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ViagemItália

Itália proíbe grandes cruzeiros no centro de Veneza

14 de julho de 2021

Após anos de debates ambientais e políticos, e apelos locais e internacionais, governo italiano decide barrar navios turísticos de maior porte. Unesco cogitava declarar cidade na Laguna de Veneza "patrimônio ameaçado".

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Navio de cruzeiro domina a vista de Veneza
Cruzeiros chegam a ser mais altos do que os prédios de Veneza e transportam milhares de turistasFoto: Eberhard Thonfeld/imago images

Grandes navios de cruzeiro ficarão proibidos de se aproximar do centro de Veneza a partir de 1º de agosto de 2021. O anúncio, feito pelo governo da Itália nesta terça-feira (13/07), chega após anos de advertências de que as embarcações turísticas causam dano irreparável à cidade histórica.

A decisão precede de alguns dias uma conferência da organização cultural das Nações Unidas, Unesco, que cogitava incluir a localidade situada numa laguna do Mar Adriático na lista de Patrimônios da Humanidade ameaçados.

"O decreto adotado hoje representa um importante passo para a proteção do sistema da Laguna de Veneza", comentou o primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, após a aprovação pelo gabinete em Roma, ressaltando que haverá compensação financeira para o impacto nos empregos. Os passageiros a bordo dos cruzeiros representam um importante pilar econômico para a cidade.

Os navios maiores serão desviados para o porto da cidade industrial de Marghera. Essa é considerada apenas uma solução temporária, e o Ministério da Infraestrutura lançou uma concorrência para projetos de um novo terminal permanente, a ser financiado com 2,2 milhões de euros.

Ameaça da Unesco foi decisiva

Apelidada "Pérola do Adriático", Veneza foi declarada Patrimônio da Humanidade em 1987, como "obra-prima arquitetônica extraordinária". Após numerosos debates e apelos, porém, em julho último a Unesco alertou para a necessidade de uma "gestão turística mais sustentável".

Residentes e especialistas exigiam há anos que os gigantescos hotéis flutuantes não navegassem para além da icônica Praça de São Marcos, devido às grandes ondas que causam, minando as fundações da cidade e prejudicando o frágil ecossistema da Laguna de Veneza.

O debate se reaqueceu no começo de junho, com o retorno dos cruzeiros e suas multidões de turistas, após 17 meses de suspensão ditada pela fase mais aguda da pandemia de covid-19 na Itália.

Segundo o ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini, o governo decidiu agir agora "para impedir o risco real da inclusão da cidade na lista do patrimônio ameaçado". Seu colega da pasta de Infraestrutura, Enrico Giovannini, acrescentou que a interdição era um "passo necessário para proteger a integridade ambiental, paisagística, artística e cultural de Veneza".

"Bom termo de compromisso"

Giovannini explicou que ficam barrados de chegar pela Bacia e pelo Canal de São Marcos e pelo Canal da Giudecca os grandes navios que ultrapassem pelo menos um de quatro limites: 25 mil toneladas de peso, 180 metros de comprimento, 35 metros de altura ou produção de 0,1% de enxofre.

O ministro assegurou que haverá compensação para os prejudicados pela medida, e que 157 milhões de euros serão investidos no porto de Marghera. As embarcações menores, levando até 200 passageiros, são consideradas "sustentáveis" e poderão seguir indo até o centro de Veneza.

Para o vice-presidente da associação Confturismo, Marco Michielli, a nova diretriz representa um "bom termo de compromisso", já que "a solução de Marghera manteria a atividade portuária em Veneza, por um lado salvaguardando empregos e atividades, e por outro liberando o Canal da Giudecca".

Há anos a questão dos cruzeiros em Veneza é também objeto de debate internacional, e em julho, celebridades e personalidades do setor cultural – entre as quais o cantor Mick Jagger, o cineasta Francis Ford Coppola e o diretor do Solomon R. Guggenheim Museum de Nova York, Richard Armstrong – fizeram um apelo por ação: em carta aberta ao governo italiano, eles advertiam que o sítio histórico corre o risco de ser "varrido" pelos navios de cruzeiro.

av/lf (AFP, DPA)