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Ativista gera revolta na Alemanha ao minimizar Holocausto

21 de novembro de 2019

Cofundador do grupo Extinction Rebellion diz que genocídio de judeus na 2ª Guerra foi apenas "apenas mais uma 'putaria' na história da humanidade", e critica "obsessão" da Alemanha em relação ao tema.

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Cofundador do Extinction Rebellion gerou uma onda de repúdio na Alemanha ao minimizar o Holocausto
Cofundador do Extinction Rebellion gerou uma onda de repúdio na Alemanha ao minimizar o HolocaustoFoto: Imago Images/ZUMA Press/A. Pantoja

Um dos fundadores do movimento ambientalista Extinction Rebellion gerou uma onda de repúdio na Alemanha ao minimizar o significado do Holocausto, o genocídio ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, quando mais de 6 milhões de judeus e de centenas de milhares de membros outras minorias foram sistematicamente eliminados durante o regime nazista.

Em entrevista publicada no jornal alemão Die Zeit nesta quarta-feira (21/11),o britânico Roger Hallam disse que o Holocausto seria "apenas mais uma 'putaria' na história da humanidade", utilizando um termo pejorativo em inglês.

"A verdade é que milhões de pessoas foram assassinadas com regularidade em diversas circunstâncias através da história,", afirmou. Ele sustenta que genocídios seriam "eventos regulares". Para justificar sua posição em relação ao massacre de judeus na 2ª Guerra, ele mencionou outros eventos semalhantes ocorridos nos últimos 500 anos, como as matanças promovidas pelos belgas no Congo.

Hallam, que divulga o lançamento de seu livro Common sense for the 21st century ("Bom senso para o século 21", em tradução livre) disse ainda que a Alemanha permanece refreada em razão do que chamou de "obsessão" em relação ao Holocausto. Em sua opinião, trata-se de um trauma nacional que poderia chegar ao ponto de "criar uma paralisia no verdadeiro aprendizado das lições" que podem ser absorvidas do genocídio.

Na entrevista ao Die Zeit, ele repetiu comentários que fez no passado de que a crise do clima deveria ser tratada com a mesma carga emocional que o massacre em Auschwitz, o maior campo de extermínio do regime nazista, onde 1, 1 milhão de pessoas foram assassinadas. "Emocionalmente, esta é a única forma de fazer com que as pessoas façam alguma coisa", afirmou.

Quando a repórter Hanna Knuth sugeriu que o Holocausto seria um evento singular na história em termos de sua implementação e escala, o ativista disse que "há vários debates sobre a singularidade do Holocausto. Sei que está é a convicção na Alemanha. Mas, com todo o respeito, não concordo com isso."

 A revolta gerada pelos comentários levou a editora Ullstein, que publicaria a edição em alemão do livro de Hallam, a cancelar o lançamento da obra, que chegaria às lojas no dia 26 de novembro.

Ativistas do Extinction Rebellion realizaram protestos pelo clima em várias cidades do mundo
Ativistas do Extinction Rebellion realizaram protestos pelo clima em várias cidades do mundoFoto: picture-alliance/ANP/E. Elzinga

O ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, rebateu as críticas do ativista e saiu em defesa da cultura da memória em seu país. "A intenção de matar mulheres e homens judeus é excepcionalmente desumana. Devemos sempre estar conscientes disso para assegurar que jamais aconteça novamente", afirmou Maas através do Twitter.

O próprio Extinction Rebellion condenou as declarações de Hallam. A representação alemã do grupo afirmou que ele não será mais bem recebido caso venha à Alemanha. No Reino Unido, onde fica a sede da organização, seus colegas expressaram solidariedade para com a posição dos ativistas alemães e também em relação às comunidades judaicas.

O grupo afirmou que está discutindo a forma adequada de lidar com a questão. "Defendemos ações de retificação como sendo preferíveis, apesar de que em alguns casos a exclusão possa ser necessária", afirmaram os ativistas no Reino Unido.

O Extinction Rebellion acusa Hallam de "paralisar com frequência" o trabalho do grupo através de outras declarações controversas em temas como o sexismo, racismo e democracia. Muitos desses comentários foram feitos em entrevistas à imprensa alemã.

O presidente do Conselho dos Judeus na Alemanha, Josef Schuster, afirmou que não basta que o grupo apenas se distancie de Hallam. "Com a mesma intensidade que eles criticam os que negam as mudanças climáticas, o mesmo deveria ser feito por eles com quem relativiza o Holocausto", afirmou ao jornal alemão Bild.

Outras entidades ambientalistas também criticaram as declarações de Hallam. Luisa Nuebauer, do movimento ambientalista Greve para o Futuro, disse ao Bild que não concorda de jeito algum com as "palavras insanas" do ativista.

Hallam afirma que suas declarações foram publicadas fora de contexto. "Reconheço totalmente o sofrimento inimaginável causado pelo Holocausto nazista que levou toda a Europa a dizer 'nunca mais'", disse o ativista.

Ele, porém, disse que os massacres estão ocorrendo novamente "em escala bem maior e a olhos vistos. O norte do globo emite níveis letais de CO2 na atmosfera e simultaneamente ergue barreiras à imigração, transformando regiões inteiras do mundo em zonas de morte. Esta é a triste realidade."

"Permitimos que nossos governos [...] se envolvam no genocídio de nossos jovens e daqueles no sul do globo ao se recusarem a adotar ações de emergência para reduzir as emissões de carbono", afirmou.

No início de outubro, o Extinction Rebellion realizou uma semana de protestos pelo clima em várias cidades do mundo, quando centenas de ativistas foram presos em ações de desobediência civil. A maioria das detenções ocorreu em Londres.

Hallan está em liberdade condicional após se envolver em uma tentativa de bloquear o aeroporto de Heathrow. Ele disse que tem de se apresentar diariamente a uma estação de polícia no sul do País de Gales, onde vive no momento.

RC/ap/pts/dpa

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