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O Brasil na imprensa alemã (17/11)

17 de novembro de 2021

Mídia da Alemanha destaca alta taxa de imunização contra a covid-19 no Brasil apesar da "má gestão" de Bolsonaro, um "opositor ferrenho" das vacinas. Jornal entrevista Lula em sua visita à Europa.

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Homem de máscara carrega cartaz escrito "Vacina e impeachment" em protesto contra Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, em 24 de julho de 2021
"O sucesso da vacinação com o qual a Alemanha só pode sonhar", diz jornal sobre aceitação dos brasileiros à vacinaFoto: Ricardo Moraes/REUTERS

Die Welt – O sucesso da vacinação com o qual a Alemanha só pode sonhar (17/11)

Embora o país seja governado pelo ferrenho opositor da vacinação Jair Bolsonaro, as taxas de imunização em cidades como São Paulo chegam a 99% [população com mais de 12 anos que tomou a primeira dose]. Os estados desarmaram sozinhos aqueles que se opunham à vacinação – com uma estratégia inteligente.

Naquele dia de novembro, a notícia pipocou em quase todos os celulares brasileiros: "Nenhuma morte por covid-19 em São Paulo." Foi um dia especial para a metrópole de milhões de habitantes. Afinal, a mortífera onda do coronavírus, que já custou a vida de mais de 610.000 pessoas no Brasil até o momento, teve sua origem na capital paulista. Uma tragédia anunciada, já que muitas pessoas em São Paulo vivem em grandes favelas. Nas construções altas e apertadas, eles não tinham nada para conter o vírus.

Mas então veio o resgate: a vacina. E, ao contrário da Alemanha, o povo a aceitou de forma generalizada, em todas as classes da sociedade. De acordo com o jornal diário Folha, 99% dos habitantes oficialmente registrados em São Paulo com mais de 12 anos de idade receberam ao menos a primeira dose da vacina.

Como turistas de outros estados brasileiros também se deslocaram para São Paulo para se vacinar, as estatísticas de vacinação mostram até 107% da população acima de 18 anos vacinada com a primeira dose. Tudo isso leva a resultados concretos: "A diminuição das mortes é claramente devida ao aumento da taxa de vacinação", diz a epidemiologista Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo, em entrevista ao Welt.

[...] A principal razão para a melhoria significativa da situação em São Paulo, bem como no Rio de Janeiro, onde a taxa de vacinação com a primeira dose também está acima de impressionantes 94%, é a intervenção corajosa dos governos estaduais. Ao fazer isso, eles se opuseram ao curso antivacina do presidente populista de direita Jair Bolsonaro.

Bolsonaro sabotou a gestão da saúde desde o início da pandemia. Ele zombou publicamente de possíveis efeitos colaterais, desgastou três ministros da Saúde e até agora pagou "multas" no valor de R$ 80 mil por não usar máscara facial [quando era obrigatório].

Süddeutsche Zeitung – De criança problema a milagre da vacinação (14/11)

Durante meses, somente notícias sombrias sobre o coronavírus vinham do Brasil. Agora, há poucas mortes, e as restrições podem ser retiradas – e isso apesar da má gestão do presidente Bolsonaro.

[...] 8 de novembro de 2021: pela primeira vez em um ano e meio, as estatísticas da covid-19  mostraram zero mortes na segunda-feira da semana passada. Assim, em toda São Paulo, ninguém tinha morrido de coronavírus nas últimas 24 horas – e há poucas dúvidas sobre a razão desse sucesso: a taxa de vacinação enormemente alta.

Estima-se que 46 milhões de pessoas vivem no estado de São Paulo, e mais de 90% de todos os habitantes com mais de 18 anos estão agora totalmente vacinados. Em termos puramente matemáticos, não há um adulto que não tenha recebido pelo menos uma dose contra o patógeno: mais de 100%, dizem as estatísticas. Mas mesmo que esse número esteja provavelmente distorcido pelo crescimento da população e os turistas de vacina, uma coisa é clara: aqueles que recusam a vacinação são uma minoria cada vez menor, não apenas em São Paulo, mas também no Rio de Janeiro, assim como em muitos outros estados brasileiros. Apenas 5% dos brasileiros dizem que não querem se vacinar – e a aceitação está aumentando em vez de diminuir.

Tudo isso é espantoso, ainda mais quando se considera que o governo federal brasileiro costuma diminuir os perigos do vírus. E mais: até mesmo advertiu contra os supostos riscos das vacinas. Não se assumirá a responsabilidade por quaisquer efeitos colaterais, disse o presidente Jair Bolsonaro no final do ano passado: talvez barba pudesse crescer em mulheres, homens começassem a falar fino! E quem sabe no final até se transformassem em jacaré?

É claro que nada aconteceu. O Facebook apagou recentemente um post do presidente em que ele associava as vacinas [contra a covid-19] ao vírus HIV. E mesmo que Jair Bolsonaro ainda não tenha se vacinado, pelo menos oficialmente, muitos membros de seu governo há muito tempo foram imunizados, desde ministros até o vice-presidente. Até mesmo os filhos de Bolsonaro estão agora vacinados, assim como a primeira-dama. Em resumo: o presidente está ficando solitário.

