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Vacinação a passos lentos em Berlim

Clarissa Schimunda Neher
Clarissa Neher
19 de abril de 2021

Atrasos na entrega de doses, burocracia e liberdade de escolha da vacina estão entre fatores que têm emperrado campanha de imunização contra a covid-19 na capital da Alemanha.

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Centro de vacinação em Berlim
Berlim montou grandes centros de vacinação Foto: Hannibal Hanschke/dpa/picture alliance

Quando começaram a sair as primeiras notícias de que uma vacina contra a covid-19 estava para ser aprovada na Europa, a esperança por um fim da pandemia em breve foi geral. No início de dezembro passado, o Reino Unido deu largada à imunização em massa, e, no fim do mês, foi a vez da Alemanha. A expectativa era tanta que poucos pensaram, naquele momento, que a vacinação andaria tão lenta como vem ocorrendo.

Essa lentidão tem motivos bem diferentes dos do Brasil, onde a campanha tem avançado a passos lentos principalmente devido ao descaso inicial do governo federal em relação à vacinação. No ano passado, o governo do presidente Jair Bolsonaro rejeitou imunizantes de diferentes laboratórios, apostando todas as fichas apenas em um (Oxford/AstraZeneca) e chegando a menosprezar em diversos momentos a Coronavac, que é atualmente a vacina mais aplicada no país - 80% de todas as doses. Sem essa vacina, produzida pelo Instituto Butantan, o Brasil estaria, com certeza, numa situação bem pior.

A escassez de doses também é um dos motivos para a lentidão da vacinação por aqui, mas as razões para essa falta de vacinas são diferentes. Desde o início, a União Europeia (UE) investiu na pesquisa e compra de vacinas, mas não num volume tão grande quanto o Canadá ou os Estados Unidos, que adquiriram doses para vacinar quatro ou cinco vezes toda a sua população. Na hora da entrega por aqui, as farmacêuticas mostraram que acabaram vendendo muito mais do que têm capacidade de produzir e anunciando que não seriam capazes de fornecer todas as doses encomendadas no prazo inicialmente estabelecido. O bloco europeu chegou a acionar um mecanismo para evitar que empresas que não estão cumprindo seus contratos enviem vacinas produzidas na Europa para outros países.

Somam-se a isso controvérsias envolvendo a vacina de Oxford/AstraZeneca: num primeiro momento, ela não foi recomendada na Alemanha para maiores de 65 anos devido à falta de estudos nesta faixa etária. Quando liberada, gerou certa apreensão entre alguns idosos, que preferiam receber outro imunizante.

Depois, começaram a surgir relatos de casos raros de trombose entre vacinados mais jovens, o que levou à suspensão do uso da vacina de Oxford/AstraZeneca - medida que considero correta, principalmente num país onde há um forte movimento antivacina. Com a paralisação, o governo alemão mostrou que leva à sério a questão e que não pretende colocar a população em uma situação de risco.

Após a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reforçar que o imunizante é seguro e recomendar sua utilização, em meados de março, a Alemanha retomou o uso da vacina, mas acaboulimitando a aplicação a somente pessoas com mais de 60 anos.

Além da apreensão em relação à vacina vacina de Oxford/AstraZeneca, aspectos burocráticos também têm emperrado a imunização na Alemanha. As campanhas no país são realizadas a nível estadual seguindo a prioridade determinada pelo governo federal. As cidades não possuíam uma estrutura que possibilita a vacinação em massa como existe no Brasil. Antes da covid-19, quem precisava de vacina ia ao médico, geralmente clínico geral, que fazia a aplicação. Em imunizantes mais específicos, como contra febre amarela, era preciso ir até hospitais com institutos de medicina tropical.

Agora, em Berlim, tiveram que preparar do dia para noite centros de vacinação, o que ocorreu relativamente rápido. Diversos espaços foram abertos na cidade. Com tudo pronto, quem estava no início da fila, começou a receber cartinhas da prefeitura com um código para poder marcar horário, pela internet ou telefone, para ser vacinado – o que muitas vezes complicou a vida de idosos, pois nem sempre as centrais telefônicas estavam disponíveis.

Outro problema que tem atrasado a vacinação em Berlim é possibilidade de escolha do imunizante. Milhares de doses do de Oxford/AstraZeneca estavam encalhadas na cidade, pois grande parte de quem estava na vez de ser imunizado optava pela vacina da Pfizer-Biontech ou Moderna. Com a suspensão da aplicação da vacina de Oxford/AstraZeneca em menores de 60 anos, essa situação piorou, pois muitos idosos continuam recusando a vacina. E quem está no atual grupo prioritário e tem menos do que 60 anos só consegue atualmente um horário para ser vacinado no final de junho – mais de dois meses de espera!

Especialistas de saúde têm pedido ao governo local que reveja a possibilidade de escolha do imunizante e têm feito apelo aos idosos que optem pela de Oxford/AstraZeneca. Mas, para muitos, solidariedade não é o forte, e em momentos que a exigem, o egoísmo fala mais alto... É difícil deixar uma decisão destas nas mãos de cada cidadão.

Até agora, a Alemanha vacinou pouco mais de 19% da população com uma dose e 6,5% com as duas doses necessárias. Se continuar nesse ritmo, vai ser difícil a chanceler federal Angela Merkel cumprir a promessa de que até setembro toda a população adulta do país receberá uma oferta para tomar pelo menos a primeira dose do imunizante.

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Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter.

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Checkpoint Berlim

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Nesta coluna, ela escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.