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SaúdeÍndia

Por que a segunda onda da pandemia é tão severa na Índia?

29 de abril de 2021

Nova variante do coronavírus, lentidão na vacinação, negligência com medidas preventivas e líderes políticos e religiosos minimizando a pandemia são fatores que contribuíram para a crise sanitária, apontam especialistas.

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Pessoa de veste protetora de costas observa fogueiras de cremação
Crematórios da Índia estão lotadosFoto: Danish Siddiqui/REUTERS

Hospitais com falta de oxigênio, gente esperando por ambulâncias que nunca chegam, crematórios lotados: depois de uma primeira onda de covid-19 relativamente controlada, a Índia agora vem registrando recordes de contágios diários.

Após contabilizar mais de 360 mil novos casos e ver o total de mortes passar de 200 mil na véspera, o país quebrou um novo recorde mundial nesta quinta-feira (29/04): mais de 379 mil infecções em 24 horas. Mais 3.645 óbitos foram registrados, totalizando quase 205 mil.

"É como um inferno, queima tudo o que toca": assim Shuchin Bajaj, fundador e diretor dos Ujala Cygnus Hospitals descreve a nova onda do coronavírus, uma explosão de infecções sem precedentes causada pela confluência de diversos fatores.

Apesar de ser uma das maiores produtoras de vacinas do mundo, a Índia não tem estoques suficientes para sua própria população elegível à inoculação. A lentidão do governo tem sido criticada, à medida que variantes possivelmente mais transmissíveis se alastram pelo país.

Além das detectadas primeiro no Brasil, África do Sul e Reino Unido, há agora também uma cepa indiana preocupante. Segundo o porta-voz Tarik Jasarevic, da Organização Mundial da Saúde (OMS): "Parece que esta variante tem o potencial de se acoplar mais facilmente a células humanas. Isso obviamente acarretaria mais infecções e mais hospitalizações."

Grande multidão de hindus seminus em águas de rio
Festa hindu do Kumbh Mela reuniu centenas de milhares às margens do rio GangesFoto: Money Sharma/AFP

Complacência que saiu pela culatra

No entanto, muitos cidadãos também começaram a ficar mais complacentes, em especial depois de as taxas de contágio terem se mantido moderadas por diversos meses.

"O que vimos na Índia é claramente o resultado de muitos terem baixado a guarda", avalia Udaya Regmi, diretor para a Ásia da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. "Em certo momento, a primeira onda estava quase sob controle, e as pessoas lentamente pararam de manter certas medidas salvadoras de vidas, como usar máscaras."

Essa complacência não foi impulsionada apenas pela fadiga da pandemia, ressalva a virologista Vineeta Bal, do Instituto Nacional de Imunologia: líderes políticos e religiosos, minimizando publicamente a severidade da pandemia e convocando aglomerações de massa, também foram um fator.

Apesar do surto do novo coronavírus, o governo permitiu que centenas de milhares de hindus devotos participassem do Kumbh Mela, o maior evento religioso indiano, e continuou realizando comícios políticos durante as eleições estaduais. O partido governista Bharatiya Janata (BJP) promoveu reuniões especialmente grandes.

Num desses eventos, no estado de Bengala Oriental, o primeiro-ministro Narendra Modi agradeceu aos presentes por "nunca ter visto antes multidões tão enormes num comício".

"Tudo isso emitiu a mensagem coletiva de que não importava manter distância e usar máscara", conclui Bal. "Essa complacência saiu pela culatra."