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PolíticaEstados Unidos

Os 5 temas em destaque nas eleições dos EUA

Carla Bleiker
3 de novembro de 2020

Norte-americanos vão às urnas para escolher o seu próximo Presidente. A eleição é vista como um referendo à prestação de Donald Trump nos últimos quatro anos.

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Foto: Brian Snyder/Reuters

Coronavírus

No início do ano, poucos sabiam o que era um coronavírus. Agora, a pandemia da Covid-19 é tema de conversa em todo o lado e o debate político em Washington, D.C. gravita em torno deste assunto.

"É provavelmente o tópico mais importante nestas eleições", afirma à DW a politóloga Laura Merrifield Wilson, da Universidade de Indianapolis.

Nos Estados Unidos, mais de 220 mil pessoas morreram infetadas com o novo coronavírus. O país contabiliza mais de 8,3 milhões de casos de Covid-19. A pandemia teve um forte impacto na economia. Desde a Grande Depressão que os números do desemprego não eram tão altos. O próprio Presidente Donald Trump contraiu o vírus, mas isso não o impediu de voltar à campanha eleitoral menos de duas semanas depois. Usar máscara, uma simples medida recomendada pelos especialistas para travar a transmissão do coronavírus, tornou-se tema de polémica.

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Será que Donald Trump tem feito um bom trabalho no combate à pandemia? A resposta dos norte-americanos varia dependendo da pessoa a quem se fizer a pergunta.

"Esta eleição transformou-se numa espécie de referendo em torno dessa questão", diz Ashwin Vasan, médico e professor assistente no Centro Médico da Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Votar em Donald Trump seria aprovar o plano de resposta à pandemia do Presidente e da sua administração.

Os republicanos dizem que, se Trump não tivesse agido como agiu, a situação atual poderia ser ainda pior. Mas os democratas contra-argumentam, dizendo que milhares de vidas poderiam ter sido salvas se a administração de Donald Trump tivesse imposto mais restrições em todos os estados e seguido os conselhos dos especialistas em saúde pública.

Cuidados de saúde

Outro tema crucial nestas eleições tem a ver com a prestação de cuidados de saúde no país. Isso ficou claro durante a audição de confirmação da juíza Amy Coney Barrett, a escolha de Donald Trump para o lugar no Supremo Tribunal norte-americano que ficou vago depois da morte da juíza Ruth Bader Ginsburg. Logo após as eleições, o Supremo deverá decidir sobre a abolição do Affordable Care Act (a chamada lei "Obamacare") – algo que Trump tem tentado fazer desde que chegou à Casa Branca. Na audição, Coney Barrett, que criticou a lei várias vezes no passado, não disse se era a favor da abolição.

Nas eleições desta terça-feira (03.11), a popularidade do "Obamacare" também deverá ser referendada.

Em tempos de pandemia, esta questão tornou-se ainda mais relevante: "A falta de um seguro de saúde tem feito com que muitos norte-americanos tenham dificuldades em obter cuidados, além das altas despesas médicas por causa dos tratamentos. Isto, sem falar nos efeitos de longo prazo da Covid-19, sobre os quais ainda sabemos muito pouco", lembra o médico Ashwin Vasan.

Arbeitslosigkeit in den USA
Pandemia obrigou muitas lojas norte-americanas a fechar as portasFoto: AFP/S. Herald

Economia

"A economia é uma questão fundamental para os eleitores norte-americanos, sobretudo quando o desempenho não está a ser bom", comenta a politóloga Laura Merrifield Wilson.

E não está. Antes da pandemia, Donald Trump podia olhar orgulhar-se do facto de os EUA terem uma economia robusta e saudável. Foi assim nos seus primeiros três anos de mandato. Mas, a partir do confinamento em março, muitas pequenas empresas tiveram de fechar as portas. Em meados de abril, mais de 23 milhões de norte-americanos não tinham emprego. No espaço de dois meses, a taxa de desemprego subiu de 3,5% para 14,7%.

