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Que imagem de África têm os alemães?

Ferro de Gouveia,Helena9 de novembro de 2012

Por toda Alemanha realizam-se eventos dedicados ao tema África. Filmes ou workshops de música. Muitos dinamizadores dessas iniciativas são africanos que tem em comum o objectivo de dar a conhecer o continente africano.

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Uma sala de ensaios num pátio de Bona. As paredes são finas. Ouve-se uma guitarra elétrica. Seis mulheres vieram para a aula de percussão. Formam um meio círculo em torno do professor senegalês. A tshirt dele ostenta as cores nacionais. Hoje, ensaiam uma nova peça, que é difícil, até mesmo para percussionistas experientes. O professor tenta motivá-las.

A sua mensagem? sejam positivas, espontâneas, autoconfiantes. Uma participante inclina-se e sussurra satisfeita para os vizinhos: esta é a mentalidade africana. Mas o que realmente significa a África para os alemães? " Percussão e  dança." "O mundo animal, o que é obviamente o mais importante! Os Parques Nacionais", dizem algumas.

Um pedaço de Àfrica sob céu alemão

Düsseldorf, na margem do Reno. Está a chover torrencialmente. A associação Beto convidou para o festival anual de África. Um pedaço da África sob o cinzento céu alemão. Nos pavilhões coloridos vendedores expõem artesanato, roupas tradicionais, máscaras, instrumentos e alimentos. Os visitantes passeiam pelo bazar africano, admiram e compram os produtos expostos. Alemães e africanos misturam-se.

Franklin Mikangou, que organizou este festival, é  natural do Congo e vive há 30 anos na Alemanha. Como iniciador da associação Beto, em Düsseldorf, ele tem-se dedicado à promoção da cultura africana na Alemanha. Há duas décadas que organiza, por toda a Alemanha, festivais africanos. "Os festivais africanos visam o entendimento entre os povos. O encontro entre a África e a Europa, o encontro entre as pessoas. Um encontro de culturas é um elo de ligação. Por outro lado, também se promovem os produtos africanos "

As pessoas estão agora mais disponíveis para África, diz Mikangou. Ele gostaria de  ver mais discussões políticas nos seus festivais. "Mas é  uma questão de dinheiro. Convidar palestrantes e mostrar filmes implica outros recursos financeiros. Desta vez mostrámos também um filme e realizamos um painel de discussão em Düsseldorf, porque tivemos  apoio da cidade".

África colorida versus África real

O tema do filme mostrado em Düsseldorf é o minério raro coltan  e a pergunta colocada para discussão: "o que tem a ver com o meu telefone a guerra no Congo?"

Existe uma relação directa entre a guerra no Congo e as melhorias técnicas nos telemóveis, Ipods e consolas de jogos. Todos estes aparelhos usam o metal raro tântalo, que é obtido através do coltan. Um dos metais indispensáveis à era digital que é extraído das minas congolesas em condições desumanas. Muitos rebeldes e grupos armados na África Central financiam as suas armas com a venda deste minério, de tal forma que até se fala no "coltan de sangue".

Mikangou pretendia com a exibição deste filme despertar a atenção para a situação no Congo. Mas, muitos visitantes só se interessam pelas imagens coloridas de África, e não têm uma imagem diferenciada do continente, diz  Alex Moussa Sawadogo do Burkina Faso. "Este bazar, máscaras, carnaval. Os nossos filhos não têm nada a ver com isso. Há pessoas que o fazem e está bem. Mas, agora temos de mostrar o lado atual e moderno da África ".

O filme africano como meio privilegiado de dar a conhecer o continente

Sawadogo, é director do Festival de Cinema Africano Afrikamera, que se realiza há já cinco anos em Berlim. Uma vez por ano, durante uma semana são mostrados na capital alemã filmes africanos. É importante, enfatiza Sawadogo, a autenticidade do filme. Eles são feitos por realizadores africanos e tratam problemas da vida cotidiana da população local. Para ele o importante é sobretudo transmitir o lado moderno da África. "O lado bonito", como ele o denomina. "A voz do moderno. Nem sempre na aldeia, mas também na cidade. Nem sempre no bosque, mas na vida moderna ".

De acordo com Sawadogo a resposta aos filmes é muito boa. O festival está sempre lotado de estudantes, professores e outras pessoas interessadas em África. "Gostaria apenas de dizer que os filmes são um dos melhores meios de comunicação, permitem  alcançar as pessoas facilmente. Não apenas pelas imagens, mas pela música e o estilo de vida. Isso significa que o público tem a oportunidade de ficar a conhecer várias formas de arte". E ele promete continuar por muito tempo. Até ao primeiro filme africano passar num cinema  comercial.

Autor: Ndella Ba/Helena Ferro de Gouveia
Edição: António Rocha