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Imprensa europeia repercute uso do 07/09 por Bolsonaro

8 de setembro de 2022

"The Guardian", "Le Monde" e "El País" destacam "sequestro" das comemorações da Independência pelo presidente e o risco de o atual governante rejeitar os resultados da eleição e promover tumultos.

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Jair Bolsonaro
Mídia europeia criticou o fato de Bolsonaro inflamar os ânimos de seus apoiadoresFoto: Evaristo Sa/AFP/Getty Images

Tagesschau (Alemanha) – Comício ao invés de celebração de jubileu

O Brasil celebra o 200º aniversário de sua Independência, mas Bolsonaro transformou a comemoração num ato de campanha com as cores nacionais. Já pela manhã, ele declarou para dezenas de milhares de apoiadores em Brasília: "Temos pela frente uma luta do bem contra o mal, mal que perdurou por 14 anos no nosso país e que quase quebrou nossa pátria". Bolsonaro se referia ao PT do seu principal adversário na campanha presidencial, Lula, que governou o Brasil de 2003 a 2010.

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Por todo o país, centenas de milhares foram às ruas no Dia da Independência. Todos estavam unidos por uma crença inabalável na vitória de Bolsonaro – apesar dos fracos resultados nas pesquisas. Em Florianópolis, um reduto bolsonarista no sul do Brasil, Kátia da Silva aplaude um grupo de soldados marchando com metralhadoras. Respondendo a uma pergunta sobre o que aconteceria se Bolsonaro perdesse, Silva diz com firmeza: "Se o esquerdista Lula vencer, será então um caso de fraude eleitoral. Não aceitaremos isso e vamos protestar".

Isso é o que muitos apoiadores de Bolsonaro pensam, seguindo o exemplo de seu candidato, que vem semeando dúvidas sobre as pesquisas eleitorais e as urnas eletrônicas.

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Os comícios em massa no Dia da Independência são talvez a última chance de Bolsonaro virar o jogo. Ele precisa de mais apoio de eleitores do centro para ser reeleito. 

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Se Bolsonaro sofrer uma derrota nas urnas, há uma grande preocupação de que ele não aceitará o resultado e convocará seus apoiadores para realizar protestos. Este seria um teste para a maior democracia da América do Sul, onde a sociedade já está extremamente polarizada.

TAZ (Alemanha) – Brincando com a ideia de golpe

Muitas cidades brasileiras pareciam um mar verde e amarelo. Dezenas de milhares de brasileiros, a maioria vestida com as cores nacionais, saíram às ruas no Dia da Independência em protestos radicais de direita. Foi uma mistura colorida de evangélicos, agricultores, ativistas e caminhoneiros. O que uniu a todos: o apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

Além dos protestos radicais de direita, os desfiles militares aconteceram como todos os anos neste 7 de Setembro. Bolsonaro, um capitão da reserva, celebrou de forma frenética e transformou as comemorações num grande comício de campanha eleitoral. No ano passado, os apoiadores de Bolsonaro saíram às ruas no 7 de Setembro. Alguns pediram intervenção militar, outros, o fechamento do Congresso. Neste ano, os protestos foram ainda mais inflamados, porque as eleições serão realizadas em 2 de outubro.

Em todas as pesquisas, Bolsonaro está claramente atrás de Lula. E Bolsonaro vem semeando dúvidas sobre o sistema de votação eletrônica há meses. Diversas vezes, declarou que somente Deus pode tirá-lo da presidência. Muitos temem que Bolsonaro tente se manter no poder por todos os meios no caso de uma derrota eleitoral.

Em seu primeiro discurso do dia, em Brasília, o presidente listou datas de eventos importantes, incluindo o golpe militar de 1964, e declarou: "A história pode se repetir". À tarde, na praia de Copacabana, no Rio, ele atacou o Supremo Tribunal Federal (STF), assim como seu adversário Lula.

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Mesmo que Bolsonaro goste de disseminar ameaças de golpe e flertar com o autoritarismo, a maioria dos analistas acredita que não há apoio para uma ruptura democrática.

