A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) divulgou este fim de semana os cabeças de lista a governadores provinciais e ao Parlamento, assim como o manifesto do partido no poder às eleições de 15 de outubro.
A atual governadora do Niassa, Francisca Tomás, vai concorrer em Manica, e o seu homólogo de Cabo Delgado e quadro sénior da organização juvenil, Júlio Parruque, disputa o lugar na província de Maputo, enquanto o chefe do Executivo em Inhambane, Daniel Chapo, mantém-se na mesma província.
Destaque ainda para a indicação do antigo presidente do município de Quelimane, Pio Matos, para concorrer na província da Zambézia e do empresário e antigo primeiro secretário da FRELIMO em Sofala, Lourenço Bulha, que vai disputar o cargo na mesma província.
"Pessoas certas no lugar certo"
"Acho que está aqui em marcha uma transição geracional, é o resgate da meritocracia", afirma em entrevista à DW África o analista moçambicano Egídio Vaz, que elogia o partido no poder pela escolha de "pessoas certas no lugar certo".
"São pessoas que estão muito bem inseridas na sociedade. A sua colocação é intuitivamente demonstradora das prioridades sobre as quais o Governo a ser eleito, caso seja da FRELIMO, vai incidir", observa.
Como exemplo, Egídio Vaz cita a indicação para a província de Niassa de uma engenheira agrónoma e funcionária superior do Instituto Nacional do Algodão, Judite Massenguele, numa altura em que o partido pretende apostar mais na agricultura e priorizar a diversificação dos produtos de exportação.
O analista aponta ainda a indicação para Cabo Delgado de Valgy Tualibo, atual administrador de Palma, na província de Cabo Delgado, uma das zonas atingidas pela atuação de insurgentes armados, e que poderá contribuir para a segurança da região.
Incerteza eleitoral
A FRELIMO apresentou os seus cabeças de lista a governadores provinciais depois das outras duas principais forças políticas do país, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terem anunciado as suas escolhas.
Olhando para os concorrentes apontados pelos três partidos, Egídio Vaz considera que tudo pode acontecer em algumas zonas do país. "Espero e antevejo lutas renhidas nas províncias de Sofala, da Zambézia e de Nampula, porque tradicionalmente a oposição teve vantagem. Todavia, tendo em conta a atual situação política dos partidos da oposição, julgo que a incerteza eleitoral está instalada."
A incerteza eleitoral nas zonas predominantemente da RENAMO e do MDM deve-se às grandes convulsões internas em que os dois partidos estão envolvidos, encontrando-se, neste momento, em processo de reorganização, lembra o analista.
FRELIMO aposta no combate à corrupção
Já a FRELIMO parte para as eleições de outubro com um manifesto centrado no combate à corrupção, na transparência governativa, justiça social e inclusão, segundo o líder do partido, Filipe Nyusi.
O chefe de Estado moçambicano destacou ainda a estabilização do desenvolvimento económico, a melhoria do ambiente de negócios, promoção da estabilidade macroeconómica, desenvolvimento do capital humano, melhoria da qualidade de vida dos moçambicanos e a industrialização.
O analista Egídio Vaz considera os objetivos realistas: "Ele concentra-se essencialmente em três pólos, tendo no homem a sua centralidade, mas também lança uma utopia realizável, que é a industrialização, e conta seguramente com os recursos que eventualmente começarão a afluir para Moçambique, de forma a diversificar a economia."
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Um "amor" sem fim
As carrinhas de caixa aberta "mylove" (em português, meu amor) continuam a ser uma das soluções para o crónico problema da circulação ente as duas cidades. São visíveis nesta imagem, numa auto-estrada, os riscos deste meio de transporte. É um grande desafio para os dois municípios.
