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Morte de Abu Bakr al-Baghdadi não resolve grandes problemas

Autorenbild l Kommentatorenbild DW Carla Bleiker PROVISORISCH
Carla Bleiker
28 de outubro de 2019

O líder da organização terrorista "Estado Islâmico" está morto, e o presidente americano se gaba por essa "vitória". Mas o autoelogio é desmerecido, e não há muito a festejar, opina Carla Bleiker.

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Donald Trump fala na Casa Branca
Autolouvores na Casa Branca: Trump anuncia ao mundo "sua" vitória contra o terrorismoFoto: picture-alliance/AP Photo/A. Harnik

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é um mestre da encenação. Com suspense calculado, na noite de sábado (26/10) ele anunciou no Twitter: "Uma coisa muito grande acaba de acontecer!" A referência era à morte de Abu Bakr al-Baghdadi: o líder da organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) sucumbira numa ofensiva no noroeste da Síria.

Soldados americanos haviam pousado com diversos helicópteros diante da casa em que ele estava. O terrorista fugiu por um túnel, onde detonou um colete explosivo, matando a si e a seus filhos. "Os EUA levaram à Justiça o terrorista número um do mundo", disse Trump aos jornalistas no domingo, na Casa Branca. "Durante três anos eu procurei por ele."

O presidente gostaria de apresentar a morte de Baghdadi como sua vitória pessoal – uma vitória no Oriente Médio de que no momento ele bem precisa. Com a retirada das tropas do norte da Síria, que anunciou no início de outubro e que foi seguida por uma ofensiva da Turquia contra milícias curdas, ele colocou contra si até mesmo aliados nas alas republicanas.

Os curdos, que lutaram ao lado dos americanos contra o EI na região, sentiram-se traídos. E acima de tudo estava o temor que a retirada dos EUA fosse acarretar um recrudescimento do grupo terrorista na Síria. Há uma semana, o secretário da Defesa, Mark Esper, relatou a fuga da prisão de 100 combatentes do EI, durante a ofensiva militar da Turquia no norte sírio.

Assim, a morte do terrorista mais procurado não poderia vir em melhor hora. É um tanto "infeliz" três crianças terem também morrido durante a operação, mas, seja como for: nenhum americano morto! Essa parece ser a mentalidade de Washington, onde se celebra a missão como um grande sucesso. Pelo menos para os estrategistas militares deve estar claro: o óbito de Baghdadi não resolve nenhum dos problemas com que os EUA se confrontam no Oriente Médio.

Trump quer sair o mais rápido das "guerras sem fim" na região. Nesse contexto, parece tanto fazer que aliados íntimos ele vá afastar ou até mesmo perder por longo tempo. Um líder do EI morto não compensa todos os terroristas que puderam fugir da prisão, ele não tem como recuperar a confiança dos curdos abandonados pelos EUA e que perderam camaradas ou familiares na ofensiva do Exército turco.

Independente dos problemas que continuam existindo, as Forças Armadas americanas realizaram uma missão da forma que seu comandante-em-chefe imaginara. No discurso do domingo, Trump agradeceu à Rússia, Turquia, Iraque e aos combatentes curdos em território sírio. Porém quem ele mais elogiou foi a si mesmo.

Pouco depois de a notícia da morte de Baghdadi ir a público, segundo o jornal Washington Post a campanha de reeleição trumpista enviou um e-mail a potenciais apoiadores afirmando: "O presidente Trump levou à Justiça o terrorista número um do mundo."

Quando, em 2011, Osama bin Laden foi morto pelos Navy Seals americanos, durante a presidência de Barack Obama, Trump reclamou que era ridículo louvar o líder democrata pelo fato: "Parem de elogiar Obama por ter matado Bin Laden", tuitou o então astro de reality TV. "Os Navy Seals mataram Bin Laden."

Em diversas aparições televisivas Trump repetiu, na época, que Obama se gabava de forma totalmente desmerecida pela morte do líder terrorista. Após a morte de Abu Bakr al-Baghdadi, o tom da Casa Branca é outro.

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