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ConflitosEtiópia

Etiópia: Otimismo cauteloso antes das negociações de paz

Isaac Kaledzi
10 de outubro de 2022

Analistas africanos falam à DW dos desafios na resolução do conflito na região de Tigray, depois de várias tentativas falhadas. O conflito já causou muitos mortos e milhões de deslocados nos últimos dois anos.

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Äthiopien Tigray Konflikt Symbolbild
Foto: Eduardo Soteras/AFP/Getty Images

Antes das tão esperadas negociações de paz facilitadas pela União Africana entre o governo federal da Etiópia e o governo regional da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF) este fim de semana, analistas africanos alertaram que aresolução do conflito pode ser um desafio, a menos que as duas fações mostrem sinceridade e compromisso.

O analista político etíope, Befekadu Hailu, elogia o facto das duas partes concordarem em negociar.

"O facto de que uma data e um local serem decididos para as facções em conflito falarem de paz é uma notícia muito agradável porque, até agora, houve tentativas de negociações, mas nunca foram transparentes, nem nunca no informaram sobre um encontro para discutir coisas sérias entre representantes das partes em conflito, então isto é um grande desenvolvimento, é bom ouvir isto.

A União Africana espera que as negociações na África do Sul possam acabar com os combates na região de Tigray. Não é claro quantas pessoas morreram no conflito nos últimos dois anos, mas algumas estimativas colocam o número em quase 500.000. Existem cerca de 3 milhões de deslocados internamente, de acordo com as Nações Unidas.

Tentativas falhadas

Tigray-Krise in Äthiopien
As negociações ocorrem mais de um mês após a retomada dos combates em Tigray.Foto: UGC/AP/picture alliance

Esta não é a primeira vez que as duas partes se comprometem com negociações de paz. Mas os esforços anteriores para as hostilidades não surtiram efeito.

Representantes da capital da Etiópia, Adis Abeba, e da capital regional de Tigray, Mekelle, reuniram-se duas vezes este ano – nas Seychelles e no Djibuti.

O analista de segurança africano Adib Saani, que também saudou as últimas negociações de paz, alertou que as conversações não podem produzir paz a menos que ambas as partes mostrem um certo nível de compromisso.

"Nenhuma quantidade de negociações pode trazer paz à região a menos que ambas as partes mostrem um certo nível de compromisso, não apenas mostrando, mas demonstrando-o, e isso está a faltar porque quase parece que existem forças de terceiros que estão a alimentar a situação lá. A questão é como eles são capazes de obter as armas? Eu penso num embargo internacional de armas. Porque quanto mais armas chegam à área, mais as várias partes se fortalecem e mais lutas acontecem. A solução para o que está a acontecer na Etiópia vai além da Etiópia", considerou.

Confiança nos mediadores

Tigray-Krise in Äthiopien
Esta não é a primeira vez que as duas partes se comprometem com negociações de paz.Foto: Ben Curtis/AP/dpa/picture alliance

Segundo Hailu, o governo etíope e os representantes do TPLF não confiaram nos mediadores nas conversas anteriores. Explica que as facções em guerra não tinham confiança suficiente em diferentes órgãos que tentavam moderar as negociações.  

"A principal razão para os fracassos anteriores na tentativa dos órgãos internacionais de trazer os dois órgãos para negociações é, acho, a falta de compromisso de ambas as partes. Ambos os partidos usaram a guerra para sua agenda política. Eles não mostram total comprometimento na minha opinião", acrescenta.

As negociações ocorrem mais de um mês após a retomada dos combates em Tigray, depois de meses de relativa calma.

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