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CulturaÁfrica

Prémio Nobel da Literatura para escritor tanzaniano

AFP | Lusa
7 de outubro de 2021

O trabalho do tanzaniano Abdulrazak Gurnah, que se centra no colonialismo e no trauma dos refugiados, ganhou o Prémio Nobel da Literatura 2021. "Retrato vívido e preciso de uma outra África", avaliou a Academia Sueca.

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Foto: Ger Harley/StockPix/picture alliance

A Academia Sueca anunciou esta quinta-feira (07.10) Abdulrazak Gurnah como venceder do Prémio Nobel da Literatura 2021. O escritor foi homenageado "pela sua penetração intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre culturas e continentes".

No entender do comité, a obra literária de Abdulrazak Gurnah é um "retrato vívido e preciso de uma outra África, numa região marcada pela escravatura e por diferentes formas de repressão de vários regimes e poderes colonialistas: português, indiano, árabe, alemão e britânico".

"Os seus romances fogem das descrições estereotipadas e abrem o nosso olhar para uma África Oriental culturalmente diversificada, desconhecida de muitas outras partes do mundo", acrescentou a Fundação Nobel.

Abdulrazak Gurnah, que cresceu na ilha de Zanzibar, mas que chegou a Inglaterra como refugiado no final dos anos 60, é o quinto africano a ganhar o Prémio Nobel da Literatura.

"A sua partida [de Zanzibar] explica o papel central que o exílio tem em toda a sua obra, mas também a sua ausência de nostalgia por uma África primitiva e pré-colonial", afirmou a Academia Sueca.

Romances

Gurnah publicou 10 romances e uma série de contos. É mais conhecido pelo seu romance de 1994 "Paradise", ambientado na África Oriental colonial durante a Primeira Guerra Mundial, que foi pré-selecionado para o Booker Prize for Fiction, o mais prestigiado no mundo anglófono.

Nobelpreis für Literatur | Abdulrazak Gurnah
Foto: Niklas Elmehed/Nobel Prize Outreach/dpa/picture alliance

O tema dos traumas do refugiado percorre todo o seu trabalho. Nascido em 1948, Abdulrazak Gurnah fugiu de Zanzibar em 1968, após a revolução que levou à opressão e à perseguição de cidadãos de origem árabe. Começou a escrever na Inglaterra quando tinha 21 anos. Embora o suaíli fosse a sua primeira língua, o inglês tornou-se a sua ferramenta literária.

Num artigo que escreveu para o The Guardian em 2004, Gurnah disse que não tinha planeado ser escritor quando vivia em Zanzibar, mas, uma vez na Inglaterra, sentiu-se esmagado pela sensação de "uma vida deixada para trás".

"Se uma forma de ver a distância tão útil para o escritor o retrata como um mundo fechado, outro argumento sugere que é necessário deslocar-se, que o escritor produz uma obra de valor isoladamente, porque fica então livre de responsabilidades e intimidades que silenciam e diluem a verdade", escreveu Gurnah.

Abdulrazak Gurnah foi, até à sua recente reforma, professor de Literaturas Inglesas e Pós-coloniais na Universidade de Kent em Canterbury, concentrando-se principalmente em escritores como Wole Soyinka, Ngugi wa Thiong'o e Salman Rushdie.

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O Prémio Nobel vem com uma medalha e um prémio no valor de 10 milhões de coroas suecas (cerca de 980.000 euros).

No ano passado, o prémio foi atribuído à poetisa norte-americana Louise Gluck.

Prémio diversificado      

Antes do anúncio desta quinta-feira, os observadores do Nobel sugeriram que a Academia Sueca pudesse optar por dar o prémio a um escritor da Ásia ou África, na sequência de um compromisso de tornar o prémio mais diversificado.

A Academia premiou principalmente os ocidentais nos seus 120 anos de existência. 102 homens ganharam e apenas 16 mulheres.

A Academia Sueca há muito que insistiu que os seus laureados eram escolhidos apenas por mérito literário, e que não levava em conta a nacionalidade.

Mas depois de um escândalo #MeToo que abalou a Academia - levando-a a adiar o prémio de 2018 por um ano - o organismo disse que iria ajustar os seus critérios no sentido de uma maior diversidade geográfica e de género.

 

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