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27 de maio: Especialistas forenses em Luanda

Lusa
18 de julho de 2022

Uma equipa de especialistas forenses de Portugal chegou a Luanda para trabalhar com técnicos angolanos na identificação de corpos de vítimas do 27 de maio.

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Luanda, a capital angolana
Luanda, a capital angolanaFoto: Braima Darame

Em representação de algumas famílias que residem na diáspora, chegou a Luanda uma equipa de especialistas forenses portugueses para identificar corpos de vítimas do 27 de maio de 1977.

Segundo os especialistas, a individualização e identificação dos restos mortais poderá proporcionar informações sobre as circunstâncias em que ocorreram as suas mortes, indicando patologias e eventuais lesões.

A equipa integra as antropólogas forenses Eugénia Cunha e Inês Santos e é liderada por Duarte Nuno Vieira, ex-presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal, em Portugal, e professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, sendo acompanhada igualmente de um especialista da Polícia Judiciária.

Cerimónia em memória das vítimas de conflitos políticos, Luanda, maio de 2021
Cerimónia em memória das vítimas de conflitos políticos, Luanda, maio de 2021Foto: Borralho Ndomba/DW

Número de corpos incerto

Os corpos encontram-se numa vala comum, a cerca de 20 quilómetros de Luanda. A equipa terá a missão de identificar através da confrontação com o material genético dos familiares, disse à agência Lusa Duarte Nuno Vieira.

Entre estes, poderão estar os corpos de Sita Valles e José Van Dunem, um jovem casal de dirigentes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que estariam envolvidos no suposto golpe de Estado de 27 de maio de 1977, e que foram mortos na repressão que se seguiu.

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Para já, não há certezas sobre o número de corpos, admitindo-se que poderão ser mais do que dez. As ossadas já foram recolhidas e encontram-se em instalações forenses onde serão colhidas as amostras para a tipagem de ADN, depois de serem estudados os ossos para individualizar os corpos.

Serão recolhidas três amostras por corpo, uma para ser processada em Angola, outra em Portugal e outra que servirá de controlo.

Sem querer avançar uma data para a conclusão dos trabalhos, Duarte Nuno Vieira declarou que os resultados serão apresentados "com a maior celeridade possível".

"Não é possível adiantar uma data, é um processo que demora o seu tempo. Pode correr tudo bem à primeira ou pode haver contaminação e ser necessário repetir as análises", apontou o médico.

Em memória das vítimas

A vala comum, na zona dos Ramiros, foi visitada no início do mês pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, que falou sobre a pretensão do Executivo em transformar o sítio num lugar de homenagem "àqueles que pereceram e foram enterrados de forma tão trágica".

Citado pelo Jornal de Angola, o também coordenador da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), fase II, referiu que o local será entregue às autoridades do Governo Provincial de Luanda e da administração local para tratamento adequado.

Francisco Queiroz reconheceu que os conflitos do 27 de maio foram um acontecimento trágico que não se pretende que volte acontecer nunca mais: "Mas era necessário termos esse momento que tem o seu caráter sensível e forte".

Foram identificadas nesta vala as ossadas de Alves Bernardo Baptista (Nito Alves), Jacob João Caetano (Monstro Imortal), Arsénio José Lourenço Mesquita (Sianouk) e Ilídio Ramalhete Gonçalves, entretanto entregues às famílias e sepultados no Cemitério Alto das Cruzes.

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