Moçambique: as pedrinhas de Chimoio
É uma tradição forçada pela necessidade: os habitantes mais desfavorecidos de Chimoio aproveitam as obras na EN6 para apanhar pedras que, vendidas, são ajuda preciosa ou, muitas vezes, única fonte de sobrevivência.
As pedras que valem a vida
É com estas pedrinhas que alguns moçambicanos sobrevivem, em Manica. Os populares madrugam para se deslocarem ao local visando retira-las e amontoá-las ao longo da via em construção. A rotina é diária porque quem consegue retirar maiores quantidades consegue também maior valor. Uma carrada ou uma tonelada e meia chega a custar mil e quinhentos meticais ( cerca de 20 euros).
As obras não podem terminar
Os populares que vivem da atividade de retirar as pedrinhas para a sua sustentabilidade no quotidiano ao longo da EN6 em Manica, estão a torcer pela demora do término da obra para continuarem a ter o negócio. Eles dizem que caso termine não terão mais outra atividade que lhes possibilite a ter dinheiro.
Sustento dos filhos e olho no investimento
A adolescente na imagem tem 18 anos de idade e dois filhos. Também se dedica à recolha de areia grossa para a venda visando sustentar os seus filhos, uma vez que o seu marido nada faz. Ela disse estar a fazer o trabalho para obter fundos, visando investir em negócio de venda de tomate em mercados.
Exclusivamente à mão
É uma tarefa extra, quando aparece um cliente que necessita de mais de uma tonelada de pedrinhas. Elas buscam com baldes para colocá-las no carro. Não utilizam pás, enxadas nem picareta, para tornar mais fácil o trabalho de baldeamento das pedrinhas.
Pedra a pedra
Na vida nem tudo aparece sem sacrifício. Mesmo apanhando as pedrinhas ao longo da via, levam muito tempo para obter 20 quilogramas. Na imagem, pedra a pedra, as envolvidas em actividades de recolha vão enchendo o balde de 10 quilogramas. Acabam amontoando toneladas de pedrinhas, cujo produto da venda serve para se alimentarem.
Único sustento da casa
Duas senhoras uniram-se para apanhar as pedrinhas, como forma de apoiar os seus maridos que também não trabalham. Disseram ter vendido mais de três toneladas desde que ingressaram naquela atividade de apanhar pedrinhas, amontoa-las e vende-las. Com a venda já obtiveram cinco mil meticais (cerca de 55 euros). Confessaram ter comprado alguns utensílios domésticos, sapatos para filhos e comida.
Fonte de rendimento, fonte de alimentação
Algumas mães e pais obrigam os seus filhos a deambularem pela via à procura das pedrinhas, porque quanto maior for o número de agregados na recolha das pedrinhas, maior é o produto. Virgínia Amossua (na imagem) vai com a mãe para aquele local, para reforçar a comida em casa.
Pedras por livros
A adolescente na imagem chama-se Laura Vicente Mbanzo. Ela diz estar a apanhar pedrinhas ao longo da berma da EN6 para vender e comprar material escolar, visto que seus pais não trabalham e a mãe obrigou-a a esta atividade.
Horas de trabalho
Pela escassez das pedrinhas nas bermas da via, já se leva horas para encher uma bacia de 10 quilogramas. É dolorosa a atividade que os populares da província de Manica vêm desenvolvendo.
Enquanto os carros passam...
Anabela Sabão, 48 anos, retirando as pedrinhas da placa central da estrada nacional 6, na cidade de Chimoio. A pedra que está sendo retirada tem como destino a venda. Anabela alega não ter condições para se alimentar em casa.
Falta de emprego obriga ao sacrifício
Elisa Tomon alega praticar a atividade pela falta de emprego. Diz ter a 12ª classe, mas pela ausência de trabalho viu-se obrigada a fazer parte da atividade de recolha de pedrinhas ao longo da berma da EN6.
Local de recolha, local de comércio
Ao longo da EN6, não constituem novidade os entulhos de pedras colocadas em sacos. As pessoas interessadas contactam os proprietários que ficam bem próximo das amostras.