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MúsicaAlemanha

Há 40 anos os 99 balões de Nena ganhavam mundo

Silke Wünsch
21 de janeiro de 2023

Gravadora não queria lançar a música, mas a banda prevaleceu: em 1983, "99 Luftballons" se tornou um sucesso mundial – e em alemão. Até hoje nenhum hit no idioma foi tão longe nas paradas americanas.

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Foto da banda Nena, com quatro homens e uma mulher
Uwe Fahrenkrog-Petersen (esq.) e Carlo Karges (2º à dir,) são os compositores do maior hit da banda NenaFoto: Röhnert/Keystone/picture alliance

Em janeiro de 1983 a música pop dominava as paradas internacionais. Phil Collins era o número um no Reino Unido com You can't hurry love. Nos Estados Unidos, Men at Work, com Down Under, e Hall & Oates, com Maneater, dividiam a primeira posição da Billboard. Na Alemanha, o Culture Club estava no topo com Do you really want to hurt me.

Mas na época também surgia na cena musical do país uma alternativa ao pop de superstars anglófono. Era um novo tipo de música com letras em alemão que iam além dos schlagers, os hits de easy listening à moda europeia: era dançante, com sons de sintetizador, bateria eletrônica – e também um pouco maluca.

As letras eram como histórias em quadrinhos, coloridas, engraçadas e imaginativas. Às vezes, um pouco nonsense. Spliff, Fräulein Menke, Peter Schilling, Trio, Hubert Kah: todos eles fazem parte da Neue Deutsche Welle, a nova onda alemã, e despontavam nas paradas alemãs ao lado de estrelas internacionais como Supertramp, Eddie Grant, Dionne Warwick e Phil Collins.

Nena nos anos 1980
Vocalista Nena emergiu como voz feminina de sucesso da Neue Deutsche WelleFoto: United Archives/kpa/picture alliance

Uma mensagem de leveza dá a volta ao mundo

Entre todos os representantes masculinos da Neue Deutsche Welle, uma jovem saltou para o estrelato, com rosto travesso, cabelos despenteados, brincos grandes e voz de menina. Seu nome era Gabriele Kerner, conhecida como Nena, vocalista do grupo que levava seu apelido.

E, justamente janeiro de 1983, Nena mostrou que a Neue Deutsche Welle era mais do que diversão eletrônica punk: a banda tinha uma mensagem que iria dar a volta ao mundo.

No álbum de estreia, Nena, lançado em 14 de janeiro de 1983, além do primeiro hit Nur geträumt (Apenas sonhado), estava a aparentemente ingênua 99 Luftballons (99 balões de gás). Logo ficou claro: Nena falava em sua própria língua (alemão) e na linguagem da juventude, dirigindo-se aos belicistas que mantinham o mundo em suspense na época: a União Soviética e os Estados Unidos, em meio àNeue Deutsche Welle. Armadas até os dentes com mísseis nucleares, as duas potências mundiais se enfrentavam e não só se ameaçam como eram capazes de destruir o mundo com o poder de suas armas.

Tudo por 99 balões

Nessa época altamente explosiva, o maior medo era que alguém acidentalmente apertasse o "botão vermelho" e desencadeasse a aniquilação nuclear. E é exatamente esse o tipo de situação que Nena descreve na música 99 Luftballons.

A letra imagina que a máquina de guerra é acionada quando algum radar identifica balões inofensivos como uma grande ameaça. A situação piora, todos os países são arrastados para o conflito, todos querem guerra e poder e, no fim, não sobra nada. A música termina com os versos:

"99 anos de guerra

Não deixaram espaço para vencedores

Não há mais ministros da guerra

E nenhum avião a jato

Hoje eu faço minhas rondas

Veja o mundo em ruínas

Encontrei um balão

Penso em você e deixo ele voar".

Gravadora não vê potencial de sucesso

Os dois compositores da banda, Uwe Fahrenkrog-Petersen e Carlo Karges (morto em 2002), originalmente não se reuniram para escrever o hit. Tudo foi uma grande coincidência. Fahrenkrog-Petersen experimentava seu novo sintetizador, inspirado no electro funk que acabara de sair dos Estados Unidos, e tentava incorporar aquele funky groove contundente ao som new wave que estava na moda na época.

A certa altura, ele teve a ideia de mudar o ritmo, o que acabou por tornar a composição tão excitante. Karges tinha aquela letra há um longo tempo – e por fim ela se encaixou perfeitamente na melodia. A cantora Nena também ficou entusiasmada e contribui com sua voz e "atitude de garota punk", como escreve Fahrenkrog-Petersen em seu blog.

A banda estava convencida do sucesso da música e queria lançá-la como primeiro single do novo álbum. Mas a gravadora discordava: a música não tinha nenhum refrão e, com a longa parte instrumental no início, nenhuma estação de rádio ia tocá-la, afirmavam.

Estrela de um hit só

A banda por fim conseguiu lançar a música no fim de janeiro – e decolou. Em 28 de março de 1983, o hit alcançava o primeiro lugar nas paradas alemãs. Depois, os 99 Luftballons deram a volta ao mundo, como número um em países como Japão, Austrália, Canadá e México.

A canção alemã também ficou conhecida nos EUA. Por coincidência, ela chegou às mãos do DJ de uma rádio americana, que passou a tocá-la com tanta frequência que ela se espalhou por toda parte, alcançando o segundo lugar da Billboard em dezembro de 1983.

Até hoje nenhuma música em alemão foi mais longe nos EUA. Em 1984 Nena gravou uma versão do hit em inglês e alcançou a primeira posição nas paradas britânicas.

A carreira internacional, porém, não se concretizou. Apesar do sucesso com a banda e depois em carreira solo, Nena continuou sendo uma estrela de um hit só no exterior. Mas a mensagem de 99 Luftballons permanece até hoje - e dada a guerra na Ucrânia, o cenário permanece atual, mesmo passados 40 anos.