É uma má notícia para o Presidente Trump, que gostava sempre de apontar para o bom desempenho da economia. Agora, com muitos norte-americanos a terem dificuldades em sobreviver ou para manter as casas, Trump tenta convencer os eleitores de que é o homem ideal para meter a economia nos eixos. Afinal, a crise apareceu de súbito e teria afetado qualquer administração, fosse ela republicana ou democrata.

Para o candidato democrata Joe Biden, é mais fácil – Biden acusa Trump de gerir mal o país durante a pandemia e promete avançar com um plano de recuperação dedicado especialmente aos assalariados.

Numa situação como esta, refere a politóloga Merrifield Wilson, o Presidente em exercídio fica geralmente numa posição mais difícil em relação ao adversário, "porque foi quem esteve no poder e foi responsável pelas políticas".

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Grande parte dos protestos do movimento "Black Lives Matter" foi pacífica. No entanto, houve vários episódios de violênciaFoto: AP Photo/Marcio Jose Sanchez

Tensões raciais

Em maio, a morte de George Floyd sob custódia policial, em Mineápolis, fez aumentar o apoio ao movimento Black Lives Matter em todo o país. As tensões raciais sempre fizeram parte da história dos EUA desde que os primeiros escravos chegaram à costa da Nova Inglaterra, recorda Wilson, mas os últimos meses foram "certamente um momento histórico".

Norte-americanos negros e brancos têm protestado não só contra a violência policial, como também contra o "racismo sistémico" nos EUA, pedindo uma reforma profunda das forças de segurança – há quem peça inclusive que o Estado gaste menos dinheiro com a polícia.

Mas os críticos do movimento, sobretudo conservadores, apontam em particular para os episódios de violência durante protestos em várias cidades. Donald Trump disse que as palavras "Black Lives Matter" são um "símbolo de ódio" e prometeu restaurar a segurança nas ruas.

Isto enfurece os apoiantes do movimento. No entanto, as declarações de Trump são recebidas com ovações pelo seu eleitorado, comenta Wilson.

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"Donald Trump tenta mobilizar os seus próprios eleitores, os eleitores dentro do Partido Republicano, e também alguns independentes que pendem para a direita", diz a politóloga. "Os tópicos, as promessas, as políticas – tudo o que o Presidente Trump faz neste sentido visa realmente" os conservadores.

Os democratas criticam Trump por atirar lenha para a fogueira das tensões raciais em vez de fazer o que um Presidente deveria fazer: unir o país.

Aborto

O aborto é outra "questão fundamental" nas eleições deste ano, afirma Wilson. É um tema importante para uma grande fatia do eleitorado de Trump, os evangélicos brancos. O grupo representa apenas 15% da população norte-americana, mas costuma acorrer em massa às urnas. Em 2016, mais de um quarto dos eleitores eram evangélicos brancos, de acordo com sondagens à boca das urnas.

Muitos destes eleitores conservadores têm uma visão diametralmente oposta à de Donald Trump, que já se casou e divorciou várias vezes, por exemplo. No entanto, como referia um post do grupo "Estudantes pela Vida" no Instagram: "Odiar Trump? Odiamos o aborto ainda mais". Votar em Trump é, para estes eleitores, votar contra o aborto. Trump foi o primeiro Presidente norte-americano em exercício a participar na "Marcha pela vida", anti-aborto.

Para outros eleitores, este é precisamente um motivo para não votar em Donald Trump. O aborto "também é um tema importante para alguns eleitores democratas", acrescenta Wilson. "Há um forte movimento pró-aborto no seio do Partido Democrata."

Estes eleitores olham para a escolha da juíza Amy Coney como algo que pode pôr em causa a decisão no caso Roe vs. Wade, há 47 anos, que abriu um precedente no país e permite às mulheres interromperem voluntariamente a gravidez de forma legal e segura.

Para os democratas, votar em Biden é também uma forma de garantir que, no futuro, os juízes do Supremo possam ser escolhidos por ele.

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