"Estamos a estabilizar a situação, mas não podemos dizer que já vencemos o terrorismo", declarou Mpho Molomo, durante uma palestra para estudantes da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.
Segundo o chede da SAMIM, os grupos terroristas que aterrorizam a província desde 2017 continuam nas matas, estando, esporadicamente, a efetuar contraofensivas, que só podem ser travadas com a cooperação das forças da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
"Temos de cooperar para garantir que se há um ataque deste lado, os terroristas sejam bloqueados do outro", declarou Mpho Molomo, admitindo que as forças estrangeiras que apoiam Moçambique no combate ao terrorismo ainda não destruíram todas as bases dos rebeldes.
Por outro lado, o chefe da SAMIM alertou para os traumas do conflito entre mulheres e crianças afetadas pela ação dos rebeldes.
"Tive a oportunidade de visitar alguns dos centros de acolhimento e é chocante perceber como as pessoas podem ser brutais. Conheci mulheres que foram violadas nas florestas. Quando eles capturam uma mulher, primeiro a submetem a um teste de sida e, caso ela tenha o resultado negativo, eles tomam-na como uma esposa", declarou.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho do ano passado, a ofensiva das tropas governamentais com apoio externo permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas de Cabo Delgado onde havia rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
Além da SADC, as forças moçambicanas contam com o apoio de soldados e polícias do Ruanda, no âmbito da cooperação no domínio da defesa entre os dois Estados.
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O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Sensação de paz em Macomia
O distrito de Macomia já registou o regresso de grande parte da sua população que se havia evadido para outras zonas com a escalada da violência protagonizada pelos insurgentes, localmente conhecidos por "al-shababes". Na vila, atividades comerciais ganham terreno. Mas a população pede ainda a permanência do exército para lhes proteger. O desejo dos residentes é que a paz tenha vindo para ficar.
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O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Serviços públicos em Mocímboa da Praia
Após a recuperação do território, em agosto de 2021, as autoridades estão empenhadas no restabelecimento dos serviços públicos de modo a impulsionar o retorno da população que se refugiou em comunidades de Cabo Delgado. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos comprometeu-se em alocar escritórios moveis ao governo de Mocímboa da Praia para fazer face à escassez de infraestruturas.
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O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Local do massacre de Xitaxi
A 7 de abril de 2021, na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, os terroristas terão morto a sangue frio um grupo de 53 jovens num campo de futebol (ao fundo da imagem). Aparentemente, a causa da chacina foi a recusa desses jovens, que haviam sido raptados localmente e em aldeias já atacadas, em juntar-se ao movimento rebelde que devasta Cabo Delgado desde o ano de 2017.
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O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Forças Armadas na estrada
A estrada N380 liga o distrito de Ancuabe a Mocímboa da Praia. A via permaneceu intransitável com a escalada da violência terrorista em aldeias atravessadas pela rodovia. Com as ações terroristas enfraquecidas, a N380 voltou a ser transitável, embora de forma tímida. Veículos militares patrulham constantemente, para garantir que nenhuma situação de alteração da ordem venha a verificar-se.
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O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Destroços visíveis
Sucatas de veículos destruídos denunciam a quem por aqui passa, cenários de violência vividos na estrada principal que liga sul, centro e norte da província.
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O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Bens abandonados
Terroristas bloquearam durante um ano o acesso aos distritos no norte, com destaque para Mueda e Mocímboa da Praia, com o assalto ao posto de controlo policial no cruzamento de Awasse. Após o seu desalojamento pela força conjunta Moçambique-Ruanda, os terroristas abandonaram alguns dos seus bens, em caves que serviam de esconderijos.
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O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Ruínas
Casas abandonadas e em ruínas e zonas residenciais tomadas pelo capim são o retrato que se repete em diversas aldeias ao longo das estradas N380 e R698. Denunciam também a crueldade dos terroristas.
Autoria: DW (Deutsche Welle)