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PolíticaNova Zelândia

Jacinda Ardern vai deixar cargo de premiê da Nova Zelândia

19 de janeiro de 2023

Elogiada pelo combate à pandemia e por reação a ataque terrorista em 2019, líder de centro-esquerda disse não ter mais energia para comandar governo do país.

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Jacinta Ardern em frente a bandeiras da Nova Zelândia
"Sei o que este trabalho exige e sei que não tenho mais o suficiente no tanque para fazer jus a ele", afirmou ArdernFoto: Loren Elliott/REUTERS

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, uma das primeiras integrantes de sua geração a ser eleita como líder de um país e que se tornou um ícone global da centro-esquerda, anunciou na quinta-feira (18/01) que deixará o cargo que exerce há cinco anos e meio, alegando que não tem "mais energia" para comandar o país.

Em seu mandato, Ardern foi elogiada pela forma como lidou com o pior massacre armado da história do país e com os estágios iniciais da pandemia do coronavírus, mas vinha enfrentado crescentes pressões políticas internas e um nível de críticas de parte da oposição que não havia sido experimentado por líderes anteriores da Nova Zelândia.

Mesmo assim, seu anúncio foi recebido como um choque na nação de 5 milhões de pessoas. Tentando conter as lágrimas, Ardern disse a repórteres em Napier que o dia 7 de fevereiro seria seu último dia como primeira-ministra. "Sei o que este trabalho exige e sei que não tenho mais o suficiente no tanque para fazer jus a ele. É simples assim", afirmou.

Ardern, de 42 anos, disse que reservou um tempo para considerar seu futuro durante as férias de verão. "Eu estaria prestando um péssimo serviço à Nova Zelândia se continuasse", disse ela nesta quinta-feira.

"Eu sou humana. Damos o máximo que podemos pelo tempo que podemos e então é hora. E para mim, chegou a hora. Estou saindo porque com um trabalho tão privilegiado vem uma grande responsabilidade. A responsabilidade de saber quando você é a pessoa certa para liderar – e também quando não é", disse.

Ardern tornou-se uma inspiração para as mulheres depois de conquistar o cargo em 2017, aos 37 anos. Ela parecia anunciar uma nova geração de lideranças – era quase uma millennial, tinha emplacado algumas músicas como DJ em meio-período e não era casada como a maioria dos políticos.

Ela conseguiu vitórias de centro-esquerda enquanto o populismo de direita estava em ascensão em todo o mundo: aprovou um projeto de lei que visava zerar as emissões líquidas de carbono até 2050, a proibição de armas de assalto como rifles e manteve o coronavírus fora da Nova Zelândia por 18 meses.

Em 2018, a Ardern tornou-se a segunda líder mundial a dar à luz enquanto ocupava um cargo. No mesmo ano, levou sua filha bebê para o salão da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

Ataque de supremacista branco

Em março de 2019, Ardern enfrentou um dos dias mais difíceis da história da Nova Zelândia, quando um atirador supremacista branco invadiu duas mesquitas em Christchurch e massacrou 51 fiéis durante as orações de sexta-feira.

Ardern foi amplamente elogiada por sua empatia com os sobreviventes e com a ampla comunidade muçulmana da Nova Zelândia. Após o ataque nas mesquitas, ela conseguiu aprovar rapidamente novas leis proibindo os tipos mais letais de armas semi-automáticas, e um esquema posterior de recompra recolheu mais de 50 mil armas, incluindo rifles, que foram destruídos.

Aya Al-Umari, cujo irmão Hussein foi morto nos ataques, expressou no Twitter sua "mais profunda gratidão" a Ardern, dizendo sua compaixão e liderança durante aquele dia "fez brilhar uma luz em nossa jornada de dor".

Estratégia contra a covid-19

Ardern também foi bem avaliada pelo enfrentamento inicial da pandemia de coronavírus, depois que a Nova Zelândia conseguiu deter o vírus em suas fronteiras por meses, mas em seguida foi forçada a abandonar essa estratégia de tolerância zero à medida que as variantes mais contagiosas se espalharam e as vacinas se tornaram amplamente disponíveis.

Ela enfrentou ira crescente de críticos das restrições para conter a pandemia. Um protesto contra regras de vacinação obrigatórias iniciado no Parlamento no ano passado durou mais de três semanas e terminou com manifestantes atirando pedras na polícia e ateando fogo em barracas e colchões enquanto eram removidos do edifício. Neste ano, Ardern foi forçada a cancelar um churrasco anual que ela costuma realizar devido a temores sobre sua segurança.

Ela anunciou no mês passado que uma comissão analisaria se o governo tomou as decisões corretas na luta contra a covid-19 e como poderia se preparar melhor para futuras pandemias, que deve divulgar seu relatório no próximo ano.

Ideias e execução

Muitos observadores disseram que atitudes sexistas tiveram um papel na raiva dirigida a Ardern. "O tratamento dispensado a ela, os ataques, nos últimos meses têm sido vergonhosos e embaraçosos", escreveu o ator Sam Neill no Twitter. "Todos os que fazem bullying, os misóginos, os amargurados. Ela merecia muito mais. Uma grande líder."

Mas Ardern e seu governo também enfrentaram críticas de que eram bons de ideias, mas faltou capacidade de execução. Seus apoiadores ficaram preocupados com o fato de ela não ter conseguido aumentar a oferta de moradia e reduzir a pobreza infantil, e opositores disseram que ela não estava se dedicando o suficiente ao combate ao crime e à economia.

Ardern descreveu a mudança climática como o grande desafio da sua geração. Mas suas políticas enfrentaram ceticismo e oposição, inclusive de fazendeiros que protestaram contra os planos de taxar arrotos de vaca e outras emissões de gases de efeito estufa.

Planos futuros e escolha de sucessor

A primeira-ministra tinha perspectivas eleitorais ruins. Seu Partido Trabalhista venceu a reeleição em 2020 com grande margem, mas pesquisas recentes colocaram a legenda atrás de seus rivais conservadores.

Ardern anunciou que as eleições gerais de 2023 na Nova Zelândia serão realizadas em 14 de outubro, e que ela seguirá até lá como deputada. Os parlamentares do Partido Trabalhista devem eleger um novo líder no domingo, que deverá substituir Ardern.

A primeira-ministra disse que não tinha planos imediatos após deixar o cargo, a não ser compromissos familiares com sua filha, Neve, e com seu noivo, Clarke Gayford, após um surto de covid-19 ter frustrado seu plano de casamento. "Para Neve, mamãe está ansiosa para estar contigo quando você começar a escola neste ano", disse Ardern. "E para Clarke, vamos finalmente nos casar."

bl (AP)