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Jornalista e quatro ativistas angolanos liberados

Glória Sousa / Cristiane Vieira Teixeira23 de julho de 2015

Depois de nove horas "retidos" na cadeia de Calomboloca (Bengo), o jornalista Nelson Sul D'Angola e quatro ativistas angolanos foram libertados na noite desta quarta-feira (22.07). Eles serão ouvidos por procurador.

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O jornalista Nelson Sul D'Angola, correspondente da DW-África em AngolaFoto: privat

O jornalista Nelson Sul D'Angola, correspondente da DW África em Angola, tinha se deslocado à unidade prisional de Calomboloca, na província do Bengo nos arredores da capital Luanda, durante a manhã de quarta-feira (22.07). Esteve na companhia de uma comitiva do Grupo de Apoio aos Presos Políticos Angolanos (GAPPA), para visitar sete dos 15 jovens em prisão preventiva, desde o final de junho, acusados de prepararem um golpe de Estado.

A visita foi impedida. Nelson Sul D'Angola e quatro ativistas angolanos – Rafael Morais e Pedro Narciso, da SOS Habitat, e João Malivendele e Jesse Lufendo, da OMUNGA – passaram ainda o dia "retidos" pelas autoridades.

O jornalista angolano foi acusado de "ter tirado fotos da fachada do estabelecimento prisional e de ter feito entrevistas" com os ativistas.

Já os quatro ativistas, que também passaram o dia "retidos", são acusados de "pretenderem fazer política no estabelecimento prisional". Todos tiveram os seus telemóveis apreendidos, bem como os equipamentos de trabalho do jornalista e os haveres dos ativistas da OMUNGA e da SOS Habitat.

Esta quinta-feira (23.07), o jornalista e os quatro ativistas angolanos terão de se apresentar ao Comando Municipal de Icolo e Bengo para serem ouvidos por um procurador.

Em entrevista à à DW África, André Augusto, da organização não-governamental SOS Habitat, contou o que aconteceu.

Angola Aktivist Manuel Nito Alves
O ativista angolano Nito Alves é um dos 15 jovens, presos em junho em LuandaFoto: DW/Nelson Sul D´Angola

DW África: Que relatos ouviu sobre as "retenções" do jornalista Nelson Sul D'Angola e dos ativistas angolanos?

André Augusto (AA): As organizações decidiram fazer uma visita aos nossos jovens ativistas que estão presos há mais de um mês na cadeia de Catete. Então, os técnicos ligados ao grupo de acompanhamento aos presos políticos deslocaram-se para a cadeia de Calomboloca para visitar sete jovens, dos 15 que estão presos há mais de um mês. Postos lá, portanto, acabaram por também estarem privados da sua liberdade.

DW África: Por quanto tempo eles estiveram "retidos"?

AA: Ficaram "retidos" das 12 horas às 21 horas [tempo local de Angola]. Só foram colocados em liberdade às 21 horas. Às 12 horas foi o último momento em que se conversou com o Rafael [Morais]. Perdemos já a comunicação com ele, eram cerca de meio-dia.

Ao meio-dia, ele mandou a mensagem de que o jornalista Nelson Sul D'Angola tinha sido detido e estava sob o interrogatório lá na esquadra de Calomboloca. Só às 21 horas e 30 minutos é que conseguimos ter a nova notícia de que eles tinham sido colocados em liberdade.

DW África: Como é que se encontram o jornalista e os ativistas neste momento?

AA: Eu conversei com o sr. Rafael e ele está bem, mas informou que aconteceram muitas coisas que ele poderá contar esta manhã. No entanto, depois que foram detidos, lhes foram retirados os telemóveis. Parece que os policiais mexeram nos telemóveis de maneira que, ao saírem da cadeia, não os possibilitou voltar a ligá-los para poderem se comunicar conosco.

Nelson Sul d'Angola
O jornalista Nelson Sul D'Angola (à dir.) durante reportagem para a DW em BenguelaFoto: DW/N. S. d'Angola

DW África: O que irá acontecer esta quinta-feira (23.07)? Vão ser ouvidos por um procurador. O que se pode esperar?

AA: Nós estamos preocupados com a situação, porque está a torna-se cada vez mais perigosa - numa altura em que se invoca estarmos num país de direito democrático, onde as pessoas teriam o direito de exercer livremente os seus direitos. Mas, infelizmente, não sei por onde anda a cabeça deste Governo. Continua, então, a impedir, as liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos.

Logo, é mais uma liberdade de alguns indivíduos que foi, portanto, impedida. Porque visitar alguém que está detido numa cela, numa cadeia, não é crime. Isto é preocupante numa altura em que estamos a nos aproximar das eleições, em 2017, e este Governo começa a comportar-se dessa forma.

DW África: O jornalista Nelson Sul D'Angola foi acusado de "tirar fotografias e entrevistar os ativistas". Os quatro ativistas das organizações angolanas – SOS Habitat e OMUNGA – foram acusados de estar a "fazer política no estabelecimento prisional". Eles confirmam ou desmentem essas acusações?

Jornalista Nelson Sul D'Angola e quatro ativistas angolanos libertados

AA: Nós ainda não conseguimos conversar de uma forma amena com os nossos amigos que estavam "retidos", pelas razões já aqui invocadas. Mas hoje [23.07], teremos uma boa informação sobre o que aconteceu.

A informação que me foi dada pelo Rafael é que ainda hoje voltarão a Catete para, se calhar, tratar de algumas questões. Mas mesmo nós, também tivemos dificuldade de nos comunicar com eles.

Depois de saírem da cadeia, quer o Nelson Sul D'Angola, como o Jesse Lufendo, o Pedro [Narciso] e o Rafael Morais, estiveram todos com os telefones desligados. Desconfio que na altura em que foram retidos, os policiais terão mexido nos seus telemóveis.

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