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A queda do faraó

3 de agosto de 2011

Ex-presidente governou o Egito com mão de ferro por quase 30 anos. Depois de ter deixado o poder devido à revolta popular, Mubarak é julgado pela morte de manifestantes e por acusações de corrupção e abuso de autoridade.

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Hosni Mubarak aparece deitado sobre uma cama no tribunalFoto: Egyptian State TV/AP/dapd

A partir desta quarta-feira (03/08), o ex-presidente do Egito Hosni Mubarak responde por seus atos diante de um tribunal no Cairo. Ele está sendo julgado pela morte de manifestantes durante a revolta popular que o derrubou do poder e por corrupção, nepotismo e abuso de poder.

Ainda não se sabe, no entanto, se o réu estará presente ao longo de todo o julgamento – o estado de saúde dele é frágil, alega a defesa. Neste primeiro dia de processo, Mubarak apareceu diante do juiz deitado numa cama e se declarou inocente das acusações. Ele pode ser condenado à pena de morte se for considerado culpado.

Após a leitura das acusações, o presidente do tribunal, Ahmed Refaat, marcou a continuação do julgamento para 15 de agosto. Até lá, Mubarak ficará internado num hospital no Cairo.

Desde 11 de fevereiro passado, quando deixou o poder, Mubarak não apareceu mais em público. Depois de ter se retirado para sua residência no balneário de Sharm el-Sheikh, às margens do Mar Vermelho, ele foi levado ao hospital local em abril devido a problemas no coração. Desde então está detido no hospital.

As informações sobre o estado de saúde de Mubarak, de 83 anos, são contraditórias. Segundo o advogado dele, o ex-presidente sofre de câncer no estômago, mas não há uma confirmação oficial. Para o Ministério da Saúde do Egito, as condições de saúde de Mubarak são estáveis o suficiente para que ele compareça ao tribunal no Cairo.

A direção do hospital negou que Mubarak estivesse em coma, como a defesa afirmou em julho passado, e divulgou que o ex-presidente se recusa a comer e estaria fraco e "depressivo".

Mediador no processo de paz

De qualquer maneira, Mubarak é hoje um homem abalado, uma sombra do líder poderoso que foi. Nascido em 1928 na província de Menufia, no delta do Nilo, ele teve uma formação militar e se tornou piloto da Força Aérea. Como ministro da Defesa durante o conflito do Yom Kipur, contra Israel, foi considerado um herói de guerra. Depois da morte do presidente Anwar Sadat, assassinado por um militante extremista, Mubarak que era vice-presidente na época, chegou ao poder, em 1981.

No poder, o egípcio governou o país com mão de ferro. O regime autoritário de Mubarak assegurou ao Partido Democrático Nacional (NDP) uma clara maioria em todas as eleições e tornou impossível a existência de uma real oposição.

O grande sucesso da presidência de Mubarak foi na política externa. Com tato diplomático, e depois de assinar um acordo de paz com Israel, em 1979, ele conseguiu acabar com o isolamento do Egito no mundo árabe. Dez anos após o rompimento das relações diplomáticas, o país foi novamente admitido na Liga Árabe.

Já naquele época, Mubarak dizia que era "sua missão" ajudar a estabelecer a paz entre árabes e judeus. Para isso, ele se tornou um importante mediador no processo de paz do Oriente Médio. A solução seria o diálogo, afirmava o líder egípcio: "Nós precisamos fazer de tudo para aproximar as duas partes. Não há outro caminho."

Por sua postura, ele era considerado uma voz moderada e bem vista em diversos países ocidentais. Muitos chefes de Estado viam Mubarak como um fator para a estabilidade na região, e como um aliado confiável contra o extremismo.

Contra a oposição

Na política interna, Mubarak se viu confrontado com problemas graves. Um dos seus maiores desafios era o crescente perigo causado pelo fundamentalismo islâmico, assim como o alto nível de desemprego e a má situação econômica do país.

Desde 1981, Mubarak governou o Egito com a ajuda de leis de emergência. Oficialmente, o presidente dizia querer combater o fundamentalismo religioso que se espalhava na sociedade egípcia. Na verdade, as leis de emergência seriam uma desculpa usada para reprimir a oposição, segundo avaliação de organizações de direitos humanos.

O partido da Irmandade Muçulmana, oficialmente proibido, sofria regularmente com a violência policial. Além do mais, por motivos religiosos, o órgão de censura do estado perseguia livros de intelectuais seculares, cientistas não-islâmicos e homossexuais.

Pai e filhos

Mubarak não é o único a enfrentar o tribunal: seus filhos Gamal, que pretendia suceder o pai, e Alaa, empresário bem-sucedido, também estão sendo processados. Assim como o pai, acredita-se que também os filhos enriqueceram ilicitamente durante o governo de Mubarak. Os bens da família, cujo soma total é desconhecida, foram congelados.

Há anos a saúde do ex-presidente é motivo de especulações no Egito. Durante um discurso no Parlamento, em novembro de 2003, milhões de telespectadores assistiram, ao vivo, Murabak passar mal e desmaiar. No ano passado, ele precisou retirar a vesícula e um tumor benigno do intestino.

Autores: Thomas Latschan / Theresa Tropper (np)
Revisão: Alexandre Schossler