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Casa Daros inaugura sede no Rio de Janeiro

Kristina Michahelles, do Rio de Janeiro22 de março de 2013

Maior acervo de arte latino-americana inaugura sede em casarão do século 19 com mostra de obras colombianas contemporâneas e reforça colocação do Rio no circuito internacional das artes.

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Foto: DW/K. Michahelles

Vinte e cinco fartos cachos de bananas pendurados no teto inspiram opulência e harmonia. Mas em discretos espelhos no chão, a instalação de José Alejandro Restrepo exibe vídeos sobre o massacre dos bananeiros. Painéis gigantes de um jovem escultural posando como o David de Michelangelo atraem o olhar do visitante, antes de notar que um dos pés foi mutilado.

Em lugar de deidades incas, cerâmicas pré-colombianas encomendadas a falsificadores por Nadín Ospina retratam heróis da supremacia cultural norte-americana: Mickey, Pluto, Donald.

Lindos desenhos florais à moda dos naturalistas, vistos de perto, são ossos: lembranças dos horrores da guerra e das práticas de desfigurar os corpos dos inimigos que o artista Juan Manuel Echavarría escutava, quando criança, na década de 1950.

Casa Daros-Eröffnung
Obra de restauração de A.F. Rodrigues na Casa DarosFoto: DW/K. Michahelles

Falar a corações e mentes

Obras "que falem e produzam algo nas mentes e nos corações": esse é o lema que inspirou o curador Hans-Michael Herzog a montar a exposição Cantos cuentos colombianos, com 75 obras de dez artistas colombianos contemporâneos: Doris Salcedo, Fernando Arias, José Alejandro Restrepo, Juan Manuel Echavarría, María Fernanda Cardoso, Miguel Ángel Rojas, Nadín Ospina, Oscar Muñoz, Oswaldo Macià e Rosemberg Sandoval.

A mostra inaugura este sábado um dos mais esperados (e importantes) centros de arte do continente, a Casa Daros. Junto com o recém-inaugurado Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR) na zona portuária, a Casa Daros eleva o Rio ao topo do circuito das artes plásticas e acaba definitivamente com o velho clichê da cidade maravilhosa feita apenas de samba, praia, carnaval e belezas naturais.

Foram sete anos de obras no belo casarão neoclássico de 12 mil metros quadrados em Botafogo com pátio interno e palmeiras imperiais, originalmente um educandário que pertencia à Santa Casa de Misericórdia e foi comprado pela Daros Latinamérica por R$ 16 milhões (mais de 6 milhões de euros).

Cuidadosamente restaurados e adaptados (a um custo total de R$ 76 milhões), seus amplos salões com pé direito de seis metros e incontáveis janelas e portas abrigarão duas grandes exposições por ano com obras da Coleção Daros Latinamerica, um dos mais abrangentes acervos de arte contemporânea do continente, sediado em Zurique.

Novo interesse por arte latino-americana

Fundado em 2000, o acervo suíço reúne 1.160 trabalhos de 117 artistas do México à Patagônia e vem sendo constantemente ampliado. Dedica-se também à pesquisa e ao contato interativo com os artistas. Mas sua proprietária, Ruth Schmidheiny, e o diretor artístico Hans-Michael Herzog sempre sonharam em criar um espaço no continente que funcionasse como um centro irradiador.

"Curiosamente, ainda na virada do milênio havia pouco interesse pela arte latino-americana. Isso está mudando. Além de dar visibilidade às múltiplas manifestações artísticas do continente, queremos ser uma plataforma de encontros de onde surjam sempre novas possibilidades", define Herzog.

Juntaram-se a Herzog nessa cruzada o cubano Eugenio Valdés Figueroa, apaixonado pelas possibilidades da educação através da arte, e a brasileira Isabella Rosado Nunes, diretora-geral da nova Casa Daros e que comanda as 152 pessoas que circulam pelo casarão.

"A Casa Daros é uma grande oportunidade para a América Latina dialogar com o mundo e discutir a educação pela arte", diz Eugenio Figueroa. "A América Latina não é um corpo monolítico, é um espaço diverso, cheio de particularidades, e nós queremos ressaltar o protagonismo do artista em diálogo com a sua produção."

Casa Daros-Eröffnung
"Musa Paradisíaca", de José Alejandro RestrepoFoto: DW/K. Michahelles

Casa aberta

Até 14 de abril, o público poderá visitar gratuitamente a exposição colombiana e a mostra paralela chamada Para (saber) escutar, que traz os resultados de vários programas que foram sendo “testados” durante a oficina.

Há fotografias de adolescentes do Observatório de Favelas ao longo das obras, oficinas com alunos de escolas municipais dos bairros vizinhos, uma gigantesca instalação da artista brasileira Iole de Freitas, vídeos e depoimentos de artistas que vêm formando uma biblioteca viva (além da vasta biblioteca com cinco mil títulos). Depois disso, o ingresso custará R$ 12 (inteira) e R$6 (meia), com isenção para escolas.

Projetos para os próximos anos não faltam: depois de Cantos Cuentos Colombianos, que fica em cartaz até 8 de setembro, já está marcada a próxima grande exposição. Será uma individual com obras de arte cinética de Julio Le Parc, argentino radicado em Paris.