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Mercado de arte

28 de novembro de 2011

Historiadora da arte vienense analisa como as obras de arte atingem os preços pelos quais são negociadas no mercado e conclui que os próprios artistas raramente exercem um papel relevante neste contexto.

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Somas milionárias são gastas em leilões
Somas milionárias são gastas em leilõesFoto: picture-alliance/dpa

Apesar da crise financeira global, do desastre do euro e da recessão, o mercado de arte encontra-se em franca expansão, em todo o mundo. Há pouco, as três grandes casas de leilões de arte – Sotheby's, Christie's e Phillips – angariaram cerca de 600 milhões de dólares por obras de arte contemporânea. Uma soma considerável.

Os leilões na Alemanha que aconteceram no segundo semestre deste ano também levaram a bons resultados, com recordes quebrados. Mas de onde vêm esses preços tão exorbitantes do mercado de arte? A historiadora da arte de Viena, Jacqueline Nowikovsky, escreveu um livro a respeito, com o título $ 100.000.000? – O valor da arte. A Deutsche Welle conversou com a autora vienense sobre o novo livro.

Deutsche Welle: Você coloca a tese de que a arte e o mercado de arte encontram-se sob o signo do marketing e do potencial de vendas. Questões estéticas, de conteúdo ou estilo não teriam mais nenhuma importância. Por quê?

Jacqueline Nowikovsky: No mercado de artes, há muitos compradores que têm interesse em demonstrar uma identidade através de suas coleções. Isso se dá em função de uma certa pressão social, partindo de uma expectativa. Quem quer ser admirado por sua coleção vai se esforçar para comprar e expor obras de determinados artistas, que têm um valor facilmente reconhecido e verificável no mercado.

Isso diz respeito à situação do comprador, mas também dos marchands e de outros envolvidos no mercado de arte. Trata-se de uma arte que chegou a uma certa posição no mercado. Isso faz com que obras de pintores sejam, por exemplo, compradas muito menos em função de seu conteúdo ou de suas posições estéticas, mas sim claramente por causa do valor de reconhecimento no mercado.

Antes era diferente? Ou trata-se de uma evolução que ocorreu nos últimos anos ou décadas?

Sempre houve aqueles que determinavam as diretrizes neste contexto. Sempre houve pintores, grandes mestres, cujas obras eram comercializadas a altos preços nas cortes. Eles vivam à mercê dos governantes. A hegemonia dos mercados existe há muito tempo e neste sentido as coisas não mudaram de maneira substancial.

Obras de grandes artistas, como aqui de F. Léger: preços cada vez mais altos
Obras de grandes artistas, como aqui de F. Léger: preços cada vez mais altosFoto: AP

O que mudou foi o número de participantes no mercado, o número de pessoas que têm possibilidade de comprar obras de arte. Através de um fluxo cada vez maior de capital, essas pessoas também estão dando as cartas. O que no passado ficava talvez nas mãos de alguns governantes e de poucos donos do poder, encontra-se hoje sob o domínio de muitas pessoas que têm muito dinheiro.

Quem é o mais poderoso?

Trata-se aqui de marchands, galeristas, colecionadores, donos de coleções privadas, e menos de museus. Casas de leilões e feiras de arte também desempenham um papel importante. Quem são, então, os agentes mais importantes neste contexto?

Não existem necessariamente hierarquias claras. Há determinadas pessoas, que, por um tempo, indicam as tendências. Elas posicionam algo novo no mercado, algo que nunca havia existido anteriormente. Então esta pessoa acaba sendo a precursora, que oferece esse algo novo. As interações são também enormes neste sentido: os colecionadores interagem com os museus, porque querem, obviamente, que suas obras sejam expostas ali, querem que elas integrem grandes retrospectivas ou mostras coletivas.

E os museus também obtêm vantagens, quando recebem obras emprestadas, principalmente porque eles não dispõem de meios suficientes para conseguir as peças que faltam para uma exposição, por exemplo. Os artistas ficam entre um triângulo composto pelos marchands, pelos galeristas e pelos colecionadores, mas também pelos museus. Não há um líder, mas vários participantes, é como uma empresa.

Os diversos envolvidos tratam, de maneira objetiva, de fazer com que as obras de arte sejam valorizadas, para que, no fim, eles também usufruam disso. Pode-se chamar isso de valorização consciente e planejada da arte?

Consciente ou inconsciente, é o que acontece. Determinadas valorizações acontecem automaticamente. É claro que qualquer um acha bom, quando isso acontece. É algo naturalmente menos conspirador do que parece. Eu não definiria tudo como um complô ou um jogo de monopólios. Há, claro, essas teorias muito teórico-conspiradoras, dizendo que existe um cartel que controla objetivamente todo o mercado.

Também não é assim. Nunca se pode prever completamente o futuro, mesmo quando um galerista, por exemplo, esforça-se para forjar uma escassez artificial. Ou quando participa-se dos leilões, fazendo lances. Há mecanismos que se repetem e que são previsíveis, mas não é como se fosse possível seguir um roteiro.

O artista fica de fora

'O valor da arte', de Jacqueline Nowikovsky
'O valor da arte', de Jacqueline NowikovskyFoto: Czernin Verlag

Mas há apenas alguns poucos artistas, que participam deste jogo, deste carrocel do mercado de arte. Alguns conseguiram. O britânico Damien Hurst é notoriamente o artista que mais ascendeu nos últimos anos. No caso dele, tem-se realmente a impressão de que ele determina os preços.

Sim, ele é obviamente uma pessoa ambivalente. Damien Hirst foi tão longe, porque ele tinha uma exata visão dos mecanismos em jogo e participou de tudo com uma certa ironia. Ele foi levando adiante, até o ápice. E se tornou independente dos galeristas. Ele conseguiu montar um leilão inteiro, no qual só obras suas foram a leilão. Isso pode ser considerado quase como uma performance, que parodia as regras do mercado de arte.

Sendo assim, ainda existem critérios para diferenciar uma arte "boa" de uma "ruim"?

O mercado possibilita a participação de muitas pessoas nesta empreitada. De fora, tem-se a impressão de que não há objetividade alguma. Não há, como no passado, uma academia ou um júri. Não há mais um Salão de Paris, que decide sobre o que é bom e o que é ruim. Mas isso não é tudo. Há, porém, diversas instâncias, que assumem avaliações e cujo julgamento tem mais peso que o julgamento de outras instâncias. No meu livro, procurei identificar essas instâncias e seus efeitos.

Entrevista: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque