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Advogado denuncia tortura e isolamento de Kalupeteka

Madalena Sampaio8 de junho de 2015

Julino Kalupeteka está a ser vítima de "tortura psicológica" na cadeia no Huambo onde está detido, denuncia o advogado do líder da seita angolana. David Mendes quer um novo interrogatório e a reconstituição do crime.

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Kalupeteka está em prisão preventiva há mais de um mês e meioFoto: Reuters/Coroado

No final da semana passada (04.06), o advogado da Associação Mãos Livres, que vai assegurar a defesa em tribunal do líder da seita religiosa "A Luz do Mundo", conseguiu finalmente falar com o seu cliente.

Em entrevista à DW África, David Mendes conta que além de "manter marcas de tortura física", Julino Kalupeteka está isolado numa área de alta segurança da prisão e sem qualquer tipo de informação. O advogado espera que o líder religioso seja novamente inquirido, desta vez na presença dos advogados que o defendem, e também vai pedir a reconstituição do crime.

Kalupeteka está em prisão preventiva há mais de um mês e meio, na sequência dos confrontos na Serra Sumé, província do Huambo. As autoridades falam em nove polícias mortos e 13 vítimas entre os fiéis. Outros relatórios referem uma centena de mortos, enquanto a oposição angolana contabilizou mais de mil mortos.

A DW África contactou o comandante da Polícia Nacional de Angola para obter uma reação às denúncias de tortura feitas pela Associação Mãos Livres. O comissário-geral Ambrósio de Lemos disse "não ter sido informado sobre o caso" e que "não tem nada a declarar", uma vez que "nada sabe sobre o assunto".

DW África: Na semana passada, conseguiu finalmente reunir-se com Julino Kalupeteka. Em que estado o encontrou?

David Mendes (DM): Quando ele se apresentou [na esquadra], foi vítima de tortura física por parte da polícia e mantém os sinais dessa tortura. Falamos agora naquilo que consideramos ser tortura psicológica pelo facto de ele estar sozinho numa cela de alta segurança para mais de 30 pessoas. E não tem contacto com o mundo externo, não tem acesso a jornais, a rádio, a televisão. Apenas uma vez ou outra recebeu o filho e a mulher do filho. O que quer dizer que está sem contacto com o mundo externo e está sem informação. E particularmente o facto de estar confinado num espaço sozinho, sem contacto com outras pessoas é, no nosso entendimento, uma tortura psicológica.

Advogado denuncia tortura e isolamento de Kalupeteka

DW África: O que é que a Associação Mãos Livres pensa fazer em relação a estes atos de tortura?

DM: Estamos a trabalhar neste processo e a recolher informações complementares e faremos chegar essas nossas conclusões ao procurador que está a dirigir o processo.

DW África: Como foi este primeiro contacto com Julino Kalupeteka para a Associação Mãos Livres?

DM: Para nós foi um contacto excelente, permitiu-nos ter uma ideia do que se passou e também dos antecedentes. Não se fala dos antecedentes. Estes poderão levar-nos aos acontecimentos no monte Sumé.

DW África: Em que ponto está este processo? Como pensa que se irá resolver, tendo em conta dificuldades como o acesso ao local onde os confrontos aconteceram?

DM: Vai haver uma reconstituição do crime e estamos seguros que estaremos no local aquando da reconstituição do crime.

DW África: Querem também que Julino Kalputeka seja novamente inquirido, mas agora na presença dos seus advogados. Tem ideia de quando acontecerá este novo interrogatório?

Angola Anwalt David Mendes
David Mendes, advogado da Associação Mãos LivresFoto: DW/P.B. Ndomba

DM: Ainda não temos ideia. Já fizemos esse pedido e faremos agora um novo pedido, que é a reconstituição do crime. Esperamos que nos próximos dias isso se concretize.

DW África: Tem mais alguma novidade sobre este caso?

DM: Não gostaríamos nesta altura de divulgar à imprensa um conjunto de informações que temos para não perturbar a própria investigação e a própria defesa. Mas o que posso garantir é que o procurador [do Huambo] garantiu-nos que deu ordens para não se prender ninguém no processo de Kalupeteka, nenhum dos seus seguidores, e que quem o fizesse incorreria num crime de prisão ilegal.

DW África: Tendo em conta toda a mediatização em torno deste caso, a Associação Mãos livres já afirmou que dificilmente Julino Kalupeteka terá um julgamento justo. Mantém-se este receio?

DM: Poderemos ter dificuldades nesta altura de acesso a alguns elementos de provas. Mas estamos a trabalhar nos antecedentes e a partir dos antecedentes acredito que poderemos ter elementos suficientes que nos dêem uma linha de defesa diferente daquela que tentávamos inicialmente.

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