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SaúdeÍndia

Dúvidas e contradições na 2ª onda da pandemia na Índia

Tanika Godbole de Nova Délhi
30 de abril de 2021

Após ter declarado vitória sobre o coronavírus, país enfrenta níveis diários de infecções superiores a 200 mil. Governo indiano oscila entre anunciar medidas de peso e negar a existência da crise de saúde e confiança.

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Mulheres de trajes indianos sendo atendidas por homem de veste protetora
Situação é crítica nos hospitais da ÍndiaFoto: Raj K Raj/Hindustan Times/imago images

No começo de 2021, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, declarou vitória sobre a pandemia de covid-19: "A Índia adotou uma abordagem de participação pública pró-ativa e desenvolveu uma infraestrutura sanitária específica para a covid e treinou seu pessoal para combatê-la", declarou no Diálogo de Davos do Fórum Econômico Mundial de 28 de janeiro.

Três meses mais tarde, o novo coronavírus está se alastrando descontroladamente, e o frágil sistema de saúde nacional desmorona. O governo enfrenta uma crise tanto de saúde pública quanto de credibilidade. Os índices de contágios são elevados, com a média diária de sete dias circulando em torno de 300 mil. Na primeira onda, a taxa móvel máxima foi de 100 mil novos casos por dia.

O governo central está sendo acusado de não reforçar os sistemas médicos depois da onda de covid-19 de 2020. Hospitais superlotados em todo o país estão mandando pacientes para casa, e os cidadãos são forçados a tentar conseguir por conta própria recursos como o oxigênio medicinal.

Alguns pedem nas redes sociais ajuda para conseguir leitos hospitalares para seus entes queridos. Até mesmo estabelecimentos como o Moolchand Hospital de Nova Déli lançam apelos no Twitter, à medida que se esgotam suas reservas de oxigênio.

Diante da severidade da segunda onda na Índia, os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e outras nações da União Europeia estão enviando recursos, e até mesmo o rival Paquistão se prontificou a auxiliar.

Pacotes de USaid são desembarcados de avião
Ajuda humanitária dos EUA chega a Nova DélhiFoto: Prakash Singh/REUTERS

Governo rechaça crise de confiança

Na "estratégia acelerada de fase 3" de vacinação, todo maior de 18 anos está apto a receber uma dose, após registrar-se online. Antes, só estavam sendo inoculados maiores de 45 anos, assim como pessoal de saúde e outros profissionais no front da pandemia. Segundo o jornal The Times of India, entretanto, diversos estados estão apreensivos de que não haverá doses suficientes.

Em meio à situação extrema, contudo, o ministro da Saúde Harsh Vardhan afirma não haver necessidade de uma "crise de confiança", assegurando não haver carência de equipamento de diagnósticos nem de vacinas. Além disso, o governo central estaria fazendo todo o possível para remover restrições ao fornecimento de vacinas para determinados estados e territórios.

"Enquanto a terrível doença se propaga como um tsunami, era vital afrouxar os controles e dar liberdade de ação tanto aos governos estaduais quanto ao setor privado. Sob a orientação do primeiro-ministro Narendra Modi, decidimos relaxar as normas da política de vacinação", declarou num blog de que participa seu ministério.

Vardhan afirmou, ainda, que opositores do partido governista Bharatiya Janata (BJP) estariam tentando "espalhar uma grande quantidade de desinformação" sobre a fase 3 da vacinação, a fim de "politizar" a pandemia.

Atrasos nas vacinas e falta de oxigênio

Na realidade, porém, tem provocado críticas severas a política da Índia de exportar imunizantes antes de a nova onda de infecções se manifestar. Em março, o país anunciou que atrasaria as entregas para a central de compartilhamento de vacinas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em 16 de abril, veio a notícia de que se intensificaria a produção da Covaxin, da companhia nacional Bharat Biotech. O Serum Institute of India, o maior fabricante de vacinas do mundo e responsável pelo fornecimento do medicamento da AstraZeneca, alega que a produção está atrasada por carência de matéria prima vinda dos EUA.

De acordo com a agência de notícias Reuters, as previsões públicas das duas fabricantes mostram que sua produção mensal de 70 a 80 milhões de doses só aumentará dentro de dois meses.

Não está claro quantas doses estão atualmente disponíveis no país. Citando autoridades, na quarta-feira (28/04) o Times of India noticiou haver 10 milhões, além de outros 8 milhões com chegada prevista para os próximos dias. Recentemente o país também permitiu a importação de vacinas estrangeiras para uso emergencial, como as da Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson.

Nesse meio tempo, as autoridades governamentais indianas também anunciaram planos para disponibilizar mais oxigênio medicinal, incluindo afrouxar as restrições de importação e prover trens especiais para entregar o gás a metrópoles como Mumbai e Délhi.

Numa coletiva de imprensa na quinta-feira, o ministro do Exterior Harsh Vardhan Shringla comunicou que 40 países haviam oferecido apoio à Índia: "Estamos falando de quase 550 unidades de geração de oxigênio a chegarem de diferentes fontes, de todo o mundo."