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Lua, parada intermediária a caminho de Marte?

20 de julho de 2019

Por que os multibilionários Elon Musk e Jeff Bezos estão tão obcecados para pousar em Marte? Afinal, o satélite terrestre parece bem mais próximo e acessível. E há algum tempo se sabe que ele oculta um tesouro: água.

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Na missão Artemis da Nasa, uma estação espacial em órbita será base para exploração lunar
Na missão Artemis da Nasa, uma estação espacial em órbita será base para exploração lunar, e mais alémFoto: NASA

A corrida espacial entre a União Soviética e os Estados Unidos acabou, mas isso não significa o fim do interesse pela Lua. Assim como governos nacionais, companhias multibilionárias têm declarado como sua prioridade o pouso no satélite terrestre – e, por associação, em Marte.

Nos tempos atuais, os protagonistas da corrida são o ex-diretor executivo da Paypal, rapper amador e chefe da Tesla, Elon Musk, e o dono da Amazon, Jeff Bezos, que também é proprietário do jornal Washington Post. A lógica parece ser: quando a regulamentação na Europa ficar rigorosa demais, é preciso abrir a loja em algum outro lugar.

Bilionário apresenta projeto para a colonização de Marte

Ambos pretendem visitar a Lua antes do pouso planejado da missão Artemis, da Nasa, em 2024, continuando onde os 12 astronautas da Apollo pararam. No entanto a meta principal é o planeta Marte. Musk diz que quer ir para o espaço porque "não há nada mais emocionante do que estar lá, em meio às estrelas". As ambições de Bezos, em contrapartida, são impulsionadas pela certeza que "vamos acabar ficando sem energia" na Terra.

Em 2018, Musk publicou um ambicioso estudo onde esboça sua visão da colonização marciana, insistindo na importância de visitar a Lua primeiro, como uma espécie de parada intermediária – uma escolha que tanto Bezos quanto a Nasa consideram prudente.

Os dois multibilionários também se ofereceram para auxiliar na recém-anunciada missão Artemis. Antes programada para levar humanos à Lua em 2028, em março ela foi antecipada em quatro anos, por uma ordem expedida pelo governo Trump.

Simulação de um eventual lançamento para Marte, a partir da Lua, pela companhia espacial SpaceX
Simulação de um eventual lançamento para Marte, a partir da Lua, pela companhia espacial SpaceXFoto: picture-alliance/dpa/Press Association Images/Spacex

A primeira alunissagem, da Apollo 11 com Neil Armstrong e Buzz Aldrin, em 1969, foi mais um triunfo político sobre a União Soviética do que uma conquista científica, já que a missão durou apenas três dias e pouco trabalho científico foi efetivamente realizado.

Nas missões Apollo posteriores, porém, os astronautas recolheram rochas que permitiram entender melhor a composição da superfície lunar. Muitas foram também preservadas, a fim de serem examinadas por gerações futuras, usando tecnologias mais avançadas.

Graças à moderna tecnologia de sensores, cientistas recentemente descobriram a existência de água nos polos norte e sul da Lua. Associada ao saber extraído das rochas lunares, essa descoberta guiará melhor os astronautas da Artemis na prospecção de água lunar.

A existência desse recurso poderia representar uma virada importante se, continuando a explorar, fosse descoberta mais água, e os cientistas encontrassem modos de extraí-la. Uma grande reserva hídrica lunar poderia suprir uma estação espacial no satélite – coisa antes considerada improvável, dada a noção generalizada de que ele seria mais seco do que o Saara.

Jeff Bezos, diretor executivo da Amazon
Jeff Bezos, diretor executivo da Amazon, um dos protagonistas da nova corrida espacialFoto: Reuters/J. Roberts

No momento, quem pretenda colonizar Marte terá que fazer laboriosas viagens a partir da Terra, durando oito meses em cada direção e com alto consumo de energia, explica a astrogeóloga Georgiana Kramer. Uma estação lunar ajudaria a minorar as dificuldades da viagem, com ganho de tempo, energia e dinheiro para os foguetes rumo a Marte.

Por o eixo da Lua não ser inclinado, como o da Terra, seus polos, onde a Artemis pousaria, não recebem nenhuma luz solar, e a água se concentra em crateras profundas. Segundo Sarah Noble, astrogeóloga da Nasa, ainda se desconhece a origem do líquido. Ele pode ser oriundo de cometas e meteoritos (a que o satélite está totalmente exposto, por sua ausência de atmosfera); ventos solares trazendo hidrogênio, que se combinaria com o oxigênio de minerais na superfície lunar; ou antiga atividade vulcânica, liberando água que ainda está retida.

Vulcanismo na infância da Lua também criou tubos de lava – túneis longos e semelhantes a cavernas, por onde o magma fluía –, como os encontrados na Terra em regiões vulcânicas do Havaí e Colorado. Quando se discute, nas redes sociais, se a vida na Lua seria praticável, muitas vezes se sugere a ideia de instalar uma estação espacial num desses tubos.

Ambas as astrogeólogas confirmam essa possibilidade teórica, dependendo do que se descubra durante a missão Artemis. Segundo Kramer, a rocha protegeria da radiação solar e garantiria temperaturas relativamente normalizadas. Noble ressalva, porém, que no curto prazo a vida nos tubos de lava não está nos planos da Nasa, porém mais tarde é possível que eles sejam investigados por robôs.

"Aldeia lunar" projetada pela Nasa
"Aldeia lunar" projetada pela NasaFoto: ESA

Mas tudo segue dependendo de os cientistas examinarem as amostras de água. Por isso a Artemis pousará no polo sul, onde se concentra o maior volume do líquido. Caso se encontre uma boa quantidade, ela poderá ser empregada como combustível do foguete e para beber, facilitando a exploração de Marte.

Seja como for, o planeta vermelho possui mais recursos do que o satélite terrestre, afirma o engenheiro aeroespacial Robert Zubrin num tratado publicado pela revista Ad Astra, da National Space Society. "Em contraste com a Lua, Marte é rico em carbono, nitrogênio, hidrogênio e oxigênio, todos em formas biologicamente acessíveis, como o dióxido de carbono, nitrogênio gasoso, e gelo d'água e permafrost. Na Lua, carbono, nitrogênio e hidrogênio só estão presentes em proporções de um para 1 milhão, assim como ouro na água do mar."

Zubrin é um paladino da exploração de Marte, tanto em sua tese de pesquisa Mars direct, transformada em livro, quanto na qualidade de diretor da Mars Society. Ele assinala que – além da falta de atmosfera, mudanças meteorológicas extremas e uma superfície estéril e radioativa – a Lua não recebe suficiente luz solar natural para que se cultive qualquer variedade de planta – ao contrário de Marte, o que permitirá a futuros colonos se autossustentarem lá.

A análise de Zubrin visa ilustrar por que a vida na Lua só é considerada no contexto de uma parada intermediária a caminho de algo maior e melhor – ou, pelo menos, mais sustentável para populações humanas.

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Fabian Schmidt
Fabian Schmidt Jornalista especializado em Ciência, com foco em tecnologia e invenções.