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PolíticaÍndia

Europa e EUA anunciam envio de ajuda para a Índia

25 de abril de 2021

Oxigênio, insumos e medicamentos seguem para o país asiático, que registrou 350 mil novos casos neste domingo. Americanos consideram enviar também parte de seu estoque de vacinas da AstraZeneca.

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Pessoa de mascara chora em frente a corpo sendo cremado
Crematórios pelo país não dão conta da demanda e suspenderam rituais tradicionais para os hindusFoto: Adnan Abidi/REUTERS

No dia em que a Índia registrou um recorde mundial da pandemia de covid-19, com cerca de 350 mil novos casos neste domingo (25/04), e conforme relatos de falta de leitos, oxigênio e medicamentos se multiplicam, a União Europeia, os Estados Unidos e outros países anunciaram o envio de ajuda emergencial ao país asiático.

A segunda onda da pandemia na Índia ocorre junto com o surgimento uma nova variante, denominada B.1.617, que contém duas mutações já associadas a menor neutralização por anticorpos, e foi agravada pelo relaxamento das autoridades e da população em relação ao distanciamento social.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que havia declarado em janeiro "vitória" contra o coronavírus, hoje vê seu país se tornar o epicentro mundial da pandemia, com o sistema de saúde perto do colapso e crematórios e cemitérios incapazes de lidar com o alto número de mortes.

A Índia teve oficialmente neste domingo 2.767 novas mortes e soma 192.311 óbitos desde o início da pandemia, mas especialistas afirmam que a contagem está provavelmente muito subdimensionada. Casos suspeitos em geral não são considerados e muitas mortes foram atribuídas a doenças pré-existentes.

Europa envia insumos

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou neste domingo que estava alarmada com a situação na Índia e que o bloco está preparando o envio de insumos para o país, incluindo oxigênio hospitalar e medicamentos.

"A UE [União Europeia] está reunindo recursos para responder rapidamente aos pedidos da Índia por ajuda", disse von der Leyen no Twitter. "Mantemos nossa solidariedade total ao povo indiano!"

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, também afirmou neste domingo que o governo alemão está preparando uma missão de apoio à Índia.

"Ao povo da Índia, quero expressar minha solidariedade sobre o terrível sofrimento que a covid-19 está novamente provocando em suas comunidades", disse Merkel, por meio de mensagem divulgada no Twitter pelo seu porta-voz, Steffen Seibert.

"A luta contra a pandemia é nossa luta conjunta. A Alemanha presta solidariedade à Índia e está preparando com urgência uma missão de apoio", afirmou a chanceler alemã.

O Reino Unido anunciou no domingo que enviará imediatamente 140 respiradores artificiais e 500 tanques de oxigênio à Índia, que deverão chegar ao destino até terça-feira.

"Estamos ao lado da Índia como amigo e parceiro durante esse período muito preocupante na luta contra a covid-19", disse o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em um comunicado.

A França também informou que enviará nos próximos dias um "significativo" fornecimento de oxigênio hospitalar e respiradores mecânicos para a Índia.

Sob pressão, EUA analisam enviar vacinas

A alta de casos e mortes na Índia colocou mais pressão para que os Estados Unidos retirem seu bloqueio à exportação de doses de vacinas e de insumos essenciais produzidos por empresas americanas.

Em 16 de abril, Adar Poonawalla, presidente da maior produtora de vacinas do mundo, o Serum Institute, na Índia, já havia cobrado no Twitter o presidente americano, Joe Biden, a encerrar o embargo sobre a exportação de insumos. Segundo ele, o bloqueio à exportação de alguns produtos, como filtros usados na produção das vacinas, estava afetando a produção de doses na Índia.

Alguns congressistas americanos também pediram recentemente que o governo Biden flexibilizasse regras de propriedade intelectual. A Índia e a África do Sul fizeram uma proposta em outubro de 2020 de suspensão temporária das patentes de vacinas para que mais países pudessem fabricar doses.

Neste domingo, autoridades americanas disseram que enviarão ajuda ao país asiático. "Vamos enviar rapidamente auxílio adicional ao povo da Índia e aos heróis do serviço de saúde da Índia", disse o secretário de Estado Antony Blinken, no Twitter.

