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Moçambique: Falta material cirúrgico em Gaza

Carlos Matsinhe (Xai-Xai)
16 de março de 2022

Utentes do Hospital Provincial de Xai-Xai queixam-se da falta de materiais médico-cirúrgicos. Doentes são obrigados a comprar seringas e cateteres para serem tratados. Mas autoridades afirmam que o estoque foi reforçado.

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Mosambik Krankenhaus
Foto: DW/C. Matsinhe

João Bota, residente da cidade de Xai-Xai, capital da província de Gaza, conta que teve um familiar internado recentemente na maior unidade sanitária da província. Mas ficou espantado quando lhe pediram para ir comprar seringas numa farmácia privada para a análise de sangue do seu parente.

"Custa a crer que você vai ao hospital, precisa fazer análise de sangue e precisa de agulha, tens que descer à farmácia 24/24 e comprar. O hospital provincial não tem uma seringa. Sinceramente eu não sei o que é faz o diretor provincial ou o Ministério da Saúde", lamenta. 

Uma cidadã, que prefere manter o anonimato, diz que, além da falta de material médico-cirúrgico, os profissionais de saúde do Hospital Provincial de Xai-Xai atendem mal aos doentes.

Explica que há três semanas não consegue atendimento porque o seu médico tem urgências na clínica privada onde também trabalha. E acrescenta que denunciar profissionais que atendem mal e ou que fazem cobranças ilícitas é colocar em perigo a sua própria vida.

"Se você vai denunciar, aí mesmo escrevem o teu nome. Quando dizem que o médico vai atender urgências na clínica, isso é maneira deles tentarem nos conquistar, para irmos marcar consultas nas clínicas", conta.

Utentes queixam-se de falta de seringas e cateteres
Utentes queixam-se de falta de seringas e cateteresFoto: Jody Amiet/AFP/Getty Images

Há estoque ou não?

A paciente queixa-se ainda de sucessivos adiamentos: "Fui marcada para o dia 28, marcaram para dia 3, voltaram a marcar para o dia 10 e depois marcaram para o dia 15."

O médico chefe do hospital explica que os estoques dos materiais médico-cirúrgicos foram reforçados. E promete que o setor vai conversar com os profissionais para entender as razões das queixas dos utentes.

"Temos seringas, algálias, mas vamos ter que sentar com os colegas para perceber as reais dificuldades. Nós recebemos um reforço, temos promessas de mais por causa destas campanhas para diminuir a lista de espera dos nossos pacientes, por causa vagas de Covid-19 do ano passado", esclarece.

Denúncia é a solução

Por outro lado, o médico Sérgio João admite que alguns profissionais atendem mal os doentes. E considera as denúncias uma saída para travar os problemas.

As queixas de mau atendimento hospitalar são antigas e generalizadas em Moçambique
As queixas de mau atendimento hospitalar são antigas e generalizadas em MoçambiqueFoto: DW/A. Zacarias

"Essas queixas poderão ser eventualmente espelho de alguma maçã podre que nós temos. Digo que fui mal atendido na rádio, televisão, mas não disse quem me atendeu o que está acontecer", considera. 

E, por isso, pede um passo em frente: "Agora não estamos efetivamente a denunciar, só estamos a reclamar e nós não vamos conseguir resolver este problema, porque eu não vou conseguir dizer: você anda a atender mal o colega, vai-me pedir provas de que eu atendo mal!"

Segundo o médico, além de denunciar nos gabinetes de atendimento aos utentes no Hospital Provincial de Xai-Xai e em todos os centros de saúde, as queixas podem ser feitas num livro de reclamações. Garante ainda que nunca serão confrontados - o denunciante e o denunciado.

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