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PolíticaEstados Unidos

EUA preparam-se para eleições intercalares

Carla Bleiker
7 de novembro de 2022

Os Estados Unidos vão às urnas nesta terça-feira (08.11) nas eleições intercalares. A votação pode não apenas mudar a cara do Congresso, mas também levar ao poder governadores apoiantes de Donald Trump.

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Foto: Mario Tama/Getty Images

Em 2014, a afluência às urnas nas eleições intercalares nos Estados Unidos atingiu um recorde de baixa. Menos de 42% dos eleitores apareceram para a votação que decorre entre as duas eleições presidenciais, e na qual todos os membros da Câmara dos Representantes, um terço do Senado e vários cargos de liderança estatal são eleitos. Quatro anos mais tarde, a meio do mandato do Presidente Donald Trump, esse número aumentou para 53,4%, de acordo com o Gabinete do Censo dos EUA.

Brandon Conradis, editor de campanha no site de notícias de política The Hill e antigo redator de notícias na DW, acredita que muitos eleitores também vão comparecer nas urnas para as intercalares deste 8 de novembro.

"Estamos a ver, pelos dados das primeiras votações, que a afluência às urnas será provavelmente significativamente mais elevada do que é habitual numa eleição a meio do mandato", diz Conradis à DW. "Penso que isso é indicativo das preocupações sobre onde o país se encontra neste momento". 

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O ex-Presidente Barack Obama e o atual PR, Joe Biden, durante a campanha dos democratasFoto: Patrick Semansky/AP Photo/picture alliance

Um país dividido

Os EUA em 2022 é um país altamente polarizado. As reações à revogação pelo Supremo Tribunal da decisão "Roe v. Wade", que garantiu durante meio século o direito constitucional das mulheres ao aborto a nível nacional, foi um sinal claro do abismo que separava a esquerda da direita. Os liberais ficaram horrorizados com o que viam como um direito básico a ser cerceado. Os conservadores, por seu turno, celebraram a decisão como uma grande vitória.

Esta forte polarização pode ser um condutor da participação dos eleitores nestas eleições, porque ambos os lados estão ansiosos por impedir que o outro ganhe mais espaço na corrida ao poder.

Os eleitores democratas dos estados onde as posições de liderança estão em disputa nas eleições deste ano querem ter a certeza de que não será um governador republicano a decidir se as pessoas grávidas têm ou não acesso legal ao aborto. E os eleitores republicanos, assustados com a recessão, culpam o Presidente Joe Biden pelos problemas económicos atuais e esperam que os políticos republicanos possam trazer mudanças.

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O ex-PR Donald Trump fez campanha para os republicanos nestas intercalaresFoto: Kyle Mazza/AA/picture alliance

"A inflação, as questões económicas e a criminalidade são realmente importantes [fatores] para os eleitores conservadores neste momento, para os republicanos. Estas são questões importantes que são pontos de discussão para os seus candidatos", afirma à DW Laura Merrifield Wilson, professora associada de ciências políticas na Universidade de Indianápolis. "Para os democratas, o [direito ao] aborto é o ponto mais importante".

Wilson acrescenta que os eleitores democratas também estão preocupados com o facto de, após a revogação da decisão "Roe v. Wade", o Supremo Tribunal poder analisar também outras questões sociais e talvez restringir os direitos dos homossexuais de uma forma semelhante.

Uma força entre os republicanos

Se os democratas perderem o controlo de uma ou ambas as câmaras do Congresso, isso tornaria a segunda metade do mandato de Biden significativamente mais complicada do que a primeira. A aprovação de leis sem a maioria no Congresso seria muito mais difícil.

Trump e a "América para os americanos"

Mas há uma questão para além do habitual "Quem toma a Câmara e/ou o Senado?", que torna a votação deste ano diferente de "quaisquer eleições intercalares", como diz Wilson: Vários candidatos republicanos para posições que vão desde a liderança estatal até aos lugares na Câmara e no Senado apoiam abertamente Donald Trump e as suas alegações de que as eleições de 2020 foram "roubadas" e que ele teria ganho se os resultados não tivessem sido adulterados – afirmações completamente refutadas pelas autoridades norte-americanas.

Entre os negacionistas das eleições está Kari Lake, uma apoiante de Trump que concorre ao Governo do estado do Arizona.

"Infelizmente, tivemos uma eleição roubada, e na verdade temos um Presidente ilegítimo na Casa Branca", disse Lake, citada pela emissora pública PBS durante a campanha das primárias em junho de 2022.

O candidato republicano ao secretário de estado do Arizona, Mark Finchem, também disse que não aprovava a vitória de Biden no Arizona, onde o democrata venceu por pouco Trump, facto que foi confirmado por uma recontagem.

Potencial impacto nas presidenciais de 2024

No sistema eleitoral dos EUA, é sobretudo a liderança estatal que está encarregada de organizar o processo de votação e certificar os resultados eleitorais do estado.

O Cook Political Report com Amy Walter, um boletim político não partidário que analisa as eleições nos EUA, avaliou a corrida para governador no Arizona pouco antes das eleições intercalares.

Kari Lake, republikanische Gouverneurskandidatin von Arizona
Kari Lake, candidata republicana ao Governo do ArizonaFoto: Mario Tama/Getty Images/AFP

"Lake pode ganhar, o que pode realmente ter impacto nas eleições de 2024", avalia Jessica Taylor, editora do portal Cook Political Report.

"Se, como esperamos, o ex-Presidente Trump tentar concorrer novamente [às presidenciais], e se ele tiver mais simpatizantes um alguns destes estados que possam estar dispostos a inverter os resultados ou a trabalhar para o fazer", então as coisas poderão vir a ser diferentes do que em 2020, diz Taylor.

Momento histórico para os EUA

Uma série de candidatos que não reconhecem o atual Governo dos EUA concorrem a posições de liderança. Conradis acredita que este fator contribui para as preocupações sobre as próximas intercalares.

Ele sublinha também que o país nunca viu tantos candidatos negar abertamente que o homem que atualmente se encontra na Casa Branca foi eleito de forma justa e transparente.

"Parece que nos encontramos num momento sem precedentes na história americana", conclui Conradis.

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