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Em depoimento, Lula nega ser dono de sítio em Atibaia

15 de novembro de 2018

Acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, petista diz que não teve conhecimento das reformas realizadas no local. Segundo denúncia, Lula seria o verdadeiro dono do sítio e obras teriam sido pagas por empreiteiras.

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Lula
Lula prestou depoimento à juíza substituta de Sergio Moro, Gabriela HardtFoto: picture-alliance/AP Photo/A. Penner

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou nesta quarta-feira (14/11) depoimento à juíza substituta de Sergio Moro, Gabriela Hardt, no processo envolvendo um sítio em Atibaia, no interior paulista. O petista é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro.

De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Lula seria o verdadeiro dono do sítio e teria se beneficiado de mais de 1 milhão de reais em obras feitas no local, pagas pelas empreiteiras OAS e Odebrecht com recursos desviados da Petrobras e repassados a Lula como vantagem ilícita.

No depoimento que durou quase três horas, Lula negou ser o dono do sítio e disse que não pagou pelas reformas justamente por isso. "As obras não foram feitas pra mim, portanto, eu não tinha que pagar porque achei que o dono tinha pago".

Um dos proprietários legais do imóvel é Fernando Bittar, que também é réu no processo. Ele é amigo da família de Lula e, em depoimento, afirmou que comprou o sítio com recursos próprios e, em 2011, cedeu o local para o ex-presidente guardar o acervo presidencial.

O empresário, porém, negou ter pago pela reforma e disse que achou que quem arcou com as despesas foi a família do petista, que teria carta branca para realizar a obra. "Eu não precisava de obra. Eles iriam utilizar o sítio. Ou seja, eles que têm que arcar com a despesa dessa obra", afirmou Bittar no depoimento prestado na segunda-feira, alegando ainda que a reforma foi "superdimensionada" na denúncia.

Em seu depoimento, o ex-presidente negou ter conhecimento sobre as reformas. "Eu nunca conversei com ninguém sobre as obras do sítio de Atibaia porque eu queria provar que o sítio não era meu. E hoje aqui nessa tribuna vocês me deram o testemunho: o sítio não é do 'seu' Lula. Eu pensei que vim aqui prestar depoimento porque o sítio era meu. O sítio não é meu", ressaltou.

Lula também negou que tenha tratado do assunto com o empresário Emílio Odebrecht. "Quando eu conheci o sítio, não tinha reforma, o sítio estava pronto", afirmou.

De acordo com a denúncia, as reformas no sítio começaram logo após a compra do imóvel por Bittar e Jonas Suassuna. Estima-se que as obras custaram mais de 544 mil reais. O valor pago pelo sítio foi de 1,1 milhão de reais.

No depoimento, o ex-presidente disse que passou a frequentar o sítio em 2011, após deixar a Presidência, e contou que tentou comprar o imóvel em 2016, porém, o pai de Bittar se recusou a vendê-lo. O empresário confirmou à Justiça essas declarações e admitiu ter feito uma minuta de compra e venda, mas a transação não foi autorizada pelo seu pai.

Embate com juíza

O início do depoimento de Lula foi marcado por um embate com a juíza. Numa praxe processual, Hardt questionou se o ex-presidente tinha conhecimento das acusações. "Gostaria de pedir, se a senhora pudesse me explicar, qual é a acusação? Estou disposto a responder toda e qualquer pergunta. Eu sou dono do sítio ou não?", respondeu o petista.

Hardt lembrou que não era ela quem estava sendo interrogada e que não tinha que responder a pergunta. "Isso é um interrogatório, e se o senhor começar neste tom comigo, a gente vai ter problema", retrucou.

Durante o depoimento, Lula reiterou que as acusações contra ele são uma farsa, criticou o PowerPoint do procurador Deltan Dallagnol, utilizado na primeira denúncia contra ele, disse que é vítima e ressaltou que confia que a verdade vira à tona, pois crê em Deus e na Justiça.

A juíza chegou a pedir ao ex-presidente que parasse de estimular a postura de crítica ao judiciário e ao processo legal.

O ex-presidente alegou também que sua prisão era "um prêmio" na Operação Lava Jato. "Só não sei para quem", disse sem citar nomes. Lula acusou ainda Moro de ser amigo do doleiro Alberto Youssef, delator dos casos Banestado e Lava Jato.

Além de Lula, outras 12 pessoas, incluindo os empreiteiros Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht, Léo Pinheiro e o pecuarista José Carlos Bumlai, foram denunciadas no processo e respondem por crimes de lavagem de dinheiro ou corrupção ativa ou passiva.

A defesa do ex-presidente afirmou que o depoimento mostrou a arbitrariedade das acusações e destacou que nenhuma pergunta foi feita sobre supostas irregularidades em contratos da Petrobras. "A situação confirma que a referência a tais contratos da Petrobras na denúncia foi um reprovável pretexto criado pela Lava Jato para submeter Lula a processos arbitrários perante a Justiça Federal de Curitiba", destacou o advogado Crisitiano Zanin, em nota.

A defesa alega ainda que Lula é vítima de uma perseguição judicial motivada por política.

Essa foi a primeira vez que Lula deixou a carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba desde que foi preso em 7 de abril, condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação envolvendo um tríplex no Guarujá, no litoral paulista. Ele nega as acusações.

CN/lusa/abr/ots

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