Há várias razões pelas quais tantos brasileiros querem ser ou já foram vacinados, apesar da resistência do chefe de Estado. Em primeiro lugar, há o sistema de saúde pública e a confiança que muitas pessoas no país depositam nele. Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) tenha algumas enormes deficiências, ele tem feito muito pelo cuidado com a saúde dos brasileiros nas últimas décadas.

E acima de tudo, as campanhas de vacinação são um pilar importante: hoje existem postos de vacinação mesmo nas menores comunidades no interior e, se necessário, profissionais chegam a viajar de barco até as profundezas da Amazônia. Há um mascote próprio, o Zé Gotinha, uma figura alegre em forma de gota que toda criança do país conhece hoje em dia.

As vacinas são um direito, não um dever, é o que muitas pessoas no Brasil enxergam. Não um perigo, mas um benefício em uma região onde epidemias e doenças já eram uma séria ameaça muito antes do coronavírus: da febre amarela à malária, zika, dengue e doença de Chagas.

Der Tagesspiegel – "Precisamos reconstruir o Brasil" (16/11)

[Entrevista] Lula da Silva fala sobre as mentiras de Bolsonaro, a alta taxa de vacinação [no Brasil], o desmatamento tropical e seus planos de se tornar presidente novamente.

Martin Schulz, presidente da Fundação Friedrich Ebert, conhece há muitos anos o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, e o SPD mantém estreitos contatos com o Partido dos Trabalhadores (PT). Quando Lula estava preso sob acusações de corrupção em conexão com uma compra de imóvel, Schulz o visitou lá em Curitiba. Agora Lula está de visita [à Alemanha] com uma grande comitiva. Aos 76 anos, ele quer se tornar presidente novamente e já tem ideias claras sobre como angariar o possível chanceler federal alemão Olaf Scholz para salvar a floresta tropical.

Luiz Inácio Lula da Silva e Martin Schulz
Lula se reuniu com Martin Schulz em Berlim na semana passadaFoto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Sr. Lula da Silva, o Brasil ocupa o segundo lugar em número de mortes por covid-19. Mas como há vacinação suficiente, a pandemia parece estar dominada. Por que o Brasil está melhor do que a Alemanha nisso?

Temos uma grande cultura, uma tradição de vacinação através de nossa experiência com doenças. Eu era presidente quando a gripe suína H1N1 surgiu. Em três meses, vacinamos 83 milhões de pessoas, a mesma população da Alemanha. Poderíamos ter vacinado muito mais pessoas até agora se tivéssemos mais vacinas, se não tivéssemos um presidente criminoso que não quer proteger seu povo. A população está acostumada a ser vacinada quando há um vírus, então praticamente não há discussão. Eu não quero continuar fazendo esses testes em que eles te cutucam o nariz e a boca. Eu amo minha vida e a vida dos outros. O primeiro objetivo é não transmitir o vírus. Vacinem-se, é necessário.

Você quer ser presidente novamente, como explica o fato de o Brasil eleger Jair Bolsonaro, um extremista de direita, depois que o PT esteve no poder?

Esse político de extrema direita só ganhou a eleição depois de uma farsa histórica que derrubou a presidente democraticamente eleita Dilma Rousseff. As mentiras que foram espalhadas sobre ela durante o processo de impeachment ajudaram a colocar um fascista como Bolsonaro no poder. Tudo o que aprendemos sobre democracia, humanismo e solidariedade está sendo negado. Estamos vivendo uma anomalia da democracia, e isso está ligado às anomalias que aconteceram nos Estados Unidos. Foi uma eleição que não teria sido possível sem mentiras e notícias falsas. O candidato com mais chances, de acordo com as pesquisas, era eu, mas fui impedido de concorrer.

Por que você deveria, aos 76 anos, ser a pessoa certa para um novo começo no Brasil?

Não sei se sou a pessoa certa, mas meu partido me quer. O povo decidirá. Eu gostaria muito que concorrêssemos com muitos candidatos mais jovens. Tomarei a decisão sobre minha candidatura em março. O Brasil está numa situação difícil, muito pior do que em 2003, quando tomei posse. Hoje temos mais desempregados, mais pobreza, menos Estado do que antes, menos seguridade social. Tudo o que conseguimos foi destruído. Temos que reconstruir o Brasil. Se eu voltar a ser presidente, tenho a obrigação de fazer mais do que nunca, especialmente de cuidar mais das pessoas mais necessitadas novamente. Você tem que agir como uma mãe que cuida dos mais fracos. A política social é um investimento na saúde e na educação dos cidadãos, na qualidade dos alimentos e na estabilidade democrática. Se conseguirmos formar uma aliança para isso com outros partidos, então será um prazer para mim voltar a ser presidente do Brasil.

ek/lf (ots)