1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

UNITA quer lei que trave repressão dos protestos em Angola

25 de maio de 2023

Iniciativa parlamentar da UNITA quer acabar com os constantes impedimentos de protestos em Angola. Sociedade civil duvida que o diploma proposto pelo maior partido da oposição seja aprovado.

https://p.dw.com/p/4Rn7d
Foto de arquivoFoto: António Domingos/DW

O Parlamento angolano debate esta quinta-feira (25.05), na generalidade, um projeto de lei sobre a liberdade de reunião e de manifestação. É uma iniciativa parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola  (UNITA), que quer pôr um ponto final à repressão de protestos em Angola. No projeto de lei, a que a DW teve acesso, a UNITA propõe que as autoridades só possam impedir reuniões ou manifestações "que decorram em lugares públicos quando estas se afastem da sua finalidade pela prática de atos contrários à lei ou à moral". A lei atual prevê mais exceções.

Além disso, o projeto de lei confirma algo já previsto na lei em vigor desde 1991 – para fazer um protesto, basta comunicar às autoridades com alguma antecedência. Não é preciso autorização.

Mesmo assim, muitos manifestantes têm sido reprimidos, alegadamente por falta de autorização.

Angola Ilídio Manuel, Journalist
Ilídio Manuel, analista políticoFoto: Borralho Ndomba/DW

"O que temos vindo a assistir é que há um silêncio tumular por parte das autoridades governamentais quando estas são previamente comunicadas da realização de manifestações. Elas não dizem nem sim, nem não", comenta o analista político Ilídio Manuel.

Má interpretação da lei?       

A polémica sobre o impedimento de realização de manifestações tem que ver com a interpretação da lei, diz Ilídio Manuel.

"Melhor do que ninguém para fazer a interpretação dessa lei deve ser a própria Assembleia Nacional. Acredito que o que a UNITA pretende é justamente isto, que se conforme, portanto, aquilo que está no papel, para que seja observado no terreno", acrescenta.

Vários ativistas ouvidos pela DW duvidam que o diploma da UNITA seja aprovado.

O diretor executivo da organização não governamental OMUNGA, João Malavindele, defende, por outro lado, que é preciso envolver mais pessoas na discussão.

 João Malavindele, diretor executivo da OMUNGA
João Malavindele, diretor executivo da organização não governamental OMUNGAFoto: Borralho Ndomba/DW

"É preciso que esta nova lei clarifique a relação entre os manifestantes, os organizadores e as autoridades, porque, muitas vezes, os organizadores informam as autoridades, mas depois surgem as famosas ordens superiores, que às vezes orientam a não realização de uma manifestação", diz.

Responsabilizar o Estado

João Malavindele defende, por exemplo, que uma nova lei deveria prever uma cláusula para responsabilizar o Estado sempre que o direito à manifestação seja violado.

"Se o Estado sentisse um pouco o peso das atrocidades que têm sido cometidas pelos funcionários públicos, obrigaria a tomar medidas cautelosas quando estiver diante de uma solicitação de manifestação. Quando dizemos pedido não é esperar que alguém autorize", opina.

As autoridades exigem aos promotores das manifestações a apresentação de dados pessoais, como nome, endereço das residências e até a profissão que exercem. O vice-presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Joaquim Lutambi, espera que a nova lei acabe com estas obrigações.

"O direito de manifestação faz parte dos chamados direitos fundamentais. Então, devemos confirmar a lei. Vamos esperar que haja elevação política dos parlamentares e que aprovem o projeto de lei", aguarda.