robertson, falou de um "consenso crescente", após o encontro do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, e 23 ministros do Exterior de países membros da União Européia e da Otan, nesta quinta-feira (03/04), em Bruxelas.

Powell mostrou-se otimista: "Um dia muito exitoso, na minha opinião". Apesar das diferenças, todos pretendem chegar a um consenso, em interesse do povo iraquiano. Declarações de boa vontade que não são suficientes para esconder as divergências que permanecem entre os dois lados.

Papel da ONU

"Cada um de nós acentuou a relevância das Nações Unidas em cada fase da crise do Iraque", ressaltou o ministro do Exterior da Grécia e atual presidente do Conselho da UE, Georgios Papandreou. Até mesmo o ministro do Reino Unido, Jack Straw, aderiu a esta linha de pensamento e falou de um "papel central da ONU".

O ministro alemão, Joschka Fischer, afirmou que só a ONU tem a legitimação e a experiência necessárias para a superação da crise no Iraque, acrescentando: "Neste ponto, houve grande concordância entre os europeus".

Já Colin Powell foi mais evasivo: as Nações Unidas terão um papel a desempenhar depois da guerra, mas ainda será preciso esperar para ver qual será esse papel. Claro está, para o secretário de Estado norte-americano, que os generais da aliança que faz a guerra serão responsáveis pela estabilização da região depois que a guerra terminar:

"Caberá à coalizão o papel decisivo na determinação do caminho a seguir seguido depois", disse claramente Colin Powell. Afinal, a coalizão, isto é, principalmente americanos e britânicos, teriam feito grandes sacrifícios, pagando seus esforços com vidas humanas e dinheiro. Que os europeus não estão dispostos a aceitar, ficou implícito na declaração de Fischer: "Foi um debate que sem dúvida a gente ainda vai precisar levar adiante".

OTAN no Iraque?

A caminho de Bruxelas, Powell anunciara que o objetivo de sua viagem era "incluir toda a comunidade internacional" nos empenhos de reconstruir o Iraque após décadas de destruição durante o regime de Saddam Hussein. Os outros países que participaram do encontro, porém, não vêem nenhuma necessidade de tratar disto no momento.

Se Powell estava hesitante quanto à participação da ONU no Iraque do pós-guerra, ao contrário dos europeus, no tocante à OTAN deu-se o contrário. Segundo o chefe da diplomacia americana, após o encontro, "todos estão dispostos a cogitar a participação da OTAN numa missão de paz. Eu não perguntei expressamente, mas não ouvi nada contra".

O secretário-geral, o britânico Robertson, foi mais cauteloso: "alguns são a favor de um certo papel da OTAN, e ninguém o exclui totalmente". No entanto, essa seria apenas uma parte da verdade, segundo diplomatas. Não se perguntou realmente quem é a favor e quem é contra.

Joschka Fischer bei der NATO
Joschka Fischer na OtanFoto: AP

O ministro alemão Joschka Fischer, porém, manifestou sérias dúvidas quanto a uma operação da OTAN após a guerra. É claro que "só dá para fazer especulações muito abstratas a este respeito, enquanto os combates continuam", afirmou.

Ao que tudo indica, uma boa parte dos europeus não quer assinar um cheque em branco para um governo de transição no Iraque, a ser instalado pela "coalizão dos dispostos", quando é fato sabido que os EUA começaram a guerra sem planos para tal e não há o menor denominador comum entre os exilados iraquianos.

Mas apesar das diferenças substanciais, os europeus fazem um balanço positivo do encontro. Como afirmou o ministro alemão, "diante do transcurso dramático da guerra", é certo e importante que a diplomacia passe novamente para o primeiro plano.