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Mesmo no setor militar, Bolsonaro não é isento de controvérsias: embora tenha muitos apoiadores, especialmente nos escalões inferiores, é improvável que os generais se envolvam numa aventura antidemocrática.

The Guardian (Reino Unido) – Apoiadores de Bolsonaro enchem Copacabana em show de força com camisa amarela

O presidente Jair Bolsonaro fez uma demonstração de força política na praia mais famosa do país, Copacabana, numa tentativa de revigorar sua estagnada campanha de reeleição.

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O favorito é o ex-presidente Lula, que na maioria das pesquisas tem uma vantagem confortável, embora não necessariamente intocável.

Até agora, as tentativas de Bolsonaro de conquistar eleitores pobres com bilhões de reais em programas de transferência de renda caíram por terra. Mas, desde cedo, os apoiadores de Bolsonaro se dirigiram para Copacabana para denunciar o que chamaram de ameaça "comunista" de Lula e para defender o presidente que chamam de "mito".

Especialistas disseram que a festa de Bolsonaro na praia foi pensada para mobilizar sua base e para passar a ideia de que ele, ao invés de Lula, deverá vencer a eleição de 2 de outubro. "É uma tentativa de negar o que as pesquisas estão mostrando, e de negar preventivamente o resultado da eleição – caso ele perca", afirmou Bruno Boghossian, comentarista político da Folha de S. Paulo. "O subtexto claro disso é que ele tem mais apoio do que Lula."

Lula, que governou o Brasil de 2003 a 2010, condenou o que ele chamou de sequestro de um dia de festa nacional em prol de ganhos políticos. "200 anos de independência hoje. 7 de Setembro deveria ser um dia de amor e união pelo Brasil. Infelizmente não é o que acontece hoje. Tenho fé que o Brasil irá reconquistar sua bandeira, soberania e democracia", tuitou o ex-presidente.

Em um discurso de 16 minutos (...), Bolsonaro afirmou que sua reeleição é essencial para que o Brasil não se torne uma ditadura ao estilo de Venezuela ou Nicarágua sob [um possível governo de] seu rival "criminoso".

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Temores de tumultos, ou mesmo de golpe militar ou revolta, não se materializaram no evento que se pareceu com uma festa de carnaval, embora faixas antidemocráticas pudessem ser vistas penduradas em trios elétricos ou sendo carregadas por manifestantes.

El País (Espanha) – Bolsonaro transforma bicentenário da Independência em comício eleitoral

O Brasil comemora nesta quarta-feira o bicentenário da Independência em meio a uma feroz campanha eleitoral, em uma atmosfera de tensão máxima, com o temor de que tudo transborde para a violência. O presidente Jair Bolsonaro transformou a comemoração numa sucessão de eventos eleitorais no Rio e em Brasília, após liderar o desfile oficial na capital federal.

Uma multidão em Copacabana aplaudiu o seu discurso contra a corrupção, a esquerda e o aborto. O líder de direita, que busca a reeleição, procurou capitalizar o bicentenário e reunir uma multidão de apoiadores nas ruas, numa tentativa de refutar as pesquisas que o colocam atrás de Lula e dar um impulso à campanha.

Bolsonaro transita nesta quarta-feira entre seus dois papéis: de presidente da república e candidato. Após participar do desfile em Brasília como presidente, ele subiu ao palco como candidato à reeleição. "Temos pela frente uma luta do bem contra o mal, mal que perdurou por 14 anos no nosso país e que quase quebrou nossa pátria e agora deseja voltar à cena do crime. Não voltarão, o povo está do nosso lado, o povo está do lado do bem". Seu discurso em Copacabana foi totalmente eleitoral, e ele aproveitou a solenidade do bicentenário para atacar Lula e de se vangloriar de sua gestão.

