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Angola: Sindika Dokolo processa empresa de diamantes Sodiam

Lusa | ni
19 de dezembro de 2019

O empresário e marido de Isabel dos Santos está a processar a empresa estatal angolana por alegadamente ter destruído a marca da sua joalharia, a De Grisogono. Sindika Dokolo exige uma indemnização.

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Sindika Dokolo, empresário congolês e marido de Isabel dos SantosFoto: privat

Na origem do diferendo está o anúncio, em novembro de 2017, pela Sodiam, responsável pela comercialização dos diamantes do país, da saída da sociedade que controla a holding do grupo 'De Grisogono', a joalharia de luxo suíça detida por Sindika Dokolo, empresário e marido de Isabel dos Santos, e pela empresa angolana (em partes iguais).

"Vou pedir reparação [indemnização], não me cabe a mim determinar. Perdi mais do que a Sodiam", garante Sindika Dokolo, rejeitando as alegações da administração, que se queixa de 200 milhões de dólares perdidos neste negócio.

Motivos da saída da Sodiam

Em novembro de 2017, a informação foi transmitida em comunicado pelo conselho de administração da Sodiam, liderado por Eugénio Bravo da Rosa, alegando que "por razões de interesse público e de legalidade" adotou "um conjunto de deliberações tendo em vista a sua saída da sociedade de direito maltês Victoria Holding Limited".

Por via desta, a Sodiam detinha de forma indireta "uma participação societária minoritária na sociedade holding do grupo joalheiro 'De Grisogono'".

"A participação da Sodiam EP na Victoria Holding Limited, e indiretamente no grupo 'De Grisogono', gerou, desde a sua constituição, em 2011, exclusivamente custos para a Sodiam, em virtude quer dos financiamentos bancários que contraiu, quer dos resultados negativos que têm sido sistematicamente apresentados pelo grupo, decorrentes de um modelo de gestão adotado a que a Sodiam EP é e sempre foi alheia", referia o comunicado de 2017.

Tentativas para uma saída estruturada da Sodiam

Isabel dos Santos
Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente de Angola José Eduardo dos Santos, e esposa de DokoloFoto: picture-alliance/dpa/epa/B. Fonseca

O empresário recorda ainda que, minutos antes deste anúncio público, em comunicado enviado à imprensa, em Luanda, tinha estado reunido com a administração para tentar "preparar uma saída estruturada da Sodiam", para não afetar o valor e reputação da 'De Grisogono'.

"Para que se recuperasse o maior montante possível de uma venda (...) Uma declaração dessas mostra que nunca houve realmente vontade de dar uma chance ao negócio, para ser vendido", atira.

Dois anos após este anúncio, a Sodiam não vendeu a sua posição na sociedade e, além dos vários "entraves", segundo o empresário congolês, o anúncio que fez também afetou qualquer possibilidade de isso acontecer.

"Se quiser vender o seu carro e num anúncio de jornal escreve que é um carro que não funciona, que dá sempre problema, que dia sim dia não tem de ir à oficina, obviamente que não vai conseguir vender. Ou seja, foi deliberadamente uma destruição de valor", acusou o marido da filha dos ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.

Os privilégios acabaram

A joalharia 'De Grisogono' comprou em 2016 o maior diamante encontrado em Angola, que foi transformado numa joia rara de 163,41 quilates leiloado pela Christie's, por 28,3 milhões de euros.

O diamante, o 27.º maior em todo o mundo, tinha originalmente 404,2 quilates e sete centímetros de comprimento, quando foi encontrado, em fevereiro de 2016, no campo do Lulo, na Lunda Norte, no leste de Angola.

Desde que chegou ao poder em Angola, em 2017, o Presidente João Lourenço tem vindo a travar e reverter vários negócios que envolvam interesses públicos feitos durante a governação anterior, nomeadamente envolvendo os filhos do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

A ação judicial que nunca aconteceu

Diamantenschleifer in Angola
Trabalhador a cortar um diamante em AngolaFoto: imago/Xinhua

Sindika Dokolo sublinhou que, apesar das dúvidas legais manifestadas pela Sodiam, a empresa angolana não intentou qualquer ação no tribunal arbitral de Londres: "Bastava atacar-me no tribunal, em Londres. Em fórum próprio nunca o fizeram".

Sindika Dokolo garante que face ao acordo cambial que foi feito no âmbito do negócio, pagando em kwanzas, as perdas da Sodiam são atualmente substancialmente reduzidas, tendo de "reembolsar menos de 20 milhões de dólares".

 "Teríamos vendido a empresa talvez por 60 milhões, 70 milhões de dólares, seja o que for. Mas a Sodiam teria recuperado metade deste montante, teria pago a sua dívida bancária e ficado com uma margem financeira", garante. 

"Não faço contra o país, mas não posso deixar essas pessoas destruir assim valor"

Sobre o projeto da joalharia de luxo 'De Grisogono', que pretendia impulsionar internacionalmente a venda de diamantes de Angla e, afirma, toda a cadeia de negócio, - criada em 2012 e que cinco anos depois tinha alcançado o equilíbrio das contas - admite que a viabilidade está comprometida pelo abalar das relações com os criadores, trabalhadores, fornecedores e clientes da empresa suíça.

"Acho que vai ser muito complicado porque quando um acionista não quer que o projeto avance, não quer dar confiança ou apoio, é muito difícil ter gestores, substituir as vontades dos acionistas", assume, apontando tratar-se de "um mundo muito pequeno, muito fechado, onde tudo se sabe". 

E eventuais compradores, assegurou, "preferem aguardar que a empresa morra para depois comprar a marca por quase zero".

"É uma pena para mim, porque eu devo muito a Angola. É um país que me acolheu, custa-me ter que fazer isto, mas não o faço contra a instituição Sodiam, não faço contra o país, mas não posso deixar essas pessoas destruir assim valor, sujar assim nomes e tenta reescrever a história à medida do seu interesse político do momento", concluiu.

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