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Os quatro anos de intempéries de Filipe Nyusi

15 de janeiro de 2019

Há 4 anos como Presidente, Filipe Nyusi carrega fardos sem precedentes. Apesar de certo esforço e otimismo manifestados nos discursos sobre o estado da nação, os eventos que o país vive deixam moçambicanos descrentes.

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Filipe Nyusi, Presidente de MoçambiqueFoto: DW/B. Jequete

2014: "O empregado do povo"

Quando foi empossado há precisamente 4 anos, Filipe Nyusi auto-denominou-se "empregado do povo". Herdava um país com vários problemas graves, a destacar o conflito armado entre a RENAMO e o exército nacional e as dívidas ocultas avaliadas em 2 mil milhões de dólares, com todas as suas consequências para o país.

Relativamente à gestão da crise da dívida, Nyusi dá sinais de não estar a servir devidamente o seu patrão conforme prometeu. E o sociólogo Hortêncio Lopes explica: "Acho que não mostrou competências, porque existe alguma inércia por parte do Executivo e judiciário para agir diante de algumas situações ligadas às dívidas ocultas. Então, penso que o Presidente não foi suficientemente inteligente para gerir esta situação, pese embora que não seja da competência dele como Executivo, mas penso que poderia influenciar no sentido do judiciário tomar a peito essa questão."

2015: "O estado da nação não é satisfatório"

Mosambik Treffen  Nyusi und Dhlakama in Gorongosa
Filipe Nyusi (esq.), Presidente de Moçambique, e Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, na GorongosaFoto: Presidencia da Republica de Mocambique

Mas o "empregado do povo" não teve de todo um mau começo: em 2015 fez um esforço para dialogar com o falecido líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, com vista ao alcance da paz. E o primeiro encontro aconteceu no começo desse ano.

Mas ainda não tinha conquistas de relevo para se gabar quanto aos "cancros". No Parlamento disse nesse ano que "o estado da nação não era satisfatório". Mas em 2016 os resultados do seu empenho começam a aparecer com os diálogos frequentes com Dhlakama.

2016: "O estado da nação é firme"

"O ponto positivo foi essa paz temporária. O início do diálogo com o falecido presidente Dhlakama já mostrava em si um sinal positivo, porque fez um grande esforço assim que tomou posse cumprindo com a promessa de que seria o empregado dos moçambicanos fez um grande esforço para acabar com a guerra. Os encontros inesperados em Gorongosa, para mim, foi um grande ganho do Presidente", opina o sociólogo Hortêncio Lopes.

E foi em 2016 que Filipe Nyusi viu-se obrigado a apostar nos corredores diplomáticos para esclarecer aos doadores o caso das dívidas ocultas e mostrar vontade em alcancar um conseno com a RENAMO. Escalou Bruxelas e Berlim e membros do seu Governo escalaram Washington várias vezes para prestar esclarecimentos ao Fundo Monetário Internacional, FMI, e ao Banco Mundial.

U.S. Dollarnoten
O Governo contraiu uma dívida de cerca de 2 mil milhões de dólares sem a aprovação do ParlamentoFoto: picture alliance/J. Greve

Nesse ano Nuysi, talvez confiante, disse que "o estado da nação era firme". Entretanto, vários atropelos iam-se cometendo no processo das dívidas transformando o caso numa bola de neve e assim transitou para 2017.

2017: "O estado da nação é desafiante, mas encorajador"

Em finais desse ano começam os ataques armados de homens não devidamente identificados até agora  na província nortenha de Cabo Delgado, evidenciando a incapacidade do Estado em impedi-los. Para Hortêncio Lopes, é uma situação que fragiliza o Presidente "primeiro porque não há um pronunciamento do Governo sobre o que realmente está a acontecer, o que deixa as pessoas num nível de especulações porque não há um pronunciamento oficial".

E ele se interroga: "Como se deixou que o assunto chegasse a esse ponto? Já passa um ano."

Mesmo assim, no fim desse ano Nyusi disse que o "o estado da nação era desafiante, mas encorajador". A frequência dos ataques aumentou em 2018, cerca de 200 pessoas foram mortas e bens materiais destruídos.

2018: "A situação do país é estável e inspirava confiança"

Mosambik, Macomia: Mucojo village had houses destroyed by armed groups
Uma aldeia de Macomia incendiada por homens armados desconhecidosFoto: Privat

O país continuou com dificuldades em pagar as dívidas, embora o FMI tenha dado um primeiro sinal positivo ao país. Otimista, Nyusi disse no seu discurso sobre o estado da nação que "a situação do país era estável e que inspirava confiança".

Mas foi traído pelo seu excesso de confiança: as elites do país são alvo de um mandato de detenção por parte da potencia mundial, os EUA, por suspeitas de crimes financeiros. O Presidente se remeteu ao silêncio face a detenção do ex-ministro das Finanças Manuel Chang na África do Sul. E é nestas condições que deverá concorrer a um segundo mandato em outubro próximo.

2019: Qual será a tirada final?

Os quatro anos de intempéries de Filipe Nyusi

O especialista em boa governação Silvestre Baessa acha, entretanto, que Nyusi e a FRELIMO não têm muito a oferecer: "Politicamente acho que como um Presidente que vai disputar as próximas eleições carrega uma partido com uma reputação muito má, sem nenhuma credibilidade e sem nenhum argumento para mostrar aos moçambicanos, para além da paz que é instável, ele não tem argumentos se não começar a seguir uma postura similar a do Presidente João Lourenço a Angola."

E a propósito do seu quarto ano na liderança do país, num comunicado Nyusi fez várias promessas, entre elas continuar a combater a corrupção, e reafirmou a vontade de continuar a servir o povo, apesar de se mostrar cientes sobre os desafios que se impõem.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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