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
O problema do lixo
A gestão de resíduos sólidos é também uma dor de cabeça comum. Em Maputo, a lixeira de Hulene (na foto), onde 16 pessoas perderam a vida num desabamento, no início do ano, continua envolta em polémica. Apesar da promessa de encerramento, o local continua a receber muito lixo. Já na Matola, nas zonas suburbanas, o problema do lixo passa pela falta de contentores e viaturas de recolha.
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Construção desordenada
A requalificação de alguns bairros de Maputo também deverá dar trabalho ao próximo edil. Em muitos, faltam mesmo vias para a entrada de viaturas para abrir canais de água e colocar postes de eletricidade. No passado, em Maputo e na Matola, o combate à ocupação ilegal e desordenada do espaço urbano incluiu a demolição de centenas de residências privadas, o que gerou muitas críticas.
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Desorganização do setor informal
Em várias zonas de Maputo e na Matola, o comércio informal ganhou muita força, mas os municípios têm dificuldades em regular esta atividade. À falta de espaços convencionais, o setor informal domina as bermas de estradas e instala-se junto a escolas e residências – de forma desorganizada.
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Xilequeni e o drama de vender na beira da estrada
No maior mercado informal da capital, Maputo, é grande a procura de espaços para exercer a atividade. Muitos vendedores acabam nas bermas das rodovias e já se registaram casos de atropelamentos. Os vendedores não querem instalar-se nos mercados convencionais, afirmando que nestes locais não há clientes.
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Polana às moscas
Um exemplo é o mercado Polana, em Maputo. Na foto, vê-se que está praticamente vazio. O município de Maputo desdobra-se para construir ou melhorar as condições dos mercados com vista a retirar os vendedores das ruas. A guerra parece não ter fim à vista. Muitas vezes, a polícia municipal tem-se mobilizado, chegando a usar cães para retirar os vendedores dos passeios.
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Pavimentar estradas
Ainda há muitas estradas por pavimentar no município da Matola. A cidade cresce e os bairros que vão surgindo clamam por vias de acesso para facilitar a mobilidade. Nos dias chuvosos, muitas rodovias ficam intransitáveis e as viaturas, incluindo as de transporte coletivo, não podem circular. Conseguirá o novo edil da Matola resolver o problema das vias de acesso?
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
O fim dos chapas?
Entre 2005 e 2009, o então edil de Maputo Eneas Comiche declarou "guerra" aos chapas. Queria autocarros mais espaçosos para acabar com o trânsito. Mas a gestão dos transportes ainda é uma dor de cabeça. Os munícipes chegam a fazer quatro ligações para chegarem ao trabalho. Os "mini-bus" são autênticos campeões de encurtar rotas. A polícia municipal é acusada de colaborar, em troca de dinheiro.
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Um parque industrial criticado
A indústria é a maior fonte de receita para o Conselho Municipal da Matola. É um dos municípios que mais lucra no setor, dado que a maior parte das indústrias do país está aqui concentrada. Mas há muitas críticas à gestão das receitas. E as fábricas de alumínio na Matola contribuíram para o agravamento dos níveis de poluição. As partículas libertadas põem a saúde da população em risco.
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Conflito de terras
É um problema interminável no município da Matola: o conflito entre camponeses e empresas que querem exercer a sua atividade nas terras de quem lá mora. São muitos os casos de disputa entre cidadãos e médias empresas para resolver no município.
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Consequências das chuvas
Na periferia de Maputo, depois da chuva, as vias ficam intransitáveis. Esta é a saída de um dos bairros para a estrada principal, mas quando há chuva os moradores procuram outras soluções que os obrigam a fazer manobras que só criam congestionamento de trânsito. As inundações não afetam apenas a capital. Na Matola, tal como em Maputo, há bairros que ficam meses com água estagnada.
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Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Faltam transportes públicos
Já se veem alguns autocarros, mas são poucos os transportes públicos coletivos nos bairros de expansão no município da Matola. O próximo edil terá a dura tarefa de encontrar uma solução para a deslocação dos munícipes.
Autoria: Romeu da Silva (Maputo)