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O batalhão de Israel que pode acabar sancionado pelos EUA

23 de abril de 2024

Unidade Netzah Yehuda é acusada de violar direitos humanos de palestinos na Cisjordânia. Seria a primeira punição da história do governo americano a uma unidade das Forças de Defesa de Israel.

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Soldados ultraortodoxos segurando uma bíblia em uma mão e um fuzil na outra
Soldados ultraortodoxos prestam juramento para se juntar ao Netzah Yehuda: batalhão especial é suspeito de violações de direitos humanosFoto: Jim Hollander/dpa/picture alliance

Um batalhão das Forças de Defesa de Israel (FDI) pode ser alvo, pela primeira vez na história, de sanções dos Estados Unidos. Segundo noticiado pela imprensa internacional, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, deve anunciar a medida nos próximos dias.

A unidade Netzah Yehuda (Judeia para Sempre, em tradução livre) é suspeita de violar direitos humanos de civis palestinos na Cisjordânia.

Segundo informações da agência de notícias AP, outros quatro batalhões estão sob investigação dos americanos pelo mesmo motivo.

Com as sanções, o Netzah Yehuda, também conhecido como Nahal Haredi, ficaria proibido de receber ajuda militar dos EUA e teria acesso reduzido à formação militar bancada pelos americanos.

O governo israelense anunciou que tomará providências contra as sanções, se elas de fato vierem.

Quem são os soldados do Netzah Yehuda

O batalhão foi criado em 1999 como unidade militar especial para judeus ultraortodoxos, os Haredim. Diferentemente de outros grupos em Israel, eles são isentos do serviço militar obrigatório por razões religiosas – uma medida considerada discriminatória pelo Supremo Tribunal de Israel, e contra a qual a sociedade israelense cada vez mais tem se insurgido. Mas o Knesset, Parlamento israelense, tem ignorado o assunto até agora.

Desde o início da guerra entre Israel e o grupo islamista palestino Hamas, em 7 de outubro do ano passado, milhares de Haredim se alistaram voluntariamente para o combate.

No Netzah Yehuda, os soldados têm tempo para orações e estudos religiosos, recebem comida kosher – isto é, comida preparada segundo as leis judaicas de alimentação – e têm menor contato com soldadas mulheres.

A unidade faz parte da brigada de infantaria Kfir, que tem cerca de mil homens. O batalhão, porém, não é amplamente aceito entre os ultraortodoxos, que rejeitam a obrigatoriedade do serviço militar.

Soldados fazendo orações em um campo. Alguns têm um xale sobre as cabeças e um livro aberto entre as mãos
Soldados do batalhão Netzah Yehuda durante uma pausa para orações: rotina é diferente da das demais unidades das Forças de Defesa de IsraelFoto: Menahem Kanaha/AFP/Getty Images

Elos com a ultradireita

O Netzah Yehuda abriga em suas fileiras tanto israelenses ultraortodoxos quanto religiosos nacionalistas – alguns deles são colonos radicais que vivem na Cisjordânia ocupada, ligados aos partidos de dois líderes da ultradireita com altos cargos no governo de Benjamin Netanyahu: os ministros Bezalel Smotrich (Finanças) e Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional).

Ainda segundo o portal de notícias americano Axios, o batalhão também tem recebido cada vez mais apoiadores da Hilltop Youth (Juventude do Topo da Colina, em tradução livre), espécie de ala jovem dos colonos de tendência radical e violenta, e que foi sancionada na semana passada pela União Europeia por causa de ataques a palestinos.

Originalmente, o Netzah Yehuda estava estacionado na Cisjordânia, mas foi transferido para o norte de Israel no final de 2022 e tem atuado também dentro da Faixa de Gaza desde o início da guerra.

As acusações contra o Netzah Yehuda

Segundo o jornal israelense Times of Israel, o batalhão é suspeito de extremismo e de praticar atos de violência contra palestinos. O próprio governo americano já estaria monitorando a unidade desde 2022 pelo mesmo motivo, conforme o portal de notícias Axios.

Uma das denúncias contra o grupo publicada pela imprensa é o caso de um idoso de 78 anos que teria morrido em decorrência de um infarto sofrido após o grupo tê-lo amordaçado e algemado por horas. As FDI se referiram ao caso na época como "falha moral", atribuindo-o a uma decisão ruim dos soldados, e reagiram destituindo dois oficiais de seus cargos e advertindo um terceiro. Ninguém, porém, foi responsabilizado criminalmente pelo episódio.

O caso recebeu especial destaque na imprensa porque, além de idosa, a vítima tinha dupla cidadania e a diplomacia americana pressionou por uma investigação.

Ativistas dos direitos humanos, porém, citam outros casos de maus-tratos e tortura contra palestinos.

Como Israel reagiu

O governo israelense reagiu com indignação às notícias de um possível sancionamento de um dos batalhões das FDI. "Eu defenderei firmemente as FDI, nosso Exército e nossos combatentes. Se alguém pensa que pode impor sanções a uma unidade das FDI – eu vou lutar contra isso com todos os meus poderes", afirmou na noite de domingo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu via X (antigo Twitter). "Em uma época em que nossos soldados combatem o monstro do terror, a pretensão de sancionar uma unidade das FDI é o cúmulo do absurdo e um ponto moral baixo."

As FDI, por sua vez, disseram desconhecer quaisquer sanções contra suas unidades. "Se uma decisão nesse sentido for tomada, iremos analisá-la."

Na segunda-feira (22/04), veículos israelenses noticiaram uma visita do ministro da Defesa Yoav Gallant às tropas do Netzah Yehuda. "Ninguém no mundo pode nos ensinar sobre moral e valores", disse Gallant aos soldados. "O aparato de segurança apoia vocês."

As sanções contra militares seriam uma medida excepcional e inédita. Os Estados Unidos já impuseram, porém, sanções a outros grupos no país: colonos extremistas, duas organizações que os financiam e um aliado do ministro Ben-Gvir, Ben-Zion Gopstein. As sanções levaram ao congelamento de bens alocados nos Estados Unidos, e impedem empresas e pessoas no país de fazerem negócios com os sancionados.