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Tiroteios: "É lamentável ver a Guiné-Bissau nesta situação"

Iancuba Dansó (Bissau)
1 de dezembro de 2023

Depois de uma manhã apreensiva ao som dos tiros, a calma regressou à capital da Guiné-Bissau. Sociedade civil condena o tiroteio de hoje.

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Ruas da capital guineense ficaram quase desertas após tiroteios
Ruas de Bissau ficaram hoje praticamente desertasFoto: Alison Cabral/DW

Bissau acordou ao som de tiros de armas automáticas, passava pouco da 01h00.

Houve um tiroteio entre membros da Guarda Nacional (GN) e militares após a detenção do ministro da Economia e Finanças, Suleimane Seidi, e do secretário de Estado do Tesouro, António Monteiro.

Segundo um comunicado do Estado-Maior General das Forças Armadas, elementos da GN, o braço armado do Ministério do Interior, foram buscar os governantes às celas: "Um grupo de homens da Brigada da Intervenção e Reserva (BIR), chefiado pelo seu comandante, Victor Tchongo, assaltou os estabelecimentos da Polícia Judiciária e libertou as pessoas que estavam a ser ouvidas".

O Estado-Maior explica na nota assinada pelo vice-chefe, Mamadu Turé, que, "as forças republicanas levantaram-se e repuseram a ordem constitucional". 

Pelo menos, dois mortos

O tiroteio entre os membros da Guarda Nacional e os militares demorou longas horas. O comandante da Guarda Nacional, Victor Tchongo, e alguns elementos da corporação foram, entretanto, detidos, enquanto o ministro da Economia e Finanças e o secretário de Estado do Tesouro foram reconduzidos às celas.

Os dois governantes foram ouvidos ontem, durante mais de cinco horas, pelo Ministério Público, no âmbito de um processo relacionado com o pagamento de uma dívida de 10 milhões de euros a onze empresas nacionais.

Nervosismo em Bissau após tiroteios

A Polícia Militar disse esta tarde que, pelo menos, um agente da Guarda Nacional e um militar morreram no tiroteio.

Esta sexta-feira, os bancos comerciais, as escolas e os mercados fecharam as portas.

"Situação voltou à normalidade"

Depois de horas de incerteza e apreensão na capital guineense, o Estado-Maior garantiu que a situação está agora sob controlo. 

"O Estado-Maior-General das Forças Armadas informa a população em geral que a situação voltou à normalidade. Sendo assim, pede a calma dos populares e que os mercados e os estabelecimentos comerciais possam continuar as suas atividades normais".

Numa primeira reação, Fodé Carambá Sanhá, presidente do Movimento Nacional da Sociedade Civil para Paz, Democracia e Desenvolvimento, lamentou o sucedido: "É lamentável ver o país nesta situação e, em particular, ver os citadinos de Bissau muito apavorados."

O Governo não se pronunciou, para já, sobre o que aconteceu.

Fodé Carambá Sanhá, presidente do Movimento Nacional da Sociedade Civil para Paz, Democracia e Desenvolvimento
Fodé Carambá Sanhá: "É lamentável ver o país nesta situação"Foto: DW/B. Darame

Sociedade preocupada

O analista político Augusto Nansambé defende que o primeiro-ministro, Geraldo Martins, deve falar urgentemente ao país. Ainda assim, seria necessário primeiro "ter toda a informação sobre o que aconteceu", acrescenta.

"À partida, tem de reunir o Governo e as entidades implicadas [no caso], para ter toda a informação e poder comunicar ao país".

Augusto Nansambé não considera que estes acontecimentos possam pôr em risco a continuidade do Governo. "Pode haver um ou outro membro do Governo responsável por uma determinada área [a ser chamado], neste caso os ministros da Defesa e do Interior, mas aquilo não tem nada a ver com o futuro do Governo", comenta.

"O Governo continua como está, até porque está a mitigar as dificuldades do país e as medidas que estão a ser tomadas [pelo Executivo] são boas."

À DW África, o presidente em exercício da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Bubacar Turé, frisa, ainda assim, que está a acompanhar a situação em Bissau com bastante preocupação.

"Este triste episódio vem abalar um ambiente de acalmia e tranquilidade a que o país vinha a assistir nos últimos meses", após "eleições legislativas consideradas livres, transparentes e justas", em junho, afirmou Turé.

O jornalista Braima Darame contribuiu para este artigo.