Crítica ácida à telinha
19 de novembro de 2007O cineasta austríaco radicado em Berlim Hans Weingartner (Educators) abdicou conscientemente de verbas provenientes dos canais de TV alemães, ao produzir seu mais novo filme Free Rainer. No longa, o diretor elabora um acerto de contas com a insanidade dos bastidores de uma rede de TV.
O protagonista do filme – o inescrupuloso Rainer – é o produtor do programa Hol dir das Superbaby (Pegue o seu superbebê), em que a candidata Mareike é colocada durante 28 dias (duração do ciclo menstrual da mulher) num hotel de luxo, onde nada, relaxa e usufrui de várias regalias. Para então encontrar Heiko, o homem com a "melhor herança genética", ou seja, o "pai ideal" para seu bebê.
5500 residências definem os rumos da TV
Rainer é responsável pela insanidade veiculada pelo programa, que "encaminha" a geração de um "superbebê". Representado pelo ator Moritz Bleibtreu, bastante conhecido no país, o protagonista é um cínico por excelência, interessado apenas no próprio sucesso profissional, mulheres loiras e carros velozes. Consumidor assíduo de cocaína, Rainer não dá a mínima para as pessoas que usa nos programas que produz.
Após ficar ferido gravemente num acidente de carro, a estadia no hospital muda sua vida. De consciência pesada, o então produtor inescrupuloso começa a querer criar programas de qualidade para a TV. Por fim, frustrado, ele acaba pedindo demissão do emprego e percebe como a televisão é cada vez mais dependente da audiência.
Consternado, o protagonista detecta que as aproximadamente 5.500 residências do país, a partir das quais são medidos os índices de audiência dos canais de TV, são responsáveis pelo que acaba sendo veiculado na telinha. Ou seja, aproximadamente 13 mil pessoas definem o que uma população de 80 milhões vai ver. Com um detalhe: em nenhuma das residências consultadas vivem estrangeiros.
Um país que se desperta
Isso faz com que o ex-produtor gaste toda a sua fortuna para manipular esses índices de audiência, o que desencadeia um verdadeiro fenômeno em todo o país: de repente, começa-se a produzir programas educativos e de qualidade. O país acorda.
Segundo Weingartner, o filme é uma crítica às televisões de direito público no país. Já que essas TVs são financiadas com o dinheiro do contribuinte (toda residência ou estabelecimento que possui um aparelho de TV na Alemanha é obrigado a pagar uma taxa mensal, destinada ao financiamento dos canais de direito público), elas não deveriam, na opinião do cineasta, se guiar pelos níveis de audiência. "Precisamos de inteligência e posicionamento intelectual, independente de alguém assistir ou não", defende o diretor.
Anarquia e bom humor
Mesmo que as críticas genéricas às misérias da televisão sejam oportunas, o filme de Weingartner não convenceu totalmente público e crítica, uma vez que o roteiro se baseia na caricatura estereotipada de um produtor cínico.
Free Rainer pode até ser divertido, mas é certamente bem mais comercial do que os filmes anteriores de Weingartner, como Educators, uma fábula anticapitalista recheada de ironia. Um ingrediente que definitivamente não faz mal algum ao cinema alemão.