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É possível um Papa africano?

Krieger, Renate12 de fevereiro de 2013

Já se especula em torno da sucessão do Papa Bento XVI. Afinal, quem será o novo homem santo da Igreja Católica? Especialistas acreditam que habilidade para o diálogo será determinante e que africanos estão na liderança.

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As especulações em torno da sucessão do Papa Bento XVI, que anunciou a renúncia ao cargo na segunda-feira (11.02.2013), concentram-se em nomes da África e da América Latina.

De acordo com o jornal português Público, os dois continentes concentrariam 70% da população católica mundial.

Segundo a agência noticiosa France Presse, dos 1,2 mil milhões de católicos no mundo, cerca de 15% vêm do continente africano, onde existiria a maior progressão demográfica do mundo. O aumento do número de católicos também é expressivo na África.

Candidatos à sucessão

Entre os nomes cotados para suceder a Bento XVI, estão os do ganês Peter Turkson e os dos nigerianos John Onaiyekan e François Arinze.

Porém, François Arinze tem 80 anos e, portanto, não pode participar do conclave que vai escolher o novo Papa porque atingiu a idade limite.

O arcebispo de Durban, na África do Sul, Wilfrid Napier, acredita que as chances de que o próximo Papa venha do continente africano, da Ásia ou da América Latina são provavelmente maiores que antes. Nessas três regiões, a Igreja católica é muito ativa.

"A fé católica está se desenvolvendo aqui. É disso que a Igreja precisa: uma nova dose de entusiasmo, que nos faça avançar e que valha como inspiração para o Ocidente, onde muitos estão se afastando da fé religiosa", pondera.

Diálogo ecumênico é necessário

Especialistas africanos citados por agências noticiosas dizem que o desafio atual da Igreja católica é encontrar um representante que possa desenvolver pontos de contato com o Islã e com o movimento pentecostal, já que várias populações africanas aderiram em massa às chamadas igrejas evangélicas, que atenderiam mais às necessidades dos fieis.

Além disso, países como a Nigéria são palco de violências devido à divisão entre o norte, de maioria muçulmana, e o sul, de maioria cristã.

O arcebispo nigeriano de Jos, Ignatius Kaigama, também diretor da Conferência dos Bispos da Nigéria, evitou especular sobre a origem do próximo Papa.

Para ele, a prioridade "é ter um Papa temente a Deus, um Papa santo, um Papa que reúna católicos no mundo todo, que dialogue com governos e outras religiões e que crie um sentimento de harmonia e unidade".

"O Papa, afinal, é um defensor da paz", avalia.

Bento XVI e a SIDA

Em oito anos de pontificado, o Papa Bento XVI esteve duas vezes na África. Visitou o Benin, em 2011, Angola e os Camarões em 2009.

Nessa altura, chegou a causar polêmica ao dizer que os programas de combate à SIDA, que tinham por base apenas o uso de preservativos, poderiam "agravar o problema".

O arcebispo de Durban, Wilfrid Napier, explicou à DW África as raízes da postura conservadora de Bento XVI e a sua posição em relação ao uso de preservativos e à SIDA.

"O Papa disse aos jornalistas, no avião a caminho dos Camarões, em 2009, que não era possível focar apenas um aspecto (...). Para o Papa, era importante dizer que não se trata apenas de prevenir a contaminação" revela.

Wilfrid Napier considera que a atitude de Bento XVI se baseou também na moral, "um aspecto importante da existência humana e que também deveria ser divulgada".

O arcebispo de Durban enfatiza ainda a preocupação do Papa com a saúde das pessoas.

"É fácil dizer que, se usas um preservativo, não vais pegar SIDA. Isso pode fazer com que as pessoas se descuidem e que, finalmente, acabem por espalhar o vírus", afirma.

O religioso criticou a polêmica em torno da postura da Igreja Católica em relação à SIDA e ao uso de preservativos.

"Nessa discussão, é fácil esquecer também o que a Igreja Católica faz pelas pessoas com HIV/SIDA em África. Em quase todos os países do continente, a Igreja é o órgão mais importante depois do governo", finaliza.

De acordo com o anúncio feito pelo Papa Bento XVI, na segunda-feira (11.02.2013), ele irá renunciar ao posto de líder máximo da Igreja Católica às 20 horas do próximo dia 28 de fevereiro.

Quando a Santa Sé ficar vaga, os 117 cardeais eleitores estarão em Roma para o conclave que irá eleger o próximo Papa, entre 15 e 20 dias depois da renúncia.

Autora: Renate Krieger
Edição: Cristiane Vieira Teixeira/António Rocha