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Ajuda ocidental à Ucrânia é menor do que em outras guerras

22 de fevereiro de 2023

Estudo do instituto alemão IfW mostra ainda que contribuições para a Ucrânia são bem inferiores às subvenções internas para compensar alta de preços no setor energético.

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Soldados poloneses e ucranianos treinam o uso de tanques Leopard 2 na Polônia
Tanques Leopard 2 ainda não entraram na conta, pois promessas foram consideradas imprecisasFoto: Wojtek Radwanski/AFP

O presidente Joe Biden anunciou, durante sua curta visita a Kiev, nesta segunda-feira (20/02), que nos próximos dias vai liberar novos envios de armas à Ucrânia no valor de 500 milhões de dólares. Trata-se de munição para artilharia, de obuses e lançadores de mísseis antitanques e portáteis do tipo Javelin.

O anúncio foi feito durante uma visita de forte caráter simbólico, ocorrida pouco antes de a invasão russa completar um ano, e corrobora a percepção de liderança americana na ajuda ao país europeu. "Os americanos dão o tom no apoio à Ucrânia", comenta o economista Christoph Trebesch, que analisa a ajuda ocidental ao país para o Instituto de Economia Mundial (IfW), sediado em Kiel, na Alemanha.

"A hesitação dos europeus durante o primeiro ano da guerra é um fenômeno digno de nota, sobretudo porque recursos financeiros podem ser mobilizados rapidamente", diz Trebesch. Ele se refere sobretudo às contribuições dos países da União Europeia (UE) ao orçamento ucraniano, em especial diante da queda de 40% na economia da Ucrânia depois do início da guerra de agressão da Rússia.

Na sua análise sobre a ajuda financeira para a Ucrânia, os economistas do IfW incluem tanto as ajudas financeiras diretas e a ajuda humanitária quanto os custos das armas enviadas à Ucrânia. Armamentos dos estoques militares, como por exemplo da Bundeswehr, têm seu valor de mercado calculado e incluídos na conta.

Pelas contas do instituto, os Estados Unidos, com "novas promessas no valor de 37 bilhões de euros", voltaram a superar a UE e seus países-membros. A ajuda americana, tanto a já enviada como a ainda prometida, chega a 73,1 bilhões de euros, ante 54,9 bilhões de euros da UE. Os Estados Unidos são o primeiro país na lista da ajuda internacional, seguidos pelo Reino Unido e pela Alemanha.

Subvenções internas custam muito mais

Na sua análise mais recente, a equipe de Trebesch comparou a ajuda à Ucrânia com outras despesas nos mais de 50 países apoiadores que integram o Grupo de Contato da Ucrânia. Eles concluíram que, no todo, as ajudas enviadas à Ucrânia equivalem apenas a uma pequena parte do que os governos mobilizaram para amortecer os efeitos da guerra nos próprios países.

Por exemplo no caso da Alemanha, que, desde janeiro de 2022, já anunciou mais de 250 bilhões de euros em subvenções para amortecer a alta nos preços da energia para os consumidores e as empresas.

A ajuda bilateral da Alemanha à Ucrânia chega a 6,15 bilhões de euros. Só as subvenções que o governo alemão bancou para amortecer o preço dos combustíveis e para financiar o bilhete de 9 euros para uso ilimitado do transporte público somaram 5,65 bilhões de euros. Essas duas medidas foram adotadas pelo governo alemão para amortecer o choque de preços no setor energético para o consumidor final no início da guerra.

Nos seus cálculos, os economistas ainda não incluíram os tanques de guerra, como os Leopard 2, que foram prometidos para março por vários países ocidentais. Os economistas consideraram as promessas feitas por alguns desses países como ainda muito imprecisas.

Outras guerras custaram mais

Na sua análise mais recente, os economistas também incluíram pela primeira vez uma comparação com as ajudas para outras guerras recentes.

A Alemanha, por exemplo, contribuiu três vezes mais (considerando a contribuição na relação com o Produto Interno Bruto (PIB)) para a defesa do Kuwait, na Guerra do Golfo de 1990/91, quando o Iraque invadiu o país vizinho Kuwait.

Na época, esse dinheiro foi enviado aos Estados Unidos, e a Alemanha não participou militarmente da Operação Tempestade no Deserto.

Também os Estados Unidos gastaram mais então: o equivalente a 1% do PIB, bem menos do que o 0,4% enviado até aqui para a Ucrânia.

Os gastos anuais dos Estados Unidos no Afeganistão entre 2001 e 2010 também eram bem maiores: três vezes mais do que o despendido no primeiro ano da guerra na Ucrânia, considerando o valor na relação com o PIB. Porém, ao contrário do que ocorre na Ucrânia, os Estados Unidos também enviaram soldados para o combate no Afeganistão, com os correspondentes custos de manutenção das tropas no exterior.

Variações ao longo de 2022

Os economistas também constataram que os valores enviados e prometidos à Ucrânia caíram em junho passado, passando de 20 bilhões de euros em maio para 5 bilhões de euros em junho.

O valor só voltou a subir em novembro, depois das bem-sucedidas recuperações de terreno dos militares ucranianos no leste e no sul do país: primeiramente com o anúncio da UE de que iria apoiar a Ucrânia financeiramente em 2023, depois com a aprovação do pacote militar dos EUA, com o qual o Congresso aprovou 37 bilhões de euros em ajuda em dezembro passado.

É desse pacote que saíram os 500 milhões de euros em envio de armamentos anunciados por Biden durante sua visita em Kiev, juntamente com a promessa do presidente de que o apoio dos EUA à Ucrânia é inabalável.