Um porta-voz da Casa Branca afirmou que a ajuda inclui insumos para a produção de vacinas, testes de covid-19, medicamentos, respiradores mecânicos e equipamentos de proteção individual.

Anthony Fauci, principal assessor médico de Biden, afirmou em entrevista à rede ABC neste domingo que o governo americano estuda como ajudar a Índia a acelerar seu programa de imunização, seja enviando doses prontas ou colaborando para que o país asiático eleve a sua própria produção de vacinas.

Os americanos têm hoje um estoque de cerca de 30 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, que não foi ainda aprovada para uso no país, e a Casa Branca considera enviar parte dessas doses à Índia, segundo Fauci.

Ações do governo indiano

A capital Nova Déli, cidade indiana atingida com mais força pela covid-19, anunciou neste domingo que prolongará o seu lockdown, que já dura uma semana. Os hospitais enfrentam falta de leitos e oxigênio, e cemitérios estão ficando sem espaço devido ao aumento no número de mortes.

"Decidimos estender o lockdown em mais uma semana... A devastação do coronavírus continua e não há trégua. Todos são favoráveis a estender o lockdown", disse Arvind Arvind Kejriwal, chefe do Executivo de Nova Déli, em anúncio em vídeo.

O governo nacional mobilizou aviões militares e trens para transportar oxigênio para Nova Déli, e retirou tarifas de importação de oxigênio e insumos médicos.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, disse no domingo que seu governo estava enfrentando a alta de casos e mortes com toda a sua força.

"Nosso estado de espírito estava otimista após termos lidado com sucesso com a primeira onda", disse Modi em um pronunciamento no rádio. "Mas esta tempestade balançou a nação".

Corpos cobertos por panos aguardam para serem cremados
Histórias de indianos mortos na fila de hospitais se multiplicamFoto: Amarjeet Kumar Singh/Zuma/picture alliance

Modi tem sofrido críticas por ter permitido que grandes reuniões presenciais religiosas e políticas continuassem acontecendo, e por falhar em preparar o país para a onda devastadora de casos e mortes que o país atravessa no momento.

Desde o final de março, a Índia proibiu a exportação de doses de vacinas produzidas no país para priorizar seu mercado interno, afetando também o acesso do Brasil aos imunizantes.

O Paquistão, antigo rival da Índia, também ofereceu o envio de insumos médicos, após um recente distensionamento das relações entre os dois vizinhos.

"Como um gesto de solidariedade ao povo indiano durante a atual onda de covid-19, o Paquistão ofereceu o envio de ajuda humanitária para a Índia, incluindo respiradores mecânicos", disse o ministro das Relações Exteriores do Paquistão em um comunicado no sábado.

Cenário de guerra

Histórias de indianos desesperados com parentes doentes em busca de oxigênio e leitos hospitalares, ou chorando pela morte de pessoas próximas que não conseguiram ser atendidas, são relatadas na imprensa local e mundial.

A revista semanal The Caravan registrou o luto de uma mulher que havia acabado de perder seu irmão, de 50 anos, após ele não conseguir leito em dois hospitais e morrer na fila de um terceiro quando seu cilindro de oxigênio ficou vazio. Ela culpou o governo Modi pela crise. "Ele literalmente acendeu piras funerárias em todas as casas", disse.

Na cidade de Bhopal, alguns crematórios aumentaram a sua capacidade de algumas dezenas de piras para mais de 50, e mesmo assim há filas de espera que duram horas.

No crematório Bhadbhada Vishram Ghat, funcionários disseram ter cremado mais de 110 pessoas no sábado, apesar de as estatísticas oficiais terem registrado apenas dez mortes por covid-19 naquele dia.

"O vírus está engolindo as pessoas de nossa cidade como um monstro", disse Mamtesh Sharma, um funcionário no local. O fluxo inédito de cadáveres forçou o crematório a suspender cerimônias individuais e os longos rituais nos quais os hindus creem para libertar as almas dos mortos.

"Estamos apenas queimando os corpos conforme eles chegam. É como se estivéssemos no meio de uma guerra", disse Sharma.

bl (AFP, AP, dpa, Reuters)