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Absolvidos os 27 manifestantes detidos em Angola

19 de setembro de 2011

Polícia não teria conseguido apresentar em tribunal "qualquer prova" que implicasse os arguidos. António Ventura, membro de associação cívica AJPD, diz que polícia também deve ser responsabilizada por atos de repressão.

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A acusação contra os 27 jovens era "insustentável", disseram os advogados de defesa
A acusação contra os 27 jovens era "insustentável", disseram os advogados de defesa

Os 27 detidos numa manifestação realizada a 8 de setembro, em Luanda, foram todos absolvidos esta segunda-feira (19/9). Recorde-se que a manifestação foi em apoio de outros jovens detidos por se manifestarem contra o presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

António Ventura, membro da Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), considerou em entrevista à Deutsche Welle que a libertação de todos foi a decisão mais justa que o tribunal poderia ter tomado.

António Ventura (AV) - Foi feita a justiça no sentido em que foram identificados os elementos que constituíam o chamado "corpo de delito" e de facto não foi provado que os jovens teriam cometido crimes de que eram acusados. No entanto, tivemos informações de que, em muitos aspectos, o tribunal agiu com alguma parcialidade. Muitas vezes, o juiz mostrou-se [sic] que estava em sintonia com o Ministério Público. Só a destreza dos advogados é que conseguiu de facto influenciar desta vez, para que a sentença fosse de acordo com a lei e com a Constituição.

DW - Foi então um processo político, como muitos disseram?

AV - Devemos ver que as acusações feitas a estes jovens foram as mesmas feitas ao primeiro grupo [de 21 jovens que se manifestaram contra o governo a 3/9], que foi julgado e condenado. Muitos elementos de prova alegados no primeiro processo foram os mesmos neste segundo julgamento. No entanto, tivemos um elemento novo e do ponto de vista político não é a mesma coisa prender um grupo de jovens estudantes que estavam a manifestar no Largo da Independência e prender um grupo de manifestantes que estavam junto ao tribunal, onde um dos réus era o senhor Mfuka Muzemba que é o líder da juventude da UNITA [maior partido da oposição]. Não é a mesma coisa. A presença desse réu terá pesado sobremaneira no resultado final desse julgamento.

DW - Mas trata-se de uma sentença inédita em Angola?

AV - Inédita para jovens manifestantes. Porque devo lembrar que elementos do Partido PADEPA também foram detidos pelas mesmas razões e mais tarde absolvidos num processo semelhante.

DW - Será que a absolvição dos jovens vai encorajar outros a participarem na manifestação marcada para Luanda no próximo dia 24 de março?

AV - É provável mas acho que o maior encorajamento para os jovens é o facto de existirem esses dois grupos que foram julgados por razões de alguma maneira políticas. O primeiro grupo foi condenado injustamente e isso parece ter fortalecido a consciência da cidadania e até a vontade de finalmente exercer os seus direitos.

DW - Agora, depois de lida a sentença, acha que o processo está encerrado?

AV - De maneira nenhuma. Um aspecto importante é o facto dos agentes da polícia que violentaram, torturaram e fizeram interrogatórios à margem da lei. Esses agentes, que destruíram todo o material dos jornalistas, deveriam ser criminal e disciplinarmente responsabilizados. O Ministério Público deve ter a coragem de acionar os mecanismos legais para que os agentes da polícia que praticaram esses atos sejam responsabilizados.

Autor: António Rocha

Edição: Renate Krieger