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Política alemã viajará ao Brasil em busca de mão de obra

21 de janeiro de 2024

Secretária de Saúde do estado da Saxônia e gestores de clínicas locais querem recrutar profissionais para compensar escassez. Ultradireita alemã reage e defende treinar cidadãos em vez de trazer brasileiros.

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Profissional de saúde mexe em aparelhos dentro de um hospital na Alemanha
Alemanha enfrenta escassez de profissionais qualificados. Para combater problema, governo diz que imigração é essencialFoto: Ina Fassbender/AFP/Getty Images

A secretária de Saúde do estado alemão da Saxônia, Petra Köpping, viajará ao Brasil nesta semana com o intuito de recrutar mão de obra para reforçar as equipes médicas estaduais.

Köpping, do Partido Social-Democrata (SPD), mesma legenda do chanceler federal Olaf Scholz, embarca na próxima terça-feira (23/01) com destino a Recife, onde deverá ficar até 28 de janeiro. Ela estará acompanhada por gestores de diversas clínicas da Saxônia.

A secretária de Saúde afirmou que a viagem visa abrir caminho para que principalmente instituições de saúde e hospitais menores do estado encontrem os profissionais que necessitam com tanta urgência, especialmente enfermeiros, em meio à escassez de mão de obra.

Segundo Köpping, o recrutamento de profissionais brasileiros é uma medida em que ambos os lados ganham. "O Brasil não é um país em que há prejuízo quando as pessoas vão embora. É claro que não é possível recrutar [profissionais] em países que têm seu próprio problema de escassez", disse.

Entre os membros da comitiva de Köpping estarão gestores da Clínica Vamed Schloss Pulsnitz, especializada em reabilitação neurológica e neurocirúrgica. A instituição na cidade de Pulsnitz, perto de Dresden, já conta com profissionais brasileiros em sua equipe.

Köpping afirmou que a Clínica Vamed faz esse recrutamento de estrangeiros "maravilhosamente". "[A clínica] possui um responsável pela integração que cuida não só da integração dentro da empresa, mas também do que os especialistas estrangeiros podem fazer no seu tempo livre."

Petra Köpping, secretária de Saúde da Saxônia
Petra Köpping embarca para Recife na próxima terça-feiraFoto: Matthias Rietschel/dpa/picture alliance

Ultradireita condena viagem

O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) na Saxônia reagiu à viagem de Petra Köpping ao Brasil em uma nota intitulada "O que Köpping faz no Brasil? Treine profissionais alemães em vez de brasileiros!"

O texto afirma que a "viagem provavelmente custará muito dinheiro dos contribuintes". Também põe a culpa da escassez de mão de obra na própria Köpping, que, segundo a AfD, "expulsou muitos profissionais de enfermagem do setor com sua exigência discriminatória de vacinação".

Em 2022, a vacinação contra a covid-19 passou a ser obrigatória para profissionais de saúde da Alemanha. A medida foi aprovada pelo Parlamento alemão (Bundestag) e confirmada posteriormente pelo Tribunal Constitucional Federal do país.

Na nota, a AfD diz ainda que "milhares de ucranianos na Saxônia estão recebendo benefícios de cidadania em vez de serem incentivados pela secretária a trabalhar". E acusa Köpping de querer aproveitar a viagem ao Brasil para fazer um "passeio agradável a trabalho".

Autoridades alemãs têm sido categóricas ao afirmar que a contratação de profissionais estrangeiros qualificados é essencial para compensar a falta de mão de obra. "Precisamos da imigração", disse Andrea Nahles, chefe da Agência Federal de Trabalho alemã, no ano passado, quando dados mostraram que o déficit de profissionais qualificados atingiu nível recorde no país.

A AfD tem sido alvo de intensos protestos nas ruas da Alemanha nos últimos dias justamente por sua retórica anti-imigração. São crescentes os pedidos para que o partido seja banido no país, após vir à tona que alguns de seus membros realizaram uma reunião secreta para discutir um plano de deportação de milhões de estrangeiros.

O encontro ocorreu em Potsdam em novembro e incluiu, além de membros da AfD, neonazistas e políticos de outros partidos, como a União Democrata Cristã (CDU), da ex-chanceler federal Angela Merkel, hoje a maior sigla da oposição.

Durante a reunião, um líder extremista austríaco, Martin Sellner, teria apresentado um plano para expulsar da Alemanha milhões de requerentes de refúgio e imigrantes, incluindo aqueles com cidadania alemã que não se integraram no país.

O caso chocou muitos na Alemanha, num momento em que a AfD está em alta nas pesquisas eleitorais antes de três grandes eleições regionais no leste do país, onde o apoio ao partido é mais forte, incluindo no estado da Saxônia.

Protesto pró-democracia em Berlim
Dezenas de milhares têm saído às ruas de várias cidades da Alemanha contra o extremismo de direita e seu discurso anti-imigraçãoFoto: Christian Mang/AFP/Getty Images

Escassez de mão de obra na Alemanha

A Alemanha enfrenta um problema sério de escassez de profissionais qualificados na área médica. Enquanto vem aumentando o número de habitantes que precisam de cuidados de saúde, em meio ao envelhecimento da população, encolheu o número de profissionais da área.

Em 2022, mais de 53 mil pessoas iniciaram treinamento especializado de enfermagem – 4 mil a menos do que no ano anterior, numa queda de 7%. Para cada enfermeiro desempregado da Alemanha, há atualmente três vagas à espera de candidatos, segundo dados de 2023.

Portanto existe "uma óbvia falta de profissionais de cuidados", como define a Agência Federal de Trabalho alemã. Para piorar, a Fundação de Proteção dos Pacientes alerta que nos próximos anos se aposentam 500 mil funcionários de hospitais, clínicas e ambulatórios.

Em contrapartida, o Brasil conta com 2,5 milhões de cuidadores formados, e em 2021 a taxa de desemprego no setor era de 10%, registra o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

A situação na Saxônia, assim como a média alemã, é crítica. O número de habitantes que precisam de cuidados no estado aumentou em quase 24% entre 2019 e 2021, chegando a cerca de 311 mil pessoas. Até 2035, estima-se que esse número suba para 326 mil.

A fim de atender essa demanda, o governo estadual prevê que até 2035 será necessário contratar ao menos 5 mil profissionais em instituições de saúde.

Por que a Alemanha quer tanto os profissionais brasileiros?

Ministros alemães já foram ao Brasil

A viagem de Köpping ao Brasil – o principal parceiro comercial da Alemanha na América Latina – em busca de mão de obra qualificada não é pioneira.

Em junho do ano passado, os ministros alemães do Exterior, Annalena Baerbock, e do Trabalho, Hubertus Heil, já haviam ido ao Brasil como parte de uma iniciativa oficial visando trazer profissionais brasileiros da área de saúde para trabalharem na Alemanha.

À época, Baerbock declarou que enfermeiros brasileiros "já são recebidos de braços abertos na Alemanha" e que, agora, o governo federal queria "ampliar essa parceria".

Heil, por sua vez, afirmou que àquela altura menos de 200 enfermeiros brasileiros atuavam em seu país, enquanto a Agência Federal de Trabalho planeja contratar até 700 profissionais por ano.

ek (ots)