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Com Lula, UE aposta em recomeço para a relação com o Brasil

31 de outubro de 2022

Para a União Europeia, novo presidente deverá agir de modo mais aberto e pragmático do que Bolsonaro e traz novas perspectivas para negócios e principalmente para a proteção ambiental.

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Luiz Inácio Lula da Silva
"Lula já ocupou o cargo, e conhece a UE muito bem", aponta especialistaFoto: Buda Mendes/Getty Images

Como é praxe internacional entre democratas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, felicitou o vencedor da eleição deste domingo (30/10) no Brasil: "Fico feliz por poder trabalhar com o senhor no enfrentamento de desafios globais urgentes, da segurança alimentar, passando pelo comércio, até a mudança climática", tuitou a política alemã a partir de Bruxelas. Se o resultado das urnas tivesse sido outro, ela provavelmente usaria uma fórmula semelhante.

Mesmo que suas palavras não o expressem diretamente, os altos representantes da União Europeia devem estar aliviados que Luiz Inácio Lula da Silva tenha sido eleito novo presidente, avalia Jamie Shea, especialista em América Latina do think tank Friends of Europe. 

"No primeiro momento, haverá um suspiro de alívio. Lula está de volta, podemos agir com mais pragmatismo, um novo começo, um restabelecimento das relações. Há esperança de uma mudança. Lula já ocupou o cargo, e conhece a UE muito bem", diz. "Por outro lado, ele também é um populista no sentido de ter se comprometido com altos gastos sociais", pondera.

O político de esquerda que retorna ao Palácio do Planalto sempre foi crítico em relação ao Ocidente e ao que considera as grandes potências capitalistas. Isso não vai mudar de uma hora para a outra: ele posicionará o Brasil em algum lugar entre os Estados Unidos, a Rússia e a China, crê Shea. "Lula é alguém que gosta de assumir uma posição contra o Ocidente quando se trata de apoiar as sanções contra a Rússia."

Nesse ponto, ele pouco vai diferir de seu antecessor nacionalista de direita, Jair Bolsonaro, que rejeita as medidas punitivas contra o país em guerra contra a Ucrânia. Além disso, o Brasil lucra indiretamente com o conflito, pois aumentou a demanda por seus alimentos no mercado mundial, como trigo.

Proteção da Amazônia

A vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu para o Brasil, Anna Cavazzini, tem uma opinião semelhante: "Lula não esconde que não deseja manter uma cooperação super estreita com os EUA. Ele vai se manter mais neutro, sem se associar à política de sanções europeia e americana contra a Rússia. Mas creio que Lula tem um ouvido aberto para as questões da União Europeia e agirá de modo mais aberto e pragmático do que Bolsonaro."

Apesar de tudo, a deputada do Partido Verde se diz satisfeita que o candidato de esquerda vá ser o próximo presidente do Brasil. Sobretudo a perspectiva de mais proteção para a Amazônia lhe dá esperanças: "Estou extremamente feliz que Lula tenha vencido a eleição. Mais um mandato de Bolsonaro seria realmente uma catástrofe para a floresta e também para a democracia brasileira. Lula tem agora a chance de dar espaço para muitos políticos que Bolsonaro reprimiu."

Cavazzini espera que o novo chefe de Estado volte a restringir o desmatamento da floresta tropical, tão importante para a proteção climática. "Ainda tenho dúvidas se vai bastar diante da catástrofe, do desmatamento recorde que estamos vendo. Por isso creio que é igualmente importante a pressão internacional da sociedade civil, da Comissão Europeia, dos eurodeputados. Não será uma mudança automática, pois Lula está sob pressão das grandes empresas nacionais do agronegócio."

Acordo UE-Mercosul

Para se impor contra o lobby agropecuário e poder manter uma política econômica diferente, Lula precisa iniciar reformas no Brasil, permitir mais comércio e atrair investidores estrangeiros, frisa o especialista em América Latina Jamie Shea: "Isso significa que ele deve abrir mais a economia brasileira. Além disso, seus programas sociais precisam enfrentar o teste da realidade."

Ao que tudo indica, o presidente esquerdista pretende concluir e renegociar o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a UE, há 20 anos em negociações, mas ainda não implementado. Incerto é se a UE, que até agora não ratificou o pacto, que também envolve a Argentina, Paraguai e Uruguai, vai estar disposta a colaborar.

"Se Lula quiser renegociações, devemos aceitar de braços abertos. Aí a Comissão Europeia deve se sentar e reformular o acordo em alguns pontos específicos, pois como está no momento, não pode ser aprovado", aconselha Anna Cavazzini.

Para a eurodeputada, em relação a padrões ambientais, sustentabilidade e proteção florestal, o Mercosul precisa de melhorias urgentes. A meta mais importante para a UE deve ser tornar a proteção climática a principal política do Brasil: "Espero que a União Europeia possa dar muitos impulsos aqui, na forma de verbas, cooperação, mas também de pressão política."

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.