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Opinião: Um segundo referendo sobre o Brexit

Georg Matthes
19 de abril de 2017

Eleições antecipadas são chance de britânicos reverem sua escolha de sair da UE. Se a premiê May espera assim melhorar sua posição nas negociações com o bloco, se engana redondamente, opina o jornalista Georg Matthes.

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Georg Matthes é jornalista da DW
Georg Matthes é jornalista da DW

Ninguém poderá dizer mais tarde que os britânicos não tiveram escolha. Pois as eleições legislativas antecipadas no Reino Unido nada mais são do que um segundo referendo sobre o Brexit, uma chance histórica de repor as coisas no lugar. Ainda não aconteceu nada, o país ainda é membro de pleno direito da União Europeia (UE), e apenas enviou uma carta de intenção a Bruxelas.

Mas que fique claro desde já: que depois ninguém venha dizer "Eu não sabia o que significa ficar fora da UE!"; ou "Eu pensava que daqui a pouco a Turquia fosse se tornar um país-membro!"; ou "Eu não queria que o Reino Unido se esfacelasse e que a Escócia se separasse!".

Primeiro votar, depois pensar – a hora disso já passou. Nas horas seguintes ao referendo sobre o Brexit, centenas de milhares de cidadãos britânicos procuravam no Google a resposta à pergunta "O que é a UE?". Por favor, de novo não. Também as mentiras dos partidários do Brexit estão há muito desmascaradas. Ninguém mais fala de bilhões de libras destinados ao sistema de saúde nacional que estariam escoando para Bruxelas.

Mas será isso que a primeira-ministra Theresa May tinha em mente, ao finalmente se decidir pelo pleito antecipado? Seguramente não. Em vez disso, ela simplesmente aproveita a situação propícia, pois ainda lidera com grande vantagem as pesquisas de opinião.

Quando começarem as negociações com a UE, também a Dama de Ferro 2ª vai ter que fazer concessões, o que poderá lhe custar votos. Deste modo, porém, ela tem a chance de ter seu mandato renovado, sem que em 2020 venham lhe cobrar por que o Reino ainda está enviando dinheiro para Bruxelas.

Pois é isso o que acontecerá. As eleições gerais podem adiar as negociações, mas não vão produzir uma saída do Brexit. Para tal, os 48,1% dos eleitores que em junho de 2016 votaram contra a saída do país da União Europeia teriam que se unir no apoio a um partido.

Não tem problema, exulta o Partido Liberal: a pequena e única força política pró-europeia vai conquistar uns votos a mais. Mas o Partido Trabalhista está afundado na crise, e é improvável que se transforme num fórum para os defensores da permanência na UE.

Contudo, se May acha que uma vitória eleitoral lhe proporcionará uma melhor posição nas negociações com Bruxelas, então se engana redondamente. Pois após o pleito dificilmente conseguirá manter o assustador cenário do "Brexit duro" de que ela necessita como massa de negociação.

No meio tempo, os europeus têm oportunidade de observar que efeito a campanha eleitoral terá sobre o Brexit. Pois uma influência o referendo já teve sobre a Europa: nos 27 Estados-membros, cresce a consciência das vantagens que a UE traz consigo, e isso aumenta a capacidade de resistência nas negociações.

Bruxelas não será generosa com o Reino Unido, e muito menos durante a campanha eleitoral. Em vez disso, serão apresentadas respostas claras e fatos objetivos sobre a UE. Desta vez, ninguém vai poder dizer que a União Europeia ficou só observando tacitamente, de fora do campo, enquanto o futuro comum ia por água abaixo.