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João Lourenço em Portugal: "O irritante desapareceu"

22 de novembro de 2018

Visita do Presidente angolano marca "novo e promissor ciclo", segundo o homólogo português. Em Lisboa, "JLo" não esqueceu Luanda: garantiu que não vai recuar no combate à corrupção, apesar das "picadelas" dos visados.

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Angolanischer Präsident Joao Lourenco mit Portugals Präsident Marcelo Rebelo de Sousa
Foto: Reuters/R. Marchante

Numa conferência de imprensa ao lado do seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, em Lisboa, o chefe de Estado angolano, João Lourenço, frisou que o seu Executivo está determinado a enfrentar "o fogo" e evitar que se transforme num "grande incêndio", respondendo às perguntas dos jornalistas sobre as consequências do repatriamento de capitais em Angola.

O Presidente angolano evitou, no entanto, comentar o prenúncio de uma eventual crise política no seu país na sequência das reformas em curso, deixando claro que não vai comentar questões de ordem interna numa altura em que se encontra fora do país. As questões da imprensa surgem na sequência das recentes declarações da empresária Isabel dos Santos, que alertou para a atual situação de tensão que poderá juntar-se à crise económica.

O chefe de Estado angolano optou por advertir que o seu Governo "não está a brincar com o fogo", mostrando-se determinado a levar por diante o compromisso de combate à corrupção.

Portugal Staatsbesuch angolanischer Präsident Joao Lourenco
João Lourenço foi recebido com honras militares em Lisboa.Foto: DW/J. Carlos

Pronto para o fogo e para as picadas

"O fogo queima, como sabemos todos nós. O importante é mantê-lo sob controlo, não deixar que ele se alastre e acabe por se transformar num grande incêndio (…). Quando nos propusemos a combater a corrupção em Angola, tínhamos noção de que precisávamos de ter muita coragem", afirmou João Lourenço, durante a conferência de imprensa, após ter sido recebido com honras militares pelo Presidente português junto ao Mosteiro dos Jerónimos.

"Sabíamos que estávamos a mexer no ninho do marimbondo. Para quem não sabe, marimbondo é, numa das nossas língua nacionais, a designação de uma determinada espécie de vespa. E até se costuma dizer que a picada da vespa é mais dolorosa que a picada da abelha. Não é por isso que vamos recuar", garantiu.

João Lourenço frisou que é preciso destruir esse ninho do maribondo. E mostrou-se implacável quanto às reformas em curso, uma vez que Angola precisa de restaurar a sua imagem e credibilidade para atrair investimento direto estrangeiro.

Portugal Staatsbesuch angolanischer Präsident Joao Lourenco
João Lourenço, Marcelo Rebelo de Sousa e Ana Dias Lourenço no arranque da visita do chefe de Estado angolano a Portugal.Foto: DW/J. Carlos

Um novo ciclo

Este é, aliás, um dos objetivos centrais desta visita oficial de três dias a Portugal, depois de um longo período de crise político-diplomática que afetou as relações bilaterais.

"O irritante desapareceu em definitivo. Não ficam rancores. Antes pelo contrário, o que é passado é passado. Eu acabei de dizer aqui que me desloco a Portugal a pensar no presente e no futuro das nossas relações, presente e futuro que pode ser muito risonho dependente apenas da nossa vontade”,  assegurou o chefe de Estado angolano, que foi condecorado pelo seu homólogo com o Grande Colar Ordem Infante D. Henrique. "Viemos falar do presente e do futuro. Viemos corrigir algo que nos parecia anormal (…), porque os amigos querem-se juntos".

Na conferência de imprensa conjunta, no Palácio de Belém, o anfitrião, Marcelo Rebelo de Sousa, falou de "um novo e promissor ciclo" - que pôs fim ao azedume nas relações políticas luso-angolanas. Ultrapassadas as suspeições, Marcelo preferiu realçar a cumplicidade entre os dois respetivos povos e países com elogios a João Lourenço.

"Desejo de mudança, renovação geracional, revisão de métodos, equilíbrio financeiro, diversificação e crescimento económico, afirmação do Estado de Direito, combate à corrupção, projeção de futuro como potência regional no mundo. Tudo assinalado por uma personalidade sensível ao que mudou e muda em torno de todos nós e que conhece bem Portugal e os portugueses. Que sabe onde, quando e como pode fazer pontes de mútuo benefício", disse Rebelo de Sousa.

Portugal Staatsbesuch angolanischer Präsident Joao Lourenco
Presidente angolano e homólogo português conversam à chegada de João Lourenço.Foto: DW/J. Carlos

Acordos passam pelo repatriamento

Neste âmbito, o chefe de Estado português destacou uma das dimensões da cooperação entre os dois países, referindo-se aos acordos a serem rubricados esta sexta-feira, na cidade do Porto, nas áreas da educação, saúde, cultura, justiça, economia e finanças para que "sirvam necessidades concretas dos povos".

Angola conta com Lisboa para o sucesso deste novo ciclo, inclusive no plano da cooperação jurídica, visando o repatriamento de capitais ilícitos colocados nomeadamente em Portugal. A isso também se referiu o ministro angolano das Relações Exteriores, Manuel Augusto, em declarações aos jornalistas.

João Lourenço em Portugal: "O irritante desapareceu"

"Haverá um acordo assinado entre a senhora ministra da Justiça de Portugal e o senhor ministro do Interior [de Angola], que, entre outras matérias, vai tratar exatamente da cooperação no domínio da troca de informações, da investigação em matérias como o branqueamento de capitais, o financiamento ao terrorismo, etc", disse o dirigente.

"Portanto, esta é a expressão de que do ponto de vista institucional estão criadas as condições", garantiu. De acordo com analistas, Angola pode pedir o congelamento de bens adquiridos por dirigentes da elite angolana, assim como o repatriamento de capitais transferidos de forma ilícita para Portugal.

Manuel Augusto disse antes que este é um assunto interno da soberania angolana, mas admitiu ser necessária a ajuda de países como Portugal: "Queremos a ajuda e participação de todos os países, de todos os governos, de todas as instituições que possam contribuir para atingirmos os objetivos".

À tarde, João Lourenço foi recebido na Assembleia da República Portuguesa, tendo seguido depois para a Câmara Municipal de Lisboa, onde recebeu a chave da cidade.

Esta noite, com a comitiva, participa num jantar oficial no Palácio da Ajuda, antecedido de uma visita no final da tarde ao Instituto Nacional de Investigação Agrícola e Veterinária.