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Made in Germany: de alemão, só o nome

rw9 de maio de 2004

Produção industrial na Alemanha vem diminuindo drasticamente. Deslocamento da produção para o exterior e importação para montagem final na Alemanha provoca debate sobre o "patriotismo dos empresários alemães".

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Muitos produtos só têm montagem final no paísFoto: dpa

Tão orgulhosos de seus produtos, os alemães mal sabem que marcas de prestígio, como os ursinhos de goma da Haribo, os cremes da Nivea, tênis da Adidas e os postos da rede Aral em que abastecem seus Mercedes ou Volkswagen já não são genuinamente alemães. Embora a Haribo carregue o selo Made in Germany, parte de sua produção foi deslocada de Bonn para a França, Espanha e Inglaterra.

Já a Nivea transferiu sua produção para a Itália e França, enquanto os postos Aral desde 2002 estão nas mãos da britânica BP. A Adidas, por sua vez, concentra 95% de sua produção na Ásia.

Esta prática, hoje em dia usual nas principais marcas alemãs, foi analisada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas IFO, de Munique.

Adidas Schuhe
95% da produção da Adidas é feita fora da AlemanhaFoto: AP

A conclusão é que cada vez mais os produtos "alemães" na realidade são produzidos nos países de mão-de-obra barata, como a Hungria, Polônia e Eslováquia, novos membros da União Européia, o que aumenta ainda mais o exército de desempregados na Alemanha.

Interesses econômicos x patriotismo

O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, recentemente condenou a transferência de centros de produção da indústria para o Leste Europeu como "ato impatriótico". O presidente do Parlamento em Berlim, Wolfgang Thierse, foi além. Ele acendeu uma polêmica no país ao chamar de "estes caras sem pátria" os empresários que deslocam a produção para o exterior.

Como ressalta a revista Focus numa reportagem sobre o tema, muito empresários se dizem mais patrióticos do que são na realidade. Made in Germany para a Porsche não é apenas uma frase, mas um enorme fator de competitividade", destacou o presidente da montadora, Wendelin Wiedeking, durante a abertura de uma fábrica em Leipzig, no Leste alemão, em fevereiro de 2000. Somente a qualidade do trabalho alemão pode justificar o preço de um produto de alta qualidade, salientou.

A realidade, entretanto, é outra. O utilitário esportivo Cayenne, montado em Leipzig, recebe apenas as caixas de câmbio e os motores produzidos na Alemanha, o resto vem da Eslováquia. A estratégia rendeu à Porsche, no ano passado, um lucro líquido recorde de 565 milhões de euros.

Outros, continuam sonhando com estes números. Caso da Siemens, de Munique, que fatura um euro por celular vendido. Para continuar existindo, o centro de produção de Kamp-Lintfort, no oeste alemão, colocou os funcionários contra a parede: ou trabalham mais pelo mesmo salário ou a fábrica será transferida para a Hungria.

Campanha nacionalista

Com os bolsos vazios, o consumidor quer o máximo em qualidade pelo mínimo preço possível. Tanto empresários como consumidores pensam, em primeira linha, nos seus próprios interesses. Mas apelos nacionalistas não são apenas um fenômeno alemão. Já nos anos 80, os sindicatos norte-americanos promoveram uma campanha contra a invasão de automóveis japoneses, mais baratos. Os consumidores, no entanto, não atenderam aos apelos para que comprassem carros "made in USA", embora estivessem em jogo mais de meio milhão de empregos.

A Alemanha, cuja atratividade já sofreu enormes perdas por causa dos altos custos da mão-de-obra, tem a competitividade cada vez mais ameaçada pela inovação, qualificação e tecnologia do Leste europeu e nações asiáticas.

Pizza auf einem Teller
Oetker, sucesso com pizzasFoto: AP

Um dos ramos da indústria alemã que não têm do que se queixar neste contexto é o de alimentos, devido à produção quase que toda automatizada e a grande quantidade de matéria-prima à disposição no país. A Oetker serve de exemplo. Os negócios vão tão bem que a empresa fechou vários centros de produção no exterior para ampliar, por 49 milhões de euros, a fábrica de pizzas em Wittenburg, no norte da Alemanha.

Fórmula do campeão de exportações

Enquanto a tradicional fabricante de equipamentos esportivos Adidas concentra na Alemanha apenas suas áreas de design e marketing, outras mandam fabricar no exterior elementos "essenciais" para seus produtos, como a estrela, símbolo dos carros Mercedes, feita na Turquia.

Como só o acabamento acontece na Alemanha, o país garantiu, mais uma vez em 2003, o título de campeão mundial em exportações, embora a real produção industrial alemã nem seja tão grande. O caso do Cayenne é um exemplo claro, pois só uma pequena parte deste caro veículo da Porsche é realmente "made in Germany".