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PolíticaVenezuela

Venezuela: Quatro mortes em protestos pós-eleitorais

cvt | Reuters | DPA | AFP
30 de julho de 2024

Instabilidade pós-eleitoral na Venezuela divide a comunidade internacional. Para os Estados Unidos, reeleição de Maduro não tem credibilidade. China e Rússia felicitaram-no.

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Foram registrados mais de 180 protestos na Venezuela
Foram registados mais de 180 protestos, muitos deles culminando em confrontos entre manifestantes e polícia, como na cidade de Puerto La CruzFoto: Samir Aponte/REUTERS

De acordo com duas organizações não-governamentais, quatro pessoas foram mortas durante os protestos de segunda-feira contra a vitória eleitoral do Presidente Nicolás Maduro na Venezuela.

O Inquérito Hospitalar Nacional, uma rede que monitoriza as crises nos hospitais do país, registou dois mortos no estado de Aragua e um na capital Caracas. Segundo a organização, 44 pessoas ficaram feridas. Na segunda-feira, a ONG Foro Penal registou um morto no estado de Yaracuy, no noroeste do país.

Os protestos eclodiram na Venezuela depois de a comissão eleitoral ter declarado, na segunda-feira (29.07), que o Presidente Nicolás Maduro foi eleito para um terceiro mandato com 51% dos votos.

A oposição, que considera que o órgão eleitoral está nas mãos de um governo ditatorial, disse que 73% dos votos a que tem acesso mostram que o seu candidato Edmundo González teve mais do dobro dos votos de Maduro.

"Agitadores violentos"

Muitos venezuelanos protestaram a bater em panelas e frigideiras. Outros bloquearam estradas, acenderam fogueiras e lançaram bombas de gasolina contra a polícia, à medida que os protestos proliferavam, incluindo perto do palácio presidencial de Miraflores, em Caracas.

Em Caracas e na cidade de Maracay, a polícia, munida de escudos e bastões, disparou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes.

O Governo chama-lhes agitadores violentos: "Já vimos este filme antes", disse Maduro a partir do palácio presidencial, prometendo que as forças de segurança manteriam a paz.

Protestos na Venezuela
"Queremos ser livres na Venezuela. Queremos que as nossas famílias regressem para cá", disse um manifestante Foto: Leonardo Fernandez Viloria/REUTERS

"Temos acompanhado todos os atos de violência promovidos pela extrema-direita", acrescentou.

O Observatório Venezuelano de Conflitos, um grupo de monitorização local, afirmou ter registado 187 protestos em 20 estados até às 18h00 de segunda-feira, com "numerosos atos de repressão e violência" levados a cabo por grupos paramilitares e forças de segurança.

Mais instabilidade?

Maduro, um antigo líder sindical e ministro dos Negócios Estrangeiros, foi eleito após a morte de Hugo Chávez, em 2013, e foi reeleito em 2018. A oposição disse ter havido fraude em ambos os pleitos.

Enquanto Presidente, o país viveu um colapso económico, assistiu a migração em massa e à deterioração das relações com o Ocidente, incluindo sanções dos EUA e da União Europeia, que prejudicaram uma indústria petrolífera já em dificuldades.

O seu ministro da Defesa, Vladimir Padrino, advertiu contra a possibilidade de uma repetição das "situações terríveis de 2014, 2017 e 2019", quando ondas de protestos antigovernamentais causaram centenas de mortes, mas não conseguiram desalojar Maduro do poder.

Comunidade internacional dividida

Os institutos de sondagens independentes consideraram a vitória de Maduro implausível, enquanto os governos de Washington e de grande parte da América Latina questionaram os resultados e pediram um apuramento completo dos votos.

A contestada eleição presidencial venezuelana será tema de um telefonema previsto para hoje entre o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o seu homólogo norte-americano, Joe Biden.

De acordo com fontes brasileiras ouvidas pela agência Reuters, o telefonema foi agendado a pedido do Governo dos Estados Unidos, que busca a avaliação do Brasil sobre os resultados das eleições na Venezuela. Na segunda-feira, o Governo brasileiro saudou o que chamou de um dia de eleição "pacífico" na Venezuela e disse estar a monitorizar de perto a contagem dos votos, esperando que fosse divulgada pelas autoridades eleitorais para garantir a legitimidade dos resultados.

A ONU já não é o que era?

Entretanto, a administração Biden afirmou que a manipulação eleitoral retirou "qualquer credibilidade" à vitória de Maduro na reeleição e Washington deixou a porta aberta a novas sanções.

Hoje, o departamento de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) disse não poder reconhecer os resultados proclamados pelo Conselho Eleitoral Nacional da Venezuela e anunciou uma reunião extraordinária para discutir o tema na quarta-feira (31.07). "Nem mesmo [Maduro] acredita na fraude eleitoral que ele está comemorando", disse o Presidente da Argentina, Javier Milei.

O Peru ordenou que os diplomatas venezuelanos deixassem o país em 72 horas, citando "decisões graves e arbitrárias tomadas hoje pelo regime venezuelano".

Aliados

Entretanto, aliados como Rússia, China e nações latino-americanas lideradas pela esquerda apoiaram Maduro. 

Na segunda-feira, o Presidente russo Vladimir Putin felicitou-o pela vitória eleitoral. Hoje, o Kremlin fez um apelo para que a oposição venezuelana aceite a derrota nas eleições presidenciais de domingo e parabenize Nicolás Maduro pela vitória nas urnas.

"A China irá, como sempre, apoiar firmemente os esforços da Venezuela para salvaguardar a soberania nacional, a dignidade nacional e a estabilidade social, e apoiar firmemente a justa causa da Venezuela de se opor à interferência externa", disse o Presidente Xi Jinping numa mensagem de felicitações.

Impasse permanece

A líder da oposição venezuelana, Maria Corina Machado, que foi impedida de concorrer ao escrutínio mas liderou a campanha de González, apelou a marchas nesta terça-feira (30.07).

O Governo também está a planear comícios pró-Maduro, com muitos venezuelanos a temerem um novo surto de violência e derramamento de sangue.

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