RENAMO nega divisão: "Debate interno transbordou para fora"
11 de janeiro de 2024O mandato de Ossufo Momade na liderança da RENAMO chega ao fim em poucos dias, mas isso não deve ser motivo de preocupação para o partido, segundo o porta-voz José Manteigas. O responsável afirma que não há previsão para a realização do Congresso, mas que, "em sede do evento, haverá condições para qualquer membro apresentar a sua pretensão" à liderança.
No entanto, em entrevista à DW, Manteigas admite que a RENAMO foi surpreendida por Venâncio Mondlane, que não descartou a sua candidatura à liderança do maior partido da oposição moçambicana.
DW África: O mandato de Ossufo Momade à frente da RENAMO chega ao fim no próximo dia 17. Para quando o Congresso para a eleição do novo líder do partido? Já existe alguma data?
José Manteigas (JM): Neste momento, não temos uma data exata. Estamos a sair das eleições agora e estamos num processo de reivindicação. Mas o que é facto é que, em termos estatutários, o Conselho Nacional que tem que reunir para marcar o congresso, um evento estatutário. Por isso mesmo, o partido, assim que as condições forem criadas, irá convocar o congresso.
DW África: Como é que a RENAMO reage às críticas que falam em divisões internas no partido e alguma crispação?
JM: Não, a RENAMO não está dividida. O que está a acontecer é que há um debate interno que transbordou para fora do partido por conta de algumas pretensões internas relativas à candidatura do presidente do partido. Mas não estamos divididos. Estamos num pleno exercício democrático interno que está a resvalar para fora das portas do partido.
DW África: Mas para o líder do Partido Independente de Moçambique (PIMO), por exemplo, essa possível desorganização pode fortalecer a FRELIMO e, por outro lado, enfraquecer a oposição. A RENAMO não teme isso?
JM: Não. Nós somos pela democracia. Aliás, a RENAMO lutou pela democracia. E um dos pressupostos da democracia é a liberdade de expressão. Portanto, dentro do partido, ninguém é cortado de exprimir o seu pensamento e a sua vontade. Mas isso não significa a divisão do partido.
DW África: Anunciou, há dias, que Momade seria o candidato da RENAMO nas eleições gerais. No entanto, essa decisão foi contestada até mesmo por membros do partido como Manuel de Araújo.
JM: Eu não disse que o presidente Ossufo Momade seria o único candidato. O que eu disse é que Momade, neste momento, é o presidente do partido, é o nosso líder. É aquele que está a dirigir à altura dos desafios do país. Por essa via, o presidente Ossufo Momade é candidato. Enquanto não se realizar o congresso, não se realizar o conselho nacional.
Em sede destes dois eventos, qualquer membro do partido, haverá condições para qualquer membro apresentar a sua pretensão, as suas intenções.
DW África: Nesse sentido, a RENAMO não foi então supreendida pela possível intenção de Venâncio Mondlane....
JM: Aí ficamos surpreendidos, porque ele nunca tinha antes se pronunciado sobre isso. Foi na sequência do meu pronunciamento, porque nós temos um horizonte temporal, que são as eleições e o partido tem que estar claro. Já está decidido que vai concorrer. A RENAMO sempre concorreu e vai concorrer, mas não tínhamos a informação de que o colega Venâncio, efetivamente, era candidato ou pretendia ser candidato a presidente do partido. Na sequência dos meus pronunciamentos foi que ficamos a saber.
Mas, volto a referir, enquanto Ossufo Momade for presidente, ele é um potencial candidato quer à sua sucessão, quer à Presidência da República.
DW África: E, apesar da surpresa, Mondlane teria o apoio da RENAMO?
JM: Não tenho nem o mandato, nem tenho conhecimento. Como já disse, temos órgãos próprios. Portanto, esses órgãos é que vão legitimar quer a continuidade do presidente Ossufo Momade, quer a intenção de quaisquer outros quadros que queiram concorrer.