Israel convoca ultraortodoxos para Forças Armadas
19 de julho de 2024O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, ordenou nesta quinta-feira (18/07) ao Exército que envie neste domingo cartas de recrutamento a mil pessoas da comunidade ultraortodoxa, uma medida que já foi intensamente repudiada por este setor religioso em um contexto marcado pela guerra com o Hamas na Faixa de Gaza e pela escalada com o Hisbolá na fronteira norte.
A medida foi anunciada semanas depois que a Suprema Corte de Israel ordenou, por unanimidade, que o Estado deve recrutar homens judeus ultraortodoxos para o serviço militar.
"A primeira rodada de cerca de mil convocações de recrutamento de jovens entre 18 e 26 anos deverá ser emitida no domingo, estando previstas rodadas adicionais nas próximas semanas”, afirma um comunicado do Ministério da Defesa isralense, que explica que esta decisão segue uma "recomendação” do próprio Exército.
Gallant disse que as datas das próximas duas rodadas de avisos de recrutamento "serão determinadas de acordo com a capacidade de resposta da população ultraortodoxa”, segundo o comunicado.
Dessa forma, o Exército – que necessita atualmente de cerca de 10 mil novos recrutas – espera recrutar apenas 3 mil jovens ultraortodoxos de uma população aproximada de 63 mil em idade militar, uma vez que têm necessidades especiais em áreas como alimentação ou convivência com mulheres, e teriam que ser acomodados em batalhões especiais.
O Exército já havia anunciado na terça-feira o início do processo de recrutamento entre a comunidade ultraortodoxa neste domingo, mas não especificou o quão extensa seria a convocatória.
A intenção é recrutar primeiro aqueles que são menos radicais, como os que têm emprego, estão na faculdade ou têm carteira de motorista, o que é um indicador de que não se dedicam em tempo integral aos estudos religiosos.
Além disso, 85% dos novos recrutas serão solteiros e enviados, em sua maioria, para funções de combate, segundo a imprensa local, que cita fontes militares.
Os judeus ultraortodoxos (haredis) realizaram numerosos protestos nas últimas semanas contra a integração forçada dos seus jovens no Exército, depois de o Supremo Tribunal israelense ter ordenado ao governo que tomasse medidas para aumentar o número de jovens religiosos que cumprem o serviço militar obrigatório.
Na terça-feira, após o anúncio do Exército, dezenas de ultraortodoxos bloquearam uma autoestrada em Bnei Brak, no centro de Israel, em uma manifestação que a polícia qualificou como "ilegal” e ordenou sua dispersão.
Os ultraortodoxos que ignorarem as ordens de recrutamento não poderão sair do país e poderão ser presos pela Polícia Militar.
Isenção do serviço militar
Desde a fundação do Estado de Israel em 1948, os jovens que estudam em tempo integral em uma escola talmúdica (yeshiva) estão isentos do serviço militar, que é obrigatório para grande parte da sociedade israelense (os árabes israelenses também estão isentos).
A lei que regia a isenção, que até poucos meses atrás tinha sido prorrogada através de disposições especiais, sempre foi motivo de controvérsia, ainda mais depois do início da guerra em Gaza e da escalada na fronteira com o Líbano, que levaram o Exército à beira de uma crise de pessoal.
Há três semanas a Suprema Corte do país, entendeu que, como não existe mais uma lei no país que distinga os estudantes desses seminários dos demais recrutados, "não existe base legal para excluir os homens ultraortodoxos do recrutamento” e que, se não servirem ao Exército, não deverão receber subsídios educacionais e de assistência social financiados com recursos públicos.
A decisão foi uma resposta a várias petições de grupos da sociedade civil que pediam que a lei do serviço militar obrigatório fosse aplicada a todos.
A maioria dos israelenses judeus é obrigada por lei a servir nas Forças Armadas a partir dos 18 anos, por três anos para os homens e dois anos para as mulheres. Cada ano, cerca de 13 mil homens ultraortodoxos atingem a idade de recrutamento, de 18 anos, mas menos de 10% se alistam, de acordo com o Parlamento israelense.
md (EFE, AP, Reuters, Lusa)