Entre os que ouviam em Copacabana estavam muitas senhoras bem vestidas em camisetas da seleção brasileira, soldados aposentados de uniforme, casais de jovens e famílias com crianças – a maioria, brancos. Eles estavam unidos pelos valores que Bolsonaro defende: a família tradicional, Deus, pátria e liberdade. E a absoluta convicção de que o ex-paraquedista vencerá Lula. (...) Os apoiadores do presidente não acreditam nas urnas, alegando que elas são manipuladas.

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A cruzada de Bolsonaro contra as outras instituições – sobretudo contra seu maior contrapeso, o Supremo Tribunal Federal (STF) – e a nostalgia que ele demonstra pela didatura, combinada com a memória da invasão do Capitólio, alimentaram o temor de que atos semelhantes possam ocorrer no Brasil. 

Le Monde (França) – Bolsonaro usa celebração do bicentenário para mobilizar seus apoiadores

O Brasil finalmente respira aliviado após a celebração de sua Independência, que foi transformada num enorme comício eleitoral por Jair Bolsonaro, reunindo milhares de pessoas, mas sem excessos. "Não houve uma janela quebrada! Como eu disse, não somos como aqueles esquerdistas que queimam pneus. Deus está conosco, e ele nos guia", afirma Inêz Belarmino com seu corpo envolto em uma bandeira brasileira.

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"Eu sou a mãe que luta contra a ideologia de gênero e o doutrinamento nas escolas. Temos que vencer, senão a esquerda fechará as igrejas", repete Belarmino, mostrando um vídeo grosseiramente editado que mostra o ex-presidente Lula.

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Nos muitos trios elétricos que desfilam pelas ruas, os oradores atacam a mídia e imploram ao público para não acreditar mais nela. "Desliguem seus televisores! As urnas estão erradas, nosso presidente será eleito no primeiro turno, como foi em 2018", ouve-se de um trio elétrico do movimento Endireita Brasil.  

O presidente Jair Bolsonaro já tinha dado o tom naquela manhã em Brasília, quando falou para seus apoiadores. "Nunca vi um mar tão grande aqui, com essas cores verde e amarela. Aqui não tem a mentirosa Datafolha, aqui é o nosso 'Datapovo'. Aqui a verdade."

O principal objetivo do chefe de Estado parece ter sido contar mentiras sobre as pesquisas eleitorais, que o colocam em segundo lugar atrás de Lula, afirmou Thomas Traumann, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Com esta mobilização, ele reuniu seus apoiadores. Ele agora tem imagens poderosas que não deixará de usar em sua próxima propaganda eleitoral para denegrir as pesquisas", afirmou.

Diário de Notícias (Portugal) – Bolsonaro usa o Bicentenário como tudo ou nada eleitoral

Os 200 Anos da Independência do Brasil foram festejados em clima tenso de campanha para as eleições presidenciais de 2 de outubro. Jair Bolsonaro, o chefe de Estado que busca a reeleição, pediu votos, citou o seu slogan, enumerou feitos do governo e evocou até o golpe militar de 1964, que resultou em 21 anos de ditadura, de que é adepto.

Os outros principais candidatos, Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet, usaram, por sua vez, os holofotes para se contraporem. Com isso, os convidados oficiais, como Marcelo Rebelo de Sousa, e os símbolos das comemorações, como o coração de Dom Pedro conservado em formol, passaram para segundo plano. 

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Logo depois, num café da manhã ao lado dos empresários que, em trocas de mensagens de WhatsApp, disseram preferir uma ditadura no país ao triunfo de Lula, razão pela qual tiveram o sigilo telefônico quebrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), citou o golpe militar de 1964 que instituiu a ditadura, censura e tortura no país.

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Já em 2021 Bolsonaro fizera do 7 de Setembro uma espécie de comício, chamando um juiz do STF, Alexandre de Moraes, de "canalha" e estimulando camionistas leais ao governo a simular uma espécie de cerco ao tribunal. Na ressaca desses atos, no entanto, seria obrigado a recuar assustado com as reações negativas dos poderes Judiciário e Legislativo e dos mercados financeiros, pedindo desculpas dias depois ao juiz em causa.