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Cafunfo: "Todos os dias à noite ouvimos tiros", diz ativista

5 de fevereiro de 2021

A ativista Laura Macedo é impedida há três dias de entrar em Cafunfo, onde no sábado várias pessoas morreram na sequência de uma manifestação convocada pelo Movimento do Protetorado Português da Lunda Tchokwe.

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Fotografia de arquivoFoto: Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe

Quase uma semana depois dos violentos incidentes em Cafunfo, província angolana da Lunda Norte, no último sábado (30.01), a região continua debaixo de fogo.

"Todos os dias à noite nós ouvimos tiros e vemos no céu balas tracejantes", conta a ativista Laura Macedo, que há três dias dorme e acorda dentro do carro, a cerca de 5 km de Cafunfo, porque as forças de segurança a impedem de entrar na vila.

Angola Luanda Aktivist Laura Macedo
Ativista Laura MacedoFoto: Borralho Ndomba/DW

Laura Macedo não tem tido acesso a água nem a comida, assim como uma delegação de cinco deputados da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

"No primeiro dia, os familiares trouxeram-nos água e alguma comida e desde ontem que não permitem mais. Para nós não entra comida, não entra nada, ordem do comandante", conta em entrevista à DW África.

Presença massiva de militares

Segundo a ativista, ao fim de tantos dias, os moradores da região começam a voltar às suas rotinas, embora o ambiente vivido seja de tensão e medo com a presença massiva de forças militares nas localidades.

"Hoje pela primeira vez eles permitiram que as senhoras fossem trabalhar nas lavras. Já não iam desde sábado. A situação está instável. As pessoas veem alguém que conhecem e não cumprimentam com medo. As pessoas estão a olhar de soslaio. Fiz uma provocação a duas senhoras que estavam a passar, dei 'bom dia' e uma delas disse: 'deixa só, mana'. Porquê? Porque os polícias estão ali", relata.

Laura Macedo diz que já recebeu ameaças.

Angola Proteste in Luanda
Em Luanda, jovens protestaram na quinta-feira (04.02) contra os incidentes de Cafunfo e exigiram justiçaFoto: Borralho Ndomba/DW

"Ontem houve militares que vieram aqui fazer uma demonstração de força. Vieram dois carros cheios de militares, a pularem dos carros, a ameaçarem-nos. Tiveram aqui uma meia hora e foram-se embora."

"Não existem interesses em diamantes"

A manifestação de sábado passado em Cafunfo foi convocada pelo Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe, que reivindica a autonomia para a região das Lundas, com grandes riquezas diamantíferas. O protesto foi reprimido pelas forças de segurança.

Segundo a polícia, seis pessoas morreram, mas, de acordo com várias organizações, o número de mortos é bastante superior.

Na quinta-feira (04.02), o movimento rejeitou acusações de que esteja a agir a mando de forças estrangeiras. Disse ainda que "não existem interesses em diamantes ou alguma coisa obscura por detrás da reivindicação legítima", pode ler-se num comunicado.

O grupo sublinha igualmente que "não possui armas" nem Exército e que está comprometido "com a paz e estabilidade político-militar".

"Estamos abertos para dialogar com o Governo de Angola enquanto cidadãos organizados", garante o movimento. O mesmo comunicado desmente ainda a alegada fuga do seu líder, José Mateus Zecamutchima.

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