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O Brasil na imprensa alemã (01/06)

1 de junho de 2022

Mídia alemã destaca denúncia de trabalho escravo em solo brasileiro durante a ditadura militar, chuvas torrenciais em Pernambuco, violência policial no caso Genivaldo e clima tenso antecipando eleições de outubro.

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A foto, em preto e branco, mostra vários veículos Fusca estacionados em frente a uma unidade da Volkswagen no Brasil.
Denúncias de trabalho escravo durante anos 70 envolvem a VolkswagenFoto: Volkswagen do Brasil

Süddeutsche Zeitung – Nossa fazendinha: denúncia contra a Volkswagen no Brasil (29/05)

Após denúncias por reportagens publicadas pelas emissoras alemãs NDR, SWR e o jornal Süddeutsche Zeitung no último domingo, o Ministério Público abriu uma investigação contra a subsidiária da Volkswagen no Brasil. As denúncias apontam que a companhia violou sistematicamente direitos humanos na assim chamada "Fazenda Volkswagen".

Entre 1974 e 1986, a fazenda foi administrada pelo suíço Friedrich Georg Brügger. A denúncia indica servidão em troca de dívidas, tráfico humano e exploração de trabalho escravo. O que Brügger descreve como seu emprego dos sonhos foi, aparentemente, um pesadelo para centenas de trabalhadores.

[...]

Antes de retornar para sua terra natal, a Suíça, em 2017, Brügger viveu quatro décadas no Brasil. Antes, havia estudado agronomia e morado em outros países. Nos anos 60 gerenciou uma fazenda leiteira na Eritreia. Depois, atuou como gerente de projetos na Mauritânia, Senegal, Mali, Peru e Bolívia.

Nos anos 70, conseguiu o que denomina seu "emprego dos sonhos", isto é, um contrato com a subsidiária brasileira da empresa automobilística alemã Volkswagen para construir uma fazenda de gado na Bacia Amazônica, no estado do Pará. Tudo isso com um grande abatedouro, câmaras frigoríficas e uma fábrica de conservas.

Na época o Fusca havia se tornado o principal produto industrial do Brasil, e os gerentes da Volkswagen supostamente imaginaram que aquele milagre econômico tropical poderia ser expandido – o que funciona com carros também deve funcionar com carne. O fato de esse investimento ter ocorrido durante os anos mais obscuros da ditadura militar brasileira não parece incomodar nem Brügger nem a Volkswagen.

"Todos que conheceram a fazenda naquela época estavam entusiasmados", diz Brügger.

Já é desagradável o suficiente a VW ter trabalhado com gado no Brasil. Mas agora cresce a suspeita de que os trabalhadores temporários [da fazenda] também eram mantidos como escravos.

Não se trata de forma alguma apenas da questão aberta da culpa de um velho caubói, mas também de um dos capítulos obscuros da história econômica da República Federal da Alemanha.

O promotor encarregado, Rafael Garcia, [...] diz que "os funcionários tinham que trabalhar sete dias por semana, mais de dez horas por dia, sem qualquer pagamento. Eles eram submetidos a violências, eram impedidos de sair da fazenda". Garcia tem certeza: "Era uma forma de escravidão moderna."

É difícil descrever a reação de Brügger depois que ele foi confrontado com detalhes da investigação. [...] Às vezes, contesta tudo, às vezes apenas sua responsabilidade pessoal. Outras vezes, culpa as circunstâncias da época. Às vezes faz piadas de escravos, às vezes se mostra agressivo, às vezes é educado e cordial.

Sobre a investigação, diz: "Absurdo completo. Dito em termos muito simples. Não corresponde em nada aos fatos." No entanto, também emenda: "Quando mil homens estão aglomerados, é óbvio que as coisas nem sempre são tranquilas. Especialmente no meio da selva."

Süddeutsche Zeitung – Desastre anunciado: as chuvas no Nordeste (31/05)

As fortes chuvas que atingem o Nordeste do Brasil desde a semana passada estão lentamente diminuindo – e, ao mesmo tempo, a extensão da destruição causada pelas tempestades se torna cada vez mais visível.

Nos estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, muitas estradas estão inundadas, rios transbordaram e encostas inteiras caíram. Os deslizamentos de terra destruíram centenas de casas, e milhares podem ter ficado desabrigados. Em Recife, a capital de Pernambuco, o estado mais atingido, as escolas foram convertidas em centros de emergência.

O verdadeiro problema, no entanto, é que os deslizamentos e as inundações no Nordeste do Brasil são apenas mais um, numa série de desastres semelhantes que ocorrem em todo o país. Depois das graves secas no ano passado, o Brasil tem sido atingido por fortes chuvas há vários meses. Nos estados do Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, enchentes e deslizamentos também deixaram vários mortos.

A maioria dos especialistas acredita que as razões para tal estejam relacionadas às mudanças climáticas. "Temos que estar preparados, porque esses fenômenos devem se tornar mais frequentes", advertiu o meteorologista brasileiro Carlos Nobre no final de 2021, após graves inundações na Bahia: "Esta é a resposta do planeta ao aquecimento global."

Der Spiegel – Torturado, baleado, sufocado: o caso Genivaldo (30/05)

Na manhã da última quarta-feira, Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, marido, pai de um filho de sete anos, subiu pela última vez numa motocicleta. Ele estava dirigindo ao longo da BR 101 em sua cidade natal, Umbaúba, no Nordeste do Brasil. Ele não estava usando capacete.

[...]

A morte de Jesus Santos não é, de maneira alguma, um caso isolado. Embora seja marcada por crueldade e frieza particulares – e captada em vídeo –, ela faz parte de uma tendência para que pesquisadores vêm alertando: o Brasil experimenta um aumento da violência policial há anos.

Cada vez mais há mais mortos nas mãos das forças de segurança. Em 2020, foram 6.416 casos, conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em média, portanto, são 17 vítimas de policiais todos os dias, número seis vezes maior do que em 2013, quando os dados foram coletados pela primeira vez.

"O Brasil é um país onde não há pena de morte, mas algo ainda pior: violência policial letal que não recebe punição", diz Priscila Villela, cientista política da PUC de São Paulo. No entanto, nem todos os brasileiros são afetados igualmente: a maioria dos mortos por policiais são homens, 79% são negros, e a maior parte tem entre 18 e 24 anos de idade: "Isso mostra uma clara orientação racista na violência policial."

Frankfurter Allgemeine – Lula contra Bolsonaro: Duelo pelo Brasil (29/05)

Antes das eleições, o Brasil está mais dividido do que nunca. Para as empresas, isso é um empecilho.

Um claro sinal para a [importância da] economia é a opção de Lula pelo social-liberal Geraldo Alckmin, ex-governador da metrópole de São Paulo – e, curiosamente, adversário de Lula no segundo turno das eleições de 2006. Parece algo claro: Lula não quer nunca mais ser visto como um inimigo do mercado. Bolsonaro, por outro lado, alimenta essa noção com prazer.

É indiscutível que para a União Europeia seria mais fácil lidar com Lula do que com o lunático Bolsonaro. Mas as posições de Lula também não agradam totalmente aos europeus: ele diz que a Ucrânia é também culpada pela guerra e defende manter abertos todos os canais de comunicação com Moscou.

Quanto mais apertados forem os resultados das eleições, mais difícil poderá se tornar a situação no Brasil. Isso porque, enquanto Lula corre de um comício para o outro, Bolsonaro está deliberadamente levantando dúvidas sobre o processo eleitoral, muito no estilo de seu inspirador, Donald Trump.

Ninguém duvida das eleições em si, salientou o presidente na semana passada. Em seguida, em tom ameaçador, acrescentou: "O Exército saberá como evitar irregularidades nas eleições."

gb/av (ots)