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HistóriaAlemanha

O sofrimento infindável das vítimas de uma ditadura

Clarissa Schimunda Neher
Clarissa Neher
30 de novembro de 2020

Estudo analisou impactos remanescentes da perseguição sofrida por vítimas do regime comunista em Brandemburgo e concluiu que, mais de 30 anos depois, pobreza e problemas de saúde afetam até hoje os perseguidos.

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Fachada de antiga prisão da Stasi em Berlim
Antiga prisão da Stasi em Berlim foi transformada em museuFoto: picture-alliance/Bildagentur-online/Joko

Algo que sempre me impressionou na Alemanha é a importância dada no país à reflexão crítica sobre sua história e sociedade. Ao dar nomes aos fatos, expor os horrores e buscar que esse passado esteja sempre presente e jamais seja esquecido, procura-se evitar que os crimes históricos voltem a se repetir no futuro.

Essa reflexão histórica, voltada a determinar as consequências do passado para a época e para os dias atuais, não é feita somente sobre o nazismo, mas também sobre o longo período em que o país esteve dividido e no qual uma nova ditadura reinou na República Democrática Alemã (RDA), de regime comunista.

Na semana passada, foram apresentados os resultados de um estudo inédito no estado de Brandemburgo, no Leste alemão, sobre os impactos de longa data da ditadura do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) na vida das vítimas desse regime. A pesquisa revelou que, mais de 30 anos depois da queda do regime comunista, grande parte daqueles que foram perseguidos sofre até hoje com as consequências daquela perseguição.

Para o estudo, foram entrevistadas 533 pessoas. A grande maioria era de vítimas que estiveram presas, foram perseguidas pela Stasi (a polícia secreta da Alemanha Oriental) ou sofreram algum tipo de retaliação do regime, mas também foram ouvidos alguns familiares de vítimas.

O estudo revelou, principalmente, que as vítimas do regime comunista sofrem até hoje impactos econômicos e problemas de saúde derivados da perseguição.

Entre os entrevistados, 57% afirmaram ter problemas de saúde, sendo 38% destes dizendo ter problemas físicos e 70%, problemas mentais. As vítimas têm, especialmente, dificuldade em confiar em terceiros. Um em cada três entrevistados disse ainda não ter com quem conversar sobre os traumas daquele período. Entre aqueles que têm essa possibilidade, a maioria diz ser muito doloroso falar sobre o assunto.

A perseguição que sofreram pela ditadura também se reflete até hoje economicamente na vida das vítimas, que são mais ameaçadas pela pobreza do que o resto da população. Muitos perderam empregos ou foram proibidos pelo regime de estudar ou fazer um curso técnico. Assim, de acordo com o estudo, a renda dos entrevistados está abaixo da média da população alemã.

Dois terços dos entrevistados vivem muito próximo do limite da pobreza, que em Brandemburgo está estipulado numa renda domiciliar mensal de 1.135 euros por mês (cerca de 7.300 reais). Quase metade das vítimas, 46%, tem renda mensal menor do que 1.500 euros – em comparação com a população do estado, apenas 21% dos moradores de Brandemburgo estão nessa faixa de renda. Já 27% das vítimas vivem com menos de 1.000 euros por mês.

O estudo revelou um aspecto positivo: as vítimas da ditadura valorizam mais a democracia do que a média da população do estado.

A partir do estudo, Brandemburgo pretende agora assumir sua responsabilidade histórica e desenvolver políticas públicas para ajudar as vítimas. "Há muitos campos nos quais as pessoas precisam de apoio para melhorar a sua situação de vida. O próximo passo será identificá-los e traduzi-los em propostas práticas de ações políticas e da sociedade civil", destaca a encarregada para analisar os impactos da ditadura comunista em Brandemburgo, Maria Nooke.

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Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter.

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Checkpoint Berlim

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Nesta coluna, ela escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.