José Cossa nasceu e vive em Katembe há 45 anos. Está na ponte cais de Maputo, com a sua mercadoria, à espera de atravessar a baía numa pequena embarcação, conhecida pelos utentes como "mapapaia". Como muitos, acredita que a ponte não só facilitará a travessia, como vai colmatar algumas falhas daquela zona.
"Trará investidores a Katembe. Temos falta de hospitais, falta de lojas, temos falta de muita coisa. Para termos esses produtos somos obrigados a atravessar para a cidade. A ponte para mim é bem-vinda, porque trará esse intercâmbio entre pessoas que vêm de outros sítios", conta.
Também no mercado local, a conversa gira em torno das vantagens que a ponte vai trazer para os residentes. Sandra Chicuamba reside em Katembe há 15 anos e acredita que a sua região estará nas bocas de todo o mundo.
"Que a Katembe seja um lugar turístico mundial. Todo o mundo estará curioso em querer vir para cá", afirma.
O entusiasmo é tão grande, que Sandra até já tem alguns conselhos a dar a todos os residentes para atrair os turistas.
"As pessoas deverão mentalizar-se que isto já não é a Katembe de ontem, é a Katembe de hoje", diz, embora saiba que muito tem de ser feito para alcançar essa Katembe do futuro, como "pôr a Katembe limpa, mais desenvolvida".
Inauguração sem data marcada
Ainda não se sabe quando a ponte Maputo-Katembe será inaugurada. O atraso na inauguração da maior ponte suspensa de África deveu-se ao braço-de-ferro, já ultrapassado, entre o município de Maputo e os vendedores de um mercado, do lado da capital, que pediam indemnizações para sair do local.
Enquanto se aguarda pela ponte, a vida vai sendo muito difícil por causa dos custos diários da travessia. Para Manuel Paulino, que precisa de transportar material de construção, o custo para a travessia é o equivalente a 18 euros.
Será que a nova ponte trará efeitos negativos para condutores de 'chapas'?
"Não consigo ter transporte. Tenho de mandar vir um carro de Maputo para cá para poder fazer os meus trabalhos. Posso dizer que está caro. A travessia está a mil meticais [18 euros] só a ida, e a volta mais mil", queixa-se.
Manuel Paulino não tem dúvidas sobre o que será a Katembe depois da inauguração da ponte: "Acredito que aqui as coisas vão baixar e o custo de vida vai baixar para muitos", diz.
Consequências negativas?
Por outro lado, Alfredo Tembe, transportador de semicoletivo de passageiros, mostra-se pessimista. O "chapeiro", como são chamados estes trabalhadores, duvida que a vida melhore com a chegada da ponte e teme pelo seu negócio.
"Depois da ponte não sabemos o que vai acontecer, porque haverá 'chapas' que sairão da cidade a entrarem aqui na Katembe e outros que sairão daqui para a cidade".
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Do lado de Maputo
Esta parte da ponte passa por cima da zona onde se localizam muitas fábricas na baixa da capital, mais descaído para a parte ocidental. Ao fundo, vê-se o porto de Maputo. A ponte que liga Maputo a Katembe foi inaugurada no sábado, 10 de novembro de 2018. Tem cerca de três quilómetros de extensão e será a maior ponte suspensa de África.
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Até 1.200 meticais para circular na ponte
Esta é a entrada da ponte do lado da Katembe. Com a conclusão das obras, as viaturas deixarão de pagar entre quatro e doze euros pela travessia da baía de Maputo. Já a portagem da ponte custa entre 40 meticais (57 cêntimos) e 1.200 meticais (17,30 euros), anunciou a Maputo-Sul, empresa que gere a infraestrutura.
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Portagem na Katembe
Esta é a inevitável portagem do lado da Katembe. Quem sai de Maputo, encontra esta barreira para pagar pela circulação na ponte e na estrada. Os automobilistas já se queixam dos preços das portagens. A Maputo-Sul, citada pelo jornal O País, desvaloriza as queixas. Fala em falta de informação e desconhecimento do real valor da obra.
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Obras demoradas
Deste lado da Katembe, veem-se camiões que transportam materiais para o acabamento das obras. A construção da ponte teve início em 2014 e a conclusão do empreendimento sofreu vários adiamentos desde dezembro. Segundo o Governo, os atrasos resultaram de dificuldades na retirada de famílias que viviam nas proximidades da infraestrutura.
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
O pomo da discórdia
A zona que interceta com a Avenida 24 de Julho foi um dos pontos em que as obras sofreram atrasos. Foi aqui, onde passa uma rampa que dá acesso à ponte, que ocorreu uma das principais discórdias, entre os vendedores do mercado Nwakakana, a empresa Maputo-Sul e o município de Maputo.
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Famílias indemnizadas facilitam construção atempada
As famílias que viviam neste local, maioritariamente refugiadas da guerra civil em Moçambique, foram transferidas para dar lugar à construção desta secção da ponte. Aqui, as obras não atrasaram porque as famílias rapidamente foram indemnizadas e realocadas para a região de Pessene, na Moamba, ocidente da província de Maputo.
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Transporte precário
Esta embarcação transporta as viaturas que atravessam a baía de Maputo. Tem sido tortuoso para os automobilistas que vivem ou fazem negócios do lado da Katembe, pois quando esta embarcação avaria, a alternativa é um percurso de quase 100 km.
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Cais de Maputo
O cais de acesso às embarcações que fazem a travessia da baía é um local que não oferece muita segurança, pois não existem barreias de segurança ou limites para as movimentações. O mesmo para viaturas, devido à precariedade da sua estrutura.
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Cais da Katembe
Do outro lado, na Katembe, os problemas são os mesmos. A estrutura é precária, por isso, o Governo interditou a travessia na embarcação de camiões de grande tonelagem.
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Vista da Katembe para Maputo
Esta é a parte da Katembe onde a ponte atravessa. Também nesta zona (no lado esquerdo da imagem), algumas famílias tiveram de ser retiradas para dar lugar à construção da gigantesca ponte. O desenho e a construção foram responsabilidade da China Road and Bridge Corporation (CRBC), uma das maiores empresas de construção da China. O controlo de qualidade foi feito pela empresa alemã Gauff.
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
A maior de África
Esta é a parte da ponte que nos leva à cidade de Maputo, concretamente na EN-1 e na avenida 24 de Julho. Na imagem, veem-se as obras para fazer alguns acertos neste troço. Daqui pode contemplar-se a extensão da ponte.
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A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Ponte que desagua do lado da Katembe
Uma obra de grande engenharia que custou aos cofres do estado cerca de 600 milhões de euros. Veem-se na imagem as curvas as subidas e as descidas que dão outra beleza a esta mega estrutura.
Autoria: Romeu da Silva